“Aquilo não foi uma audiência pública, foi um comunicado à população. Primeiro, marcaram para um horário proibitivo em que a maioria das pessoas está trabalhando. Segundo, quem foi não pôde se manifestar. Então, isso não é audiência pública. É um assassinato de árvores e não concordo com isso”.

A reação é do presidente da Câmara de Vereadores de Guaçui, Valmir Santiago (PP), após acompanhar a reunião convocada pela administração municipal da cidade, a 220km de Vitória, na região do Caparaó, no início da tarde desta quinta-feira (4), como sendo uma audiência pública para discutir o projeto de revitalização da praça João Acacinho, que prevê o corte de 47 das 55 árvores do local.
Durante a “audiência pública”, Valmir se manifestou (veja vídeo) do meio do público, disse que a platéia era quase toda de servidores e cobrou mais transparência da gestão. O vereador disse que o projeto “ainda está em fase de discussão” . Outros populares divulgaram vídeos por meio de aplicativos de troca de mensagem denunciando que não foi uma audiência pública, mas uma “apresentação do projeto”.
PROJETO BURLE MARX
A supressão representa mais de 90% das árvores existentes na Praça João Acacinho, em Guaçuí, na região do Caparaó, correm risco de virarem lenha, se for levado adiante o projeto de revitalização da praça, elaborado pela gestão do prefeito Marcos Luiz Jahuar (Republicano).
O projeto original da praça, toda arborizada e que guarda a história da cidade, foi feito pelo paisagista Roberto Burle Marx, conhecido e reconhecido internacionalmente, mas já sofreu interferências, segundo informações obtidas pela reportagem. Não se sabe se essas interferências contaram com a aprovação do autor do projeto.
A insistência do prefeito, antes das árvores, já gerou uma vítima, justamente o maior defensor delas: Roberto Martins, que já foi destaque estadual homenageado pela Rede Gazeta por sua militância desde quando comandava como capitão a Polícia Florestal na cidade, e passou sete anos como secretário de meio-ambiente (os quatro anos da gestão anterior e três da atual). Em choque com o prefeito, Roberto Martins pediu exoneração. Procurado, o ex-secretário não quis se manifestar, por não estar mais na função pública.

Na manhã desta quinta-feira (4), uma equipe de alunos de graduação e doutorandos do curso de Engenharia Florestal da Ufes, comandada pela professora Cristiane Moura, doutora, especialista em arborização urbana, esteve na cidade fazendo um inventário e identificando todas as árvores. O resultado do trabalho será apresentado em no máximo 90 dias.
O Conselho Municipal de Meio-Ambiente, que era presidido por Roberto Martins, não aprovou o projeto. Roberto, diante da situação, também entregou a presidência do Conselho.
NOTA DE REPÚDIO
Uma nota de repúdio ganhou rapidamente as redes sociais, sem identificação pessoal, mas tendo como signatário um grupo intititulado “Cidadãos Conscientes de Guaçuí”. A nota diz o seguinte:
“Nós, cidadãos preocupados com o meio ambiente e o bem-estar da nossa comunidade, manifestamos, veementemente, nosso repúdio ao projeto de obra de revitalização da praça projetada por Burlermax (sic), a ser executado pela prefeitura de Guaçuí-ES. A proposta de cortar várias árvores centenárias para dar lugar a tal empreendimento é não apenas preocupante, mas também alarmante.
As árvores, que há décadas adornam e embelezam nossa praça, não devem ser sacrificadas em nome de um projeto inútil. É preciso preservar nosso patrimônio natural. Além de serem testemunhas vivas da história local, essas árvores desempenham papéis essenciais na manutenção do ecossistema urbano, fornecendo sombra, filtrando o ar e contribuindo para a qualidade de vida de todos os habitantes.
É imperativo que as autoridades reconsiderem essa abordagem e adotem medidas que promovam a conservação e a valorização do meio ambiente. Propomos que busque soluções que respeitem a biodiversidade local.
Instamos a prefeitura de Guaçuí-ES a ouvir a voz da comunidade e a agir de forma responsável e sustentável. A preservação das árvores centenárias é fundamental para garantir um futuro mais verde e próspero para as gerações presentes e futuras.
Assinado, Cidadãos Conscientes de Guaçuí-ES”
O OUTRO LADO
Em Nota em seu perfil no Instagram, a prefeitura demonstrou que viu outra coisa. Veja:
As reações da população, nos comentários do post do perfil @prefeituradeguacui, foram imediatas.
Em um dos comentários, o internauta diz crer que “uma prefeitura que se importe tanto com a transparência e participação democrática deveria optar por horários mais acessíveis para essas audiências”. E questiona: “O que justifica a remoção das árvores ‘antigas’ existentes?”
Outro, @felipe.sg, disse que “essa audiência, que não foi uma audiência e sim um comunicado à população, só comprovou mais uma vez a ignorância, egoísmo, impotência e ego frágil de uma gestão frustrada e em decadência, que sequer permite a participação pública de maneira eficiente e respeitos, com a mínima preocupação em demonstrar o que realmente será feito com detalhes e explicações devidas. O que tivemos nessa tarde (foi) um show de horrores, um circo onde os palhaços foram os munícipes participantes”.
Houve quem tenha se manifestado apenas aplaudindo.
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