A mobilização dos servidores do Ibama, convertida em greve em meados de junho, caminha para sete meses e impacta, diretamente, nos projetos de infraestrutura privados brasileiros. Uma das empresas atingidas é a Petrocity, com projetos de licenciamento de porto em São Mateus e de quatro ferrovias interligadas, com mais de 2,1 mil quilômetros de extensão, beneficiando diretamente os Estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Distrito Federal e Goiás.
A Petrocity tem projetos que somam mais de R$ 30 bilhões e que prometem transformar completamente a economia do Norte do Espírito Santo e Leste de Minas Gerais. Na retroárea do Terminal de Uso Privativo de Uruçuquara, no litoral Norte do Espírito Santo, a empresa projeta um condomínio empresarial e a instalação de várias empresas, dentre elas geradoras de energia elétrica.
O movimento no Ibama vem atrasando também a emissão de licenças ambientais necessárias ao desenvolvimento de negócios do setor de óleo e gás e afeta empresas como a petroleira Prio, considerada uma das mais promissoras “junior oils” do mercado brasileiro.
A companhia aguarda autorização da autarquia ambiental para perfurar quatro poços no campo de Wahoo, na bacia de Campos, e interligá-los a um navio plataforma (FPSO) no campo de Frade, principal aposta para garantir o aumento de produção da companhia.
Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o presidente da Prio, Roberto Monteiro, disse que o investimento total em Wahoo será de US$ 830 milhões, dos quais cerca de US$ 500 milhões já foram consumidos com a compra de materiais e componentes, hoje parados nas bases logísticas da empresa no Rio de Janeiro.
A sonda de perfuração a ser utilizada no desenvolvimento do projeto aguarda parada no Porto do Açu, no norte do Estado, a um custo que gira em torno de US$ 100 mil por dia. Um gasto que só não é maior porque o equipamento pertence à empresa. “No caso de uma sonda afretada, esse custo saltaria para US$ 400 mil, US$ 500 mil”, diz Monteiro.
Não é só a Prio que sofre com os atrasos em processos relacionados ao Ibama: a Petrobras projeta uma queda de 2% na produção de 2024, diretamente ligada ao problema, e a britânica BP também espera licenças de perfuração, incorrendo em gastos imprevistos.
No dia 20 de junho, o presidente da Shell, Cristiano Pinto da Costa, expressou preocupação com relação à greve na autarquia ambiental, citando a estimativa do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) de que a produção nacional já está menor em 80 mil barris por dia em função do movimento.
Segundo o presidente do IBP, Roberto Ardenghy, a greve do Ibama gerou uma redução na produção de 5 mil a 10 mil barris por dia que, na sexta-feira, 14, chegou a 80 mil barris por dia.
Os servidores do Ibama ficaram no alegado “estágio de mobilização” por seis meses e, na semana passada, começaram a aprovar greves que já atingem os serviços na maior parte dos Estados brasileiros, o que inclui Rio de Janeiro e Espírito Santo, coração do pré-sal. Os servidores negociam reajustes salariais e pararam após o Ministério da Gestão e Inovação rejeitar a última contraproposta sindical de valorização salarial.
PESO DO CAMPO DE WAHOO
Segundo Monteiro, da Prio, “Wahoo vai representar um aumento entre 40% e 50%” nossa produção da empresa. “Aguardamos licenças de perfuração e de instalação, esta última para ligar os poços ao FPSO de Frade, que fica a 30 quilômetros de distância, ou seja, fazer um ‘tieback'”, detalha.
“Além do Imposto de Renda a mais que a companhia paga por colocar 40% a mais de receita na mesma base de custo, a gente ainda paga 10% de royalty. Se você pegar um óleo a US$ 75 ou US$ 80, estamos falando de R$ 400 milhões, R$ 500 milhões ao ano de arrecadação perdida. É muito dinheiro”, observa.
GREVE SE AMPLIA
Sem conseguir firmar acordo e com negociações travadas pela pasta, servidores da Área Ambiental decidiram em assembleias iniciar uma greve por tempo indeterminado. Desde o dia 24 de junho, servidores do Acre, Pará, Paraíba e Rio Grande do Norte já haviam iniciado o movimento.
A partir dessa segunda-feira (01/07), servidores de Goiás e outros 18 estados (Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins) além do Distrito Federal (DF), aderiram à paralisação de atividades. No total, a greve já alcança 23 estados e o DF.
Em Goiânia, Ibama e ICMBio encontram-se em greve, mantendo o percentual reservado aos serviços essenciais. “Esta greve não é apenas uma manifestação de frustração, mas um grito de resistência e determinação. Somos guardiões da natureza, e é nosso dever cobrar do governo Lula medidas concretas que fortaleçam nossas instituições e garantam a sustentabilidade ambiental para todos. Não descansaremos até que nossas demandas sejam atendidas e nossos direitos respeitados. O Brasil precisa agir agora, por um futuro mais verde e justo”, afirma o movimento que em Goiás é coordenado pelo Sintsep-GO e pela Asibama-GO.
A paralisação não afeta setores estratégicos, a exemplo do combate ao fogo que seguirá com 100% de atividades mantidas. Atualmente, o pantanal vive, por exemplo, situação que pode se agravar com a seca. Além de incêndios florestais, outros setores seguem regime especial durante a greve: fiscalização, licenciamento, unidades de conservação, fauna, flora e emergências. (Fontes: Terra e Condsef)
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