Em vias de completar 70 anos, Jonas Rosa dos Reis, jornalista e escritor, nascido em 15 de novembro de 1952 na Vila Monte Carmelo, em Alto Rio Novo, quando ainda era município de Colatina, tornou-se nesta segunda-feira (13.06) o mais novo imortal da Academia Espirito-Santense de Letras, eleito com 15 dos 19 votos possíveis para ocupar a Cadeira nº 10, sucedendo a educadora Anna Bernardes da Silveira Rocha.
Para comemorar, Jonas Reis resolveu dar um presente ao público, conforme anunciou em sua conta do Facebook logo depois de ser o escolhido:
“Com gratidão e alegria, recebo notícia de que a Academia Espírito-santense de Letras acaba de me eleger para a imortalidade de sua prestigiosa Cadeira n° 10, sucedendo a saudosa educadora Anna Bernardes da Silveira Rocha. Uma honra para este prosador de pouca prosa, mas com muita tinta no tinteiro. Para comemorar, autorizei a Amazon a disponibilizar gratuitamente o e-book do meu livro ‘Viagem à alma do Brasil’ durante as 24 horas desta quarta-feira, 15 de junho”.
Amigos de quatro décadas, o jornalista José Caldas da Costa, diretor da Tribuna Norte-Leste, deu o seguinte depoimento sobre o novo imortal capixaba:
“Quando cheguei à Redação de A Tribuna, ainda cheirando a leite, vindo do Alegre, eu era um menino tímido. Lá encontrei, com seu inabalável sorriso, esse grande colega Jonas Reis, oito anos mais velho que eu e, então, já um veterano jornalista. Escrevia com uma qualidade que me dava uma santa inveja. Seus poemas sempre foram de uma riqueza de dar gosto”.
Dessa época, Caldas guarda uma doce memória: “Um dia comentei com ele que escrevi muita coisa em minha adolescência, mas que achava tudo muito ingênuo e ele, com a generosidade que lhe era peculiar, me incentivou: ´Tudo o que se escreve é importante e retrata uma época de sua vida. Valorize isso´. Eu jamais esqueci essas palavras e, agora, quando o vejo imortalizado na AEL, sinto ainda mais orgulho de nossa amizade de quatro décadas. Ainda sou um aprendiz perto dele”.
LITERATURA E IMORTALIDADE
Recentemente, Jonas Reis escreveu esse texto em suas redes sociais: “Como o homem é mortal, a única imortalidade possível para ele é deixar algo atrás de si que seja imortal.” (William Faulkner – As entrevistas da Paris Review, vol. 1, p. 33)
Muitos chegam a alcançar a imortalidade por meio da literatura. Mas essa imortalidade é um processo, e como tal nem sempre se completa. Para que se efetive, o caminho pode ser árduo.
Mercedes Barcha, a mulher de Gabriel García Márquez, penhorou até os eletrodomésticos de casa para que ele pudesse enviar à editora os originais de ‘Cem anos de solidão’.
Com uma cegueira progressiva, o autor de ‘História universal da infâmia’, o argentino Jorge Luis Borges, precisou ditar boa parte de sua obra para anotação pela secretária.
Hemingway teve de ir à guerra e reescreveu o final de ‘Adeus às armas’ 39 vezes antes de ficar satisfeito.
Toda a obra de Primo Levi, incluindo ‘É isso um homem?’, foi escrita depois de sua dramática experiência no campo de concentração de Auschwitz.
Para criar o célebre romance ‘Grande sertão: veredas’, nosso Guimarães Rosa precisou desenvolver um monumental trabalho de linguagem, recriando a tradição oral e a metafísica do sertão mineiro.
E a longa lista de grandes autores que um dia foram esnobados pelos editores? Paul Auster, que escreveu A trilogia de Nova York, teve o primeiro volume, ‘Cidade de vidro’, rejeitado inicialmente por 17 editoras nova-iorquinas.
A aceitação de um escritor por uma Academia de Letras pode ser indicação de que ele leva jeito para a coisa. Mas vai ter de cavar fundo, esforçar-se por traduzir os sonhos e a angústia de viver em histórias ou versos que nos ajudem a ser seres humanos melhores”.
PERFIL
Filho de pai negro e mãe branca, ambos lavradores, Jonas Reis conta que nasceu num lar feliz na bucólica Vila de Monte Carmelo, interior de Colatina e hoje distrito de Alto Rio Novo, no noroeste do Espírito Santo. Traz no DNA 61% de ascendência europeia, é 32% africano e 7% ameríndio, segundo teste de ancestralidade da empresa Genera.
