A operação de saturação do Estado Presente na região Noroeste nesta semana tem uma razão objetiva: é a única região do Estado que apresentou elevação no número de homicídios no primeiro trimestre de 2025, e não foi pouca coisa, proporcionalmente. Foram 30 até o dia 26, contra 24 no ano passado.
O número de homicídios aumentou 25%, com maior preocupação para a região da Área Integrada 08 (formada por Colatina, Baixo Guandu, Alto Rio Novo, São Domingos do Norte, Pancas, Governador Lindenberg e Marilândia), que sofreu uma elevação de 160% neste início de ano, contrastando com períodos anteriores nos últimos sete anos.
A cidade de Colatina teve uma “explosão” de mortes violentas nesses três primeiros meses do ano, dobrando o número de quatro para oito, muito em função de disputas por territórios por organizações criminosas, repetindo alguns fenômenos verificados em todo o Norte do Estado.
DIVISÃO
O Estado Presente dividiu o Espírito Santo em cinco Regiões Integradas de Segurança Pública. Em cada uma delas existem áreas integradas, que são como sub-regiões, onde os municípios se comunicam territorialmente e estão vinculados a uma Companhia Independente da PM ou a um Batalhão e Delegacia Regional.
As Regiões são: Metropolitana, Norte, Nordeste, Sul e Serrana. Neste ano de 2025, nos três primeiros meses, o Estado registrou uma queda de -11,42% no número de homicídios em relação ao mesmo período de 2024, mantendo a tendência de queda verificada desde 2018. Até o momento foram 186 em 2024, contra 210 em 2024.
Desde 2020, o Espírito Santo vem derrubando, ano a ano, o número de homicídios. Em 2024, fechou com 852, uma queda de -12,79% em relação a 2023. Os números até o momento em 2025 apontam média de 2,18 homicídios por dia, projetando o fechamento do ano abaixo dos 800 homicídios, a melhor marca da série histórica.

SAZONALIDADE
Titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Colatina, o delegado Deverly Pereira Júnior, considera que, apesar do “ligeiro aumento”, as ocorrências estão dentro de uma média histórica, que é de dois homicídios por mês na cidade.
“É a continuidade de um cenário que a gente observou ao longo de 2024. O que houve nesse início de ano é que houve um pouco de aumento em relação à média geral, mas que creditamos à sazonalidade. Nesse meio tivemos um bebê, que ainda estamos investigando, um crime de vingança e cinco crimes ligados ao tráfico de drogas. Não estamos verificando tendência de aumento, mas estamos observando para agir em caso de percepção de qualquer alteração neste sentido”, disse o delegado.
Baixo Guandu, que vinha numa temporada de paz, já teve quatro homicídios este ano, o último deles nesta quarta-feira (26), quando uma mulher foi morta a golpes de facão por um homem, supostamente, com problemas psiquiátricos.
Alto Rio Novo, São Domingos do Norte, Governador Lindemberg e Marilândia não tiveram homicídios.
PAZ NO CONTESTADO
O melhor desempenho na Região foi da AISP 11, chamada zona do contestado, sediada em Barra de São Francisco (composta, ainda, por Ecoporanga, Mantenópolis, Águia Branca e Água Doce do Norte), que nos anos anteriores havia destoado dentro do Noroeste.
Neste período, a área reduziu em 50% os homicídios, de dez para cinco, sendo três em Barra de São Francisco, um em Ecoporanga e outro em Água Doce do Norte. Águia Branca e Mantenópolis não tiveram, ainda, homicídios este ano. Nenhum município teve aumento em relação a 2024.
Depois de um ano de 2024 complicado, a Polícia Militar intensificou o patrulhamento e ações de repressão em regiões conhecidas por concentrar o movimento de tráfico de drogas.
Apesar do bom desempenho, o titular da 14ª Delegacia Regional da Polícia Civil, delegado Leonardo Foratine, disse que não há nada a comemorar: “É como eu disse disse na reunião da AISP hoje, não temos nada a comemorar. Apesar da redução, nossos números estão mais elevados do que os da AIPS de Nova Venécia. Não podemos esmorecer”.

