Ex-presidente do Banco Central faz dura crítica à decisão do ministro Fernando Haddad de aumentar o IOF e afirma que administração do PT busca meta fiscal “sem nenhuma convicção”
O ex-presidente do BC (Banco Central) Gustavo Franco, 69 anos, disse que o 3º mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é uma espécie de governo Dilma Rousseff 2, que foi interrompido depois de processo de impeachment. O economista classificou a proposta de aumentar as alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) como uma “CPMF seletiva”.
A CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) foi um tributo que existiu durante 11 anos no país e incidiu sobre as operações bancárias. Era criticada por agentes financeiros por aumentar a carga tributária e onerar principalmente os que têm renda mais baixa.
Franco disse, em coluna publicada no jornal O Globo neste domingo (25.mai.2025), que o IOF é regulatório e deveria ter incidências “muito pontuais”, com intuito alocativo e circunstancial. “O IOF não deve ser usado como uma CPMF seletiva”, disse.
O economista é sócio da Rio Bravo Investimentos. Fez duras críticas à equipe econômica, comandada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Segundo ele, o governo busca atingir a meta fiscal “sem nenhuma convicção”. Afirmou que o bloqueio e o contingenciamento de despesas só ajudarão no cumprimento dos objetivos estabelecidos para 2025, sem efeito prático nos anos futuros.
O ex-presidente do BC defendeu que é um método “pedalativo” de cumprir metas. Haddad anunciou na 5ª feira (22.mai) um congelamento de R$ 31 bilhões. O valor poderá aumentar nesta semana já que o governo recuou em parte do aumento das alíquotas do IOF.
Para Franco, a incidência do imposto sobre o crédito eleva o spread bancário em momento em que o Brasil está no pico do ciclo de juros. “A incidência sobre câmbio (gastos com cartões no exterior, por exemplo) nem deveria existir, face às restrições do Artigo VIII [íntegra – PDF – 319 kB] dos estatutos do FMI (Fundo Monetário Internacional), em face das quais o país prometeu extinguir essa incidência”, disse.
Antes do recuo, o governo pretendia arrecadar R$ 20,5 bilhões com o aumento do IOF e diminuir os gastos em R$ 31 bilhões. Ou seja, as medidas teriam um efeito positivo de R$ 51,5 bilhões nas contas do país.
O Poder360 mostrou no sábado (24.mai) que a arrecadação do governo com o IOF bateu recorde em 2024. A equipe econômica disse que o aumento das alíquotas aumentaria em R$ 41 bilhões por ano as receitas da União, o que representa um aumento de quase 60% em relação ao registrado no ano passado.
O ex-presidente do BC afirmou que o pacote foi “merecidamente mal recebido”, mas é o que se mostra factível “em um governo em seu ocaso, buscando sem nenhuma convicção uma meta fiscal que parece não levar muito a sério”.
Para ele, foi Dilma quem politizou a política fiscal e estabeleceu que os superavits primários eram coisa de neoliberais. “Ainda que tola, essa postura permaneceu viva: não parece haver mais dúvida que o Lula 3 é uma espécie de Dilma 2. Mas graças à preservação da democracia, vamos ter alternância”, disse.
QUEM É GUSTAVO FRANCO
Gustavo Franco tem 69 anos. É bacharel em ciências econômicas pela PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro. Tem mestrado em economia do setor público na mesma universidade e doutorado em economia pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos.
Ele foi presidente do Banco Central de 1997 a 1999, no governo Fernando Henrique Cardoso. Também foi diretor de Assunto Internacionais da autoridade monetária de 1993 a 1997. Foi secretário adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda em 1992.
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