*José Caldas da Costa
Em 50 anos de jornalismo, já vi muita coisa acontecer no futebol. Vi, por exemplo, os tempos em que os grandes jogos decisivos do futebol capixaba eram comandados por árbitros trazidos de fora.
A razão era simples: os clubes não confiavam na isenção dos árbitros locais em tempos de muita rivalidade e inevitável paixão clubística, para não dizer coisa pior.
Foi entre 1979 e 1980 que a Federação de Futebol colocou um diretor de arbitragem que acabou dando uma moralizada no quadro e nunca mais se trouxe “árbitro neutro” para apitar decisões.
Lá se vão mais de 40 anos. Nesse período, o maior roubo que vi foi de um árbitro baiano contra a Desportiva em 1994, no Serra Dourada, contra o Goiás, valendo vaga para a Série A do Brasileiro. Depois disso, o futebol capixaba desceu a ladeira e foi parar na Série D.
E, em tempos mais recentes, chegou a tecnologia do VAR (sigla em inglês para árbitro assistente de vídeo). Em 2025, a TVE-ES impulsionou o campeonato não apenas transmitindo todos os jogos, mas disponibilizando a tecnologia para o árbitro de vídeo.
E foi assim que todos puderam ver duas coisas no jogo semifinal de sábado, entre Desportiva e Rio Branco: ver e rever quantas vezes quiser o lance já nos acréscimos em que Theo acaba chutando Vinicius Baiano dentro da área, quando o atacante tira-lhe a bola; e ver que o árbitro ignorou, solenemente, a tecnologia à sua disposição.
Foi muito pênalti, como se costuma dizer. Lembro de um lance desse, igualzinho, em que o VAR chamou o árbitro, que deu pênalti contra o Flamengo.
No caso capixaba, o árbitro Davi Lacerda, escolhido o melhor da temporada passada, até parou o jogo após a bola sair, mas não se deu ao trabalho de ir à tela verificar o lance. “Segue o jogo “.
Se fosse ver, tinha que dar o pênalti. Como tinha que pelo menos verificar a bola na mão do zagueiro logo em seguida – e poderia interpretar como não faltosa.
É para não deixar essas dúvidas no ar que existe o VAR. O sr. Davi Lacerda errou feio, como extrapolou de suas funções o árbitro de vídeo ao não sugerir-lhe a conferência do lance. Veja o vídeo:
O Rio Branco foi, cirurgicamente, assertivo ao marcar o gol da vitória no jogo em que 70% da posse de bola foi da Desportiva, pouco efetiva no ataque. E um eventual bicampeonato capa-preta trará essa mancha duvidosa, sobre a qual o time não tem, teoricamente, nenhuma responsabilidade.
Quanto ao sr. Davi, pode até se tornar o melhor árbitro do mundo, mas terá sempre essa nota vermelha.
Num tribunal togado, se há em julgamento algo ou alguém com que o magistrado tenha ou já teve alguma relação, o juiz de Direito dá-se por impedido. E a causa é julgada por outro para garantir a isenção.
No futebol, deveria prevalecer o mesmo princípio e, neste caso, o sr. Davi Lacerda dar-se por impedido. Afinal, já foi atleta federado pelo Rio Branco. Vejam a comprovação:
*O autor é jornalista há mais de 50 anos
Rio Branco-ES vence a Desportiva e vai em busca do bicampeonato
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