
O prefeito Nirrô Emerick vai decretar calamidade pública em Alegre, na região do Caparaó, no Sul do Espírito Santo, depois do violento temporal que desabou sobre a cidade na tarde desta quarta-feira (16), deixando um rastro de destruição e a morte do engenheiro agrônomo e presidente do Rotary Club, José Luiz Albani, que por muitos anos foi administrador do Parque Estadual da Cachoeira da Fumaça.
Segundo o prefeito, a equipe da Defesa Civil do Estado já chegou à cidade para orientar o socorro às vítimas e os procedimentos que devem ser adotados. Nirrô anunciou também que o próprio governador Renato Casagrande (PSB) estará em Alegre às 8 horas desta quinta-feira (17) para ajudar a avaliar o quadro e que o ministro João Roma, de Desenvolvimento Regional, confirmou que visitará a região também nesta quinta, chegando às 16 horas.

“O governador e o ministro virão para conhecer os problemas e nos ajudar a reconstruir o município. Tivemos muitos deslizamentos, casas danificadas, lamentavelmente um óbito, mas não temos ainda os demais números. Só sei que a situação é crítica. Estamos fazendo todos os levantamentos enquanto damos prioridade ao socorro às pessoas em suas casas e comércios. Não sabemos ainda o volume dos prejuízos financeiros, mas teve gente que perdeu tudo”, disse Nirrô.
VALE
A cidade de Alegre, cujo centro está num vale cercado de elevações pelos quatro lados, e parecia estar derretendo durante as chuvas, tamanha a violência da força das águas, causando inundações ao longo do curso do córrego Conceição, que atravessa a parte central a partir do bairro Guararema, enquanto nas ruas localizadas em bairros altos desciam verdadeiros rios de água e lama em direção à parte baixa.

José Luiz Albani, que era servidor público no Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (IDAF-ES), estava na varanda de sua casa, na região alta, próximo à divisa com a área do Alto Universário pelo lado do Castelinho, quando um muro do campus da Ufes na cidade desabou e o matou. O volume de água e barro que desceu das ruas arrastava tudo o que achou pela frente e assustava moradores, que gritavam apavorados, como mostram vídeos que circulam nas redes sociais, especialmente no perfil CapixabadaGema, no instagram.

O córrego Conceição nasce na região conhecida como Abundância e desce atravessando o bairro Guararema, onde a água passou por cima de pontes e inundou residências, chegando a mais de 1 metro de altura em algumas casas. Populares fizeram vídeo de um automóvel sendo arrastado pelas águas do córrego na Rua Antonio Rodrigues de Oliveira.
O córrego desce para a região conhecida como Rua 13 de Maio, onde derrubou parte do muro do estádio Arsílio Caiado Ferreira, do Comercial Atlético Clube. Segundo o presidente do clube, Mário Cezar Machado, a altura da água passou de 1 metro no campo de futebol.
Toda a água que caiu na região alta da cidade desceu, engrossando o leito do Conceição, que também transbordou na região onde passa entre as duas alas da Casa de Caridade São José, conhecida como Hospital de Alegre. Nesse local, o córrego passou sobre a ponte e inundou a avenida Olívio Pedrosa. Enquanto isso, um grande volume de água descia dos bairros mais altos e inundava a praça 6 de Janeiro, a rua Dr Wanderley e a avenida Jerônimo Monteiro.
O córrego deságua no rio Alegre, próximo à cachoeira que se forma logo após o encontro dos dois mananciais e, dez quilômetros depois, vai ganhar o leito do rio Itapemirim, próximo ao distrito de Rive. Chove muito na região do Caparaó, nas cabeceiras das bacias hidrográficas dos rios Itapemirim e Itabapoana, além da cabeceira do rio Zé Pedro, que já pertence à bacia do rio Doce, como afluente do rio Mutum.
O governador Renato Casagrande publicou uma nota pelas redes sociais dizendo que Alegre, no final da tarde, era a cidade do Estado mais castigada pelas chuvas e anunciando que as equipes de Governo já se dirigiam para a cidade, que é polo universitário, para ajudar no socorro às vítimas.
Na BR 482, entre Alegre e Guaçuí, uma barreira desceu e interrompeu o tráfego de veículos. Por pouco, não fez vítimas. Um automóvel Gol que estava passando na hora foi atingido pela barreira e ficou retido no meio do lamaçal. Um pouco adiante, parte da rodovia cedeu, abrindo uma cratera. Não há previsão de liberação do tráfego e quem se dirige de Vitória para Guaçuí e demais cidades da região, deve evitar seguir em frente.
ALERTA
Quando a região serrana do Estado do Rio “derreteu”, levando à morte de quase mil pessoas, em 2011, principalmente em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, pesquisadores da Universidade Federal Fluminense fizeram um estudo nos meses seguintes para identificar cidades construídas em regiões com características semelhantes e que corriam o mesmo risco, e identificaram Alegre, na região do Caparaó capixaba, como a cidade com maior risco de desastre igual ao das cidades fluminenses.
Apesar disso, nenhuma autoridade tomou qualquer medida preventiva. Na época, os estudos apontavam que deveriam ser implementadas políticas públicas de controle de ocupação de encostas, uma vez que a estrutura do solo é frágil. Entretanto, Alegre continuou permitindo construções em locais de risco, como onde morreu o presidente do Rotary Club nesta quarta. No alto da serra para Celina um condomínio está sendo construído num declive altamente sujeito a deslizamentos e tragédias futuras.
A cidade está muito sujeita a episódios como o desta quarta-feira. O ex-prefeito José Carlos de Oliveira, o Caleo, relembrou que, em 1996, quando ele comandava a Prefeitura, enfrentou uma enchente “três vezes maior do que essa”. Segundo ele, naquela ocasião deu um metro de água dentro do hospital da cidade. “A água passava pela Rua 7 como um rio, passava pelo bar Pico da Bandeira e descia pela rua 15. Foi uma tragédia, felizmente sem mortes, como essa fatalidade que tivemos agora”, disse Caleo. (José Caldas da Costa, Da Redação em Vitória)
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