FORA DA CURVA
Um fato que chama a atenção é a AISP 23, de atuação da 19ª Companhia Independente da Polícia Militar, criada em 2021 para conter a criminalidade na zona de grande desenvolvimento do agronegócio.
Os pontos fora da curva são Mucurici e Ponto Belo, que eram municípios que passaram anos sem homicídios, mas que neste início de ano respondem por 60% dos casos ocorridos na região.
São dois homicídios em Mucurici (5.660 habitantes) e um em Ponto Belo (6.696 habitantes), duas das menores populações do Espírito Santo. Os outros dois foram em Montanha. Pinheiros, a maior cidade da região, está há quase sete meses sem registrar mortes violentas.
Pode-se observar que todos os crimes foram em municípios nas divisas com Minas Gerais e Bahia, em zonas que vêm tendo conflitos entre organizações criminosas, em disputa pelo movimento de tráfico de drogas (Comando Vermelho x Terceiro Comando Puro.
PAVÃO PACÍFICO
Vila Pavão é a cidade mais pacífica de todo o Norte do Espírito Santo, há 504 dias sem homicídios. O último foi no dia 6 de novembro de 2023.
Em todo o Estado, a cidade há mais tempo sem homicídios é Muqui, no Sul do Espírito Santo, há 1.349 dias em morte violenta (o último crime foi dia 14 de julho de 2021).
Na Área Integrada 02, foram registrados nesse período os mesmos seis homicídios de 2024, sendo dois em Nova Venécia, dois em São Gabriel da Palha e dois em Boa Esperança.
NORTE
A RISP Norte (compreendida por municípios da faixa litorânea, de Fundão a Pedro Canário, mais Vila Valério e Rio Bananal), que em 2024 registrou o menor número de homicídios da série histórica de 21 anos, com 175 crimes desta natureza, mantém a tendência de queda.
O Norte (jurisdição da Superintendência Regional Norte, da PC, e CPO-Norte, da PM) teve uma redução de -9,3% nos homicídios neste primeiro trimestre, até o dia 26, em relação ao mesmo período em 2025. São 44 neste ano contra 48 no ano passado.
Aracruz, Linhares, Sooretama, Jaguaré e Pedro Canário tiveram aumento. São Mateus, das maiores cidades, está com o melhor desempenho, com queda de -47%.
METROPOLITANA
A Região Metropolitana foi a que teve a maior queda no número de homicídios: 86 em 2025 contra 107 em 2024, uma queda de -19,6%.
Serra caiu -47%, Vitória -20%, Vila Velha -11,11%, Viana -25%, enquanto dois municípios tiveram alta: Guarapari com 20% de elevação e Cariacica 12%, principalmente na região da 16ª Companhia Independente da PM, que cobre da Rodovia do Contorno, bairros Mucuri e Vila Independência, até as divisas com Viana e com Domingos Martins.
SUL
A Região Sul teve o segundo melhor desempenho, com -18,2% no número de homicídios: 18 em 2025 contra 24 em 2024. Destaque para as áreas litorâneas, de Anchieta a Presidente Kennedy, onde somente Itapemirim teve ligeira elevação, além da área de divisa com o Rio de Janeiro e a área de Cachoeiro (Vargem Alta e Castelo), todas com baixo índice de homicídios.
A única área que teve elevação foi no Caparaó Sul (AISP 03), com cinco homicídios este ano contra três no ano passado. Alegre, Divino de São Lourenço e São José do Calçado começaram o ano no vermelho.
SERRANA
Por fim, a Região Serrana teve redução de -11,1%, sempre com números relativos de homicídios bem baixos. Em 2024 foram 11, enquanto em 2025 foram 10, em seis municípios, próximos à divisa com Minas Gerais, quase todos também no Caparaó Norte (AISP 14).
São 18 municípios na região Serrana e em nenhuma das áreas integradas houve elevação em relação ao ano passado. (José Caldas da Costa, Editor Sênior)
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