O verbo hebraico hyh (avivar) significa “preservar” ou “manter vivo”. No Novo Testamento há algumas palavras que implicam nesse significado básico: ’egeíro, ‘anastáso, ‘anázoe e ‘anakaínoo. Outros vocábulos gregos implicam o termo avivamento com o reacender de um fogo, uma chama, que foi perdendo o vigor paulatinamente.
O avivamento ocupa o imaginário religioso cristão. Toda igreja e todo cristão possivelmente anseiam por isso. Mas as ideias relacionadas ao avivamento na fé cristã são diversas. Não estou aqui para dar o veredicto. Mas, na melhor compreensão que tenho sobre o Evangelho anunciado por Jesus (palavras, atitudes e ações de Cristo) e diante do que tenho vivido com minha comunidade de fé, sinto-me animado a partilhar.
Nesses dias de lutas que se tornaram públicas, com irmãos de fé acusando-me e trabalhando, aparentemente sem julgar os meios, para tirar-me a atividade pastoral na igreja que sirvo; e diante da postura da igreja, fui levado a muitos momentos de reflexão e um dos efeitos foi uma revisão de minha compreensão sobre avivamento.
Mantenho o princípio inegociável de que o avivamento é um movimento realizado pelo Espírito Santo que impulsiona, esclarece e transforma pessoas. Sua grande obra não está no que essas pessoas fazem, mas em quem se tornam ajudados pelo que fazem. A partir disso, acrescento:
O avivamento gera barulho, movimento, ação, posturas. Todas elas alimentadas pelo amor, não pelo ódio. Todas elas buscando o fortalecimento da vida, fazer o bem e não destruir qualquer malvado. Ele não é uma luta contra inimigos, mas uma luta em favor do próximo, em favor da vida. O avivamento tem cheiro de gente, tem poeira nos pés. É muito mais lucidez diante da vida que esclarecimento diante da eternidade – um mistério permanente. Não tem a ver com conhecer mais do céu, mas compreender melhor a vida na terra para vive-la segundo princípios do reino divino. O amor é seu combustível e o Espírito sua ignição.
O avivamento é um mover do Espírito Santo contra a destruição do que Deus criou, o que Deus ama. Contra o estabelecimento do que nega o caráter divino. Por isso ele produz lutas contra injustiça, abre espaço para acolhimento e graciosidade. Ele não é um exercício de austeridade e força, mas de amabilidade e justiça. Logo, o coração de uma pessoa avivada e o espírito de uma igreja avivada não se caracteriza pela destreza em julgar e condenar, mas pela ousadia em amar e acolher.
O avivamento coloca o amor e a graça definitivamente no diálogo. Enquanto os que seguem com sua chama apagando-se aos poucos e considerando o amor pouco demais e incompleto para ser tudo, os avivados, tornam-se leves e livres pela plena confiança no amor como a mais poderosa fonte de transformação. E assim descobrem que ele é tudo de que precisam.
O avivamento transforma pessoas em amigos saudáveis, em gente que ama e respeita gente. Ele produz igualdade nas relações mais distintas, diferentes. Relações que se tornam encontros e não confrontos. Que não se submetem ao medo e por isso não aderem à força, aos segundos interesses e às terceiras intenções. Não se valem de “isca” para converter o outro, pois a dinâmica do Espírito Santo coloca todos no mesmo e único lugar de carência e anseio pelo amor divino. Não nos faz operadores da salvação, mas testemunhas da graça.
Nesses dias percebi como é misterioso o avivamento verdadeiro. Como ele vem, quase que imperceptível, mas irresistível. E quando nos damos conta, estamos envolvidos por ele. E já não somos mais os mesmos.
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