Por João Gualberto Vasconcelos
Minha profissão de analista político exige um olhar isento – e ao mesmo tempo atento – sobre a cena política. É com essa perspectiva que tentarei analisar a série de entrevistas dadas pelos quatro primeiros colocados nas pesquisas para a presidência da república ao Jornal Nacional, da Rede Globo, no decorrer da semana passada.
O primeiro registro que faço é que foi uma ótima oportunidade dos eleitores brasileiros poderem observar seus candidatos, para além da guerra ideológica que está claramente travada entre Lula e Bolsonaro. Guerra que ofusca um pouco a visão clara da disputa e da proposta dos candidatos, mas porta um elemento novo na política brasileira. Há uma direita no Brasil.
Até a eleição de 2018, confundíamos direita com fisiologismo. Eram os assistencialistas e os políticos paroquiais que chamamos de direita. Agora não, há um pensamento conservador consolidado que se apoia em princípios claros, em boa parte evangélicos e em boa parte militaristas, para simplificar a análise.
Essa nova direita tem sua representação hoje no presidente Bolsonaro. Foi em nome dela e para existir. Assim, garante sua liderança e seus votos. Ele se saiu muito bem para esse público, embora não me pareça que tenha conseguido ampliar sua votação fora dele. O ambiente lhe era hostil e esse tipo de político se afirma pela negação, se impõe pela reação ao sistema.
Quanto a Lula, tentou falar para além de sua bolha. Tentou seduzir um eleitorado que ainda está indeciso ou declarando voto em Ciro ou Tebet. Tentou se contrapor a Bolsonaro, apelando para os sentimentos de valorização da sociedade democrática. Além disso tentou desfazer as restrições que são feitas pelos eleitores pela gestão de Dilma e pelas denúncias de corrupção nas gestões do PT.
Obviamente, Lula é muito mais habilidoso do que Bolsonaro. A habilidade não é um valor da direita conservadora, antes pelo contrário, a lógica é ser fortemente contra a habilidade política, vista como coisa de politiqueiro. Algo a ser vencido pelas forças autênticas da nova política, da nova direita.
Como medir quem obteve melhor resultado eleitoral por sua passagem na famosa bancada do Jornal Nacional? Acho que pela audiência os registros mostram índices muito parecidos. Lula e Bolsonaro não se diferenciaram nisso. Mas, hoje as redes sociais talvez tenham igual ou maior peso diante de uma aparição como essa. Nelas existe uma guerra de versões.
Nas redes sociais, segundo o colunista Luiz Carlos Azedo, do Correio Braziliense, 15 milhões de pessoas acompanharam as postagens sobre a entrevista de Lula no JN, mais do que a audiência de Bolsonaro que foi de 9 milhões de espectadores. Obviamente os bolsonaristas são muito mais hábeis nas redes sociais e que boa parte do material foi rebatendo críticas.
Ciro Gomes e Simone Tebet mostraram-se também bem preparados. O conhecimento de Ciro acerca das questões brasileiras e de suas soluções é muito grande. Saiu-se bem, comunicou com seu público. Vai evitando a sangria e tentado manter seu terceiro lugar na quarta disputa presidencial que participa. Ciro foi bem, ganhou com a sua participação. Teve boa audiência e manteve o interesse por sua campanha.
Simone Tebet é a única cara nova no processo. Senadora da República aos 52 anos de idade, tornou-se conhecida nacionalmente por sua participação na CPI que tratou da crise da pandemia do Covid19. Tem tempo para marcar sua presença nas eleições nacionais nesse ano e jogar para o futuro. Pode voltar mais conhecida e melhor organizada partidariamente em 2026. Suas ideias e seu plano de governo, a força de ser mulher são muito interessantes. Ganhou ao participar da entrevista, como ganha ao concorrer mesmo com chances mínimas de vitória.
Enfim, tivemos como começo do processo eleitoral mais massificado essas entrevistas. Todos ganharam, mas ganhou sobretudo o eleitor brasileiro ao poder confrontar ideias e desempenho, ao poder participar do grande jogo da democracia.
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