
O próximo dia 15, segunda-feira de Carnaval, vai marcar mais uma etapa na refundação do Santos Futebol Clube de Barra de São Francisco. Fundado em 8 de março de 1964, pouco antes do golpe militar, o Santos, também conhecido como “Terror do Norte”, teve no atual prefeito, Enivaldo dos Anjos (PSD), um dos principais incentivadores durante toda sua trajetória.
No dia 15, às 18h, no auditório do antigo Colégio Santa Teresinha, será realizada uma reunião para eleger o presidente e o vice-presidente do clube, passo fundamental para que Santos possa voltar a treinar e se preparar para a primeira competição que vai disputar, justamente a Copa Norte, título que ganhou em 2010.
Mesmo antes de ser eleito prefeito, Enivaldo já sinalizava que traria de volta o futebol profissional para Barra de São Francisco e isso se daria através da refundação do Santos, que nunca deixou de existir no papel, mas ficou desativado por muitos anos.

A última conquista do Terror do Norte, em 2010, foi a Copa Norte, competição que muitas vezes tem nível semelhante ao da série B capixaba com vários atletas profissionais defendendo as equipes, principalmente nas fases finais.
Jogadores e ex-jogadores de renome no país sempre são contratados para partidas pontuais. Túlio, Donizete, o Pantera, Viola e Odvan são alguns nomes que marcaram presença nesta competição.

No Santos, Osmar e Dower, ambos zagueiros, marcaram época defendendo esta camisa, os dois contratados por Enivaldo dos Anjos, torcedor ferrenho e dirigente do clube por vários anos. Os dois jogadores são sempre lembrados por torcedores mais saudosistas que viram o Terror do Norte jogar até de igual para igual contra o Vasco da Gama (RJ).
Técnico já está acertado

Uma coisa é certa, o Santos já tem técnico. Trata-se de Francisco Chagas Eloi, que completa 66 anos no dia 17 de fevereiro próximo e, três dias depois, desembarca no Espírito Santo pela primeira vez como técnico de futebol com o mesmo entusiasmo de seus melhores dias em equipes profissionais brasileiras e europeia e com uma promessa: “Independente do time que eu passar aí, quero deixar um legado. Quero que as pessoas se lembrem de mim pelo ser humano e pelo profissional. Que as novas gerações possam se inspirar nas histórias que tenho para contar e nos ensinamentos que trago delas”.
E história é o que não falta. As novas gerações, jovens e adolescentes que gostam de futebol, talvez nunca tenham ouvido falar dele, mas Eloi fez história por onde passou, nos anos 70, 80 e início de 90, seja no futebol europeu, onde foi campeão da Champions League, como em times brasileiros como Vasco, Botafogo, América, Fluminense, Cruzeiro e Santos, onde viveu a maior emoção de sua vida.
Santos de novo
Ser convidado pelo empresário José Carlos Carioca, a pedido de Enivaldo dos Anjos, para retomar como técnico o projeto da volta do “Terror do Norte”, mexeu com as emoções de Eloi: “O Zé Carlos, em quem tenho muita confiança, me falou das pessoas e de que o time também é Santos, usa as cores e até o escudo igual ao do Santos de Pelé. Vai ser gostoso de ativar essas memórias e poder entregar um pouco de mim para a volta do futebol na cidade. Ouvi falar bem de Barra de São Francisco e no dia 20 de fevereiro eu chego para conhecer a cidade e as pessoas, mas já chego de vez para começar a trabalhar”.
Eloi é o tipo de atleta que não envelhece porque se cuida. Aos 65 anos, ainda joga pelos times máster do Vasco e do Botafogo, corre e bate pelada com os amigos. Conta que sempre se cuidou, mas também agradece porque nunca teve uma contusão séria. “Quando o jogador sofre contusão séria, a carreira começa a ser prejudicada e, depois que para, não tem mais ânimo. Eu diria que sou um atleta sexagenário. Vou chegar em Barra de São Francisco e correr com a moçada”, desafiou.
Futebol moderno

Mas, o que o Santos e o futebol capixaba podem esperar, como técnico, do ex-meia habilidoso e criativo dos anos 70 e 80? Eloi reafirma que o que mais deseja é deixar um legado e, quem sabe, “dar uma sacudida no futebol capixaba”. Ele é partidário do futebol moderno praticado na Europa e crítica as reações dos técnicos brasileiros à chegada dos europeus, resistência criada a partir do momento em que Jorge de Jesus chegou para o Flamengo.
“Passei dois anos no Porto, fui campeão da Champions League e já naquela época, em 1986 e 87, descobri que os técnicos brasileiros já estavam 20 anos atrasados em relação aos europeus. Os caras lá tinham estudado o futebol e continuam estudando, por isso que o Jesus fez essa revolução com o Flamengo. É nessa proposta que eu acredito e vou levar isso para o Santos, mesmo que ainda esteja recomeçando por uma competição amadora. Fico feliz de saber que o presidente de honra quer o time de volta ao profissionalismo. Quero dar minha contribuição”, disse Eloi.
O ex-meia, que já andou sendo técnico de alguns times, o último deles o América do Rio – “sem estrutura nenhuma, sem apoio aos atletas, muito diferente daquele time Campeão dos Campeões de 1982, onde joguei” -, promete não deixar passar um dia sequer sem ensinar o que sabe.
“Há pouco tempo vi uma entrevista do Murici criticando o fato de os treinadores europeus que vêm para o Brasil darem descanso aos jogadores. Mas ele está errado. O atleta tem que se recuperar, por isso que o técnico europeu faz revezamento. Na minha época, os caras falavam que um 10 como eu não era para marcar, era para esperar lá na frente e decidir o jogo. A gente fazia isso, mas hoje em dia todo mundo tem que participar do jogo. O futebol hoje é 90% condicionamento físico e 10% técnica. Não ter essa visão está fazendo o futebol brasileiro perder todas as Copas e não sei quando ganharemos de novo”, disse.
E finaliza: “Minha filosofia é essa. Se fosse trabalhar num clube já formado, os jogadores teriam que ter a mentalidade de que o futebol evoluiu. Só jogar bola hoje não resolve”.
Portanto, quem for jogar no Santos de Barra de São Francisco com Eloi já pode se preparar, pois já sabe o que vai encontrar. “Eloi tem capacidade e história. Trabalhei 10 anos com o Enivaldo no Rio Branco e estou feliz de voltar agora com o Santos e, a partir de Barra de São Francisco, impactar o futebol capixaba”, revelou o empresário José Carlos Carioca. (Da Redação com José Caldas da Costa e www.memoriafutebolcapixaba.blogspot.com/)
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