Mudou-se com a família aos cinco anos de idade para Vitória, onde cresceu e vive desde então. É jornalista e advogado, formado em Comunicação Social e em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo, e pós-graduado em Direito do Estado pela Universidade Gama Filho, do Rio de Janeiro.
Atuou nos principais órgãos de imprensa do Estado,t endo iniciado no jornalismo em 1977, na Rádio Espírito Santo, sob orientação do grande radialista e jornalista Osvaldo Oleari. Em A Tribuna foi repórter de Política e de Cultura. Em A Gazeta foi repórter de Política e do Caderno Dois, redator, colunista de Victor Hugo e Praça Oito, e editor substituto. Na TV Educativa foi repórter. Na TV Gazeta foi chefe de reportagem.
Em 1987 publicou em A Gazeta série histórica de entrevistas com personalidades nacionais, debatendo a Constituinte de 1988. Entre os entrevistados, Bolívar Lamounier, Hélio Jaguaribe, Hélio Silva, Otto Lara Rezende, o sociólogo Herbert de Souza, Betinho, o chamado “irmão do Henfil”, e Sérgio Bermudes, filho do já saudoso acadêmico da AEL Aylton Rocha Bermudes.

Em 1993, quando titular da coluna Victor Hugo, de A Gazeta, lançou pela Editora Nemar (Nejar/Marien) o livro Em nome do Espírito Santo, sobre política regional. O pequeno e despretensioso livro ganhou importância por incluir densos artigos dos especialistas João Gualberto Vasconcellos e seu parceiro na Futura, José Luiz Orrico, analisando em profundidade um dramático momento da política capixaba. A obra agora consta da grande biblioteca do Congresso dos EUA, por retratar uma fragilidade da democracia brasileira que voltaria a se manifestar, desta vez em âmbito nacional, nas eleições presidenciais de 2018.
Deixando o jornalismo diário, Jonas Reis ingressou por concurso no Tribunal de Contas do Estado, onde foi secretário geral das Sessões e Assessor da Presidência, aposentando-se em 2012 como Auditor de Controle Externo. Em 2013 publicou O santo dos últimos dias – Quem amou Solange de Belleview?, selecionado pela Secretaria da Educação para distribuição a bibliotecas e escolas públicas do Espírito Santo.
Em 2018 lançou pela Amazon Viagem à alma do Brasil, relato de viagem por todas as regiões do Brasil, ouvindo sua gente simples, revelando a história local e descortinando cenários longínquos deste grande, generoso e sofrido país. O livro ganhou versão em inglês, Trip out to the soul of Brazil, do tradutor britânico Paul W. Dixon em parceria com a gaúcha Luciane Bernardi Scopel.
Seu livro infantojuvenil A lenda do lagarto azul foi selecionado em edital da Secretaria de Cultura e publicado em 2019 com recursos do Funcultura. Em reconhecimento prévio da importância do livro para a cultura local, o lançamento da obra foi incluído na programação oficial do Festival de Inverno de Domingos Martins e anunciado em totens espalhados pela cidade.
Em 2021 o Município de Vila Velha adquiriu 500 exemplares do livro para distribuição às bibliotecas e escolas da rede municipal de ensino. Antes dos livros, Jonas Reis fez rápida incursão pela dramaturgia. Suas peças Superaventuras (infantil) e Rádio-Novela, de 1984, receberam respectivamente prêmio e menção honrosa do antigo Departamento Estadual de Cultura.
Também teve contos e crônicas incluídos em diversas publicações, inclusive em edições dos Escritos de Vitória, Palavras da Cidade, Escritos de Colatina, antologia Combiousa, da editora Cousa, e no site da Academia Espirito-santense de Letras, além de vencer, em 1991, o concurso de crônicas do Município com Rumo à Estação Vitória.
No âmbito dos Tribunais de Contas venceu em 2007 concurso nacional de monografias sobre a instituição.
Ícone do jornalismo e da cultura capixaba, Marien Calixte, a quem Jonas Reis teve a honra de suceder na Coluna Victor Hugo, de A Gazeta, lembrava que “o jornalismo é uma espécie de literatura”.
Estas reportagens e entrevistas assinadas, de 40 e 35 anos atrás, demonstram o longo caminho que Jonas Reis percorreu nas letras capixabas, no exercício de seu compromisso social. (Da REdação)
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