A fusão entre PSDB e Podemos, anunciada oficialmente nesta terça-feira (29) após aprovação unânime da executiva nacional tucana, promete redesenhar o mapa político nacional — e, no Espírito Santo, já provoca movimentações e expectativas significativas. O novo partido, provisoriamente batizado de “PSDB + Podemos”, deverá ser formalizado em convenção marcada para 5 de junho, com aval final do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda em 2025.
Em solo capixaba, o impacto da fusão tende a ser direto e imediato. O deputado estadual Mazinho dos Anjos (PSDB) foi uma das primeiras lideranças a se manifestar publicamente sobre o tema, demonstrando pragmatismo político diante da nova configuração. “Se for acontecer, não tem o que fazer, não tem como lutar contra essa decisão da Nacional”, afirmou em entrevista ao Século Diário. Ele condicionou seu apoio à nova legenda ao alinhamento com a base do governador Renato Casagrande (PSB), ressaltando a afinidade com posições de centro e centro-direita.
Reconfiguração das forças políticas no Estado
Atualmente, o PSDB possui no Espírito Santo dois deputados estaduais e três prefeitos, mas nenhum representante federal. O Podemos, por sua vez, ostenta maior capital político: três deputados estaduais, dois deputados federais, um senador e 11 prefeitos — o que dá à sigla vantagem nas negociações locais da fusão. Essa diferença pode pesar na disputa pelo comando estadual da nova legenda.
O deputado federal Gilson Daniel, presidente do Podemos no Estado, surge como nome forte para liderar o novo partido no Espírito Santo. Entretanto, sua hegemonia dentro da sigla tem sido contestada por antigas alianças desfeitas. A saída do presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos (União), e a desfiliação recente do prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo, indicam resistências internas ao seu estilo de comando.
Ainda assim, a base de apoio ao governo Casagrande parece consolidada nas duas legendas, o que favorece a fusão no Estado. Em encontro recente, prefeitos do Podemos reafirmaram apoio à candidatura de Ricardo Ferraço (MDB), atual vice-governador e nome favorito para a sucessão de Casagrande — cenário em que o novo partido poderá exercer papel estratégico.
Nacionalmente, fusão visa frear decadência tucana
Em nível nacional, a fusão representa uma tentativa de estancar a crise do PSDB, outrora partido dominante e responsável por eleger dois presidentes da República. Com desempenho eleitoral declinante, o partido corre risco de não superar a cláusula de barreira. A união com o Podemos — legenda com maior representação atual — busca garantir relevância e acesso a recursos públicos, como os R$ 384,6 milhões do Fundo Eleitoral e os R$ 77 milhões do Fundo Partidário, valores somados das duas siglas com base no desempenho de 2022.
O novo partido deverá formar a sétima maior bancada da Câmara dos Deputados (com 28 parlamentares) e a quarta maior no Senado (sete senadores). Uma comissão mista já está sendo formada para definir nome, estatuto, programa e identidade visual da nova sigla — que se pretende de centro democrático, liberal na economia e inclusiva no social, segundo palavras do deputado Aécio Neves (MG), presidente do Instituto Teotônio Vilela.
Perspectivas no Espírito Santo
Com a fusão e possível rearranjo de forças, o Espírito Santo poderá ganhar protagonismo nas discussões nacionais do novo partido, especialmente se lideranças como Gilson Daniel e Mazinho dos Anjos forem mantidas em postos-chave. O apoio à base casagrandista também assegura espaço no debate da sucessão estadual de 2026.
A dúvida que permanece é se o novo partido conseguirá harmonizar os interesses locais com o projeto nacional e evitar novas debandadas internas, como as que abalaram o PSDB nos últimos anos. Em meio à instabilidade da política partidária, o “PSDB + Podemos” surge como aposta de sobrevivência e reinvenção — com reflexos diretos no cenário capixaba. (Da Redação com Século Diário e G1)
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