O dia 24 de julho ficará marcado pelas mortes de duas cantoras que marcaram época no Brasil: Adelina Doris Monteiro (21 de outubro de 1934) e Leny de Andrade Lima (26 de janeiro de 1943), ambas nascidas no Rio de Janeiro.
Doris Monteiro nunca precisou elevar a voz para se impor como cantora. Ela morreu na madrugada de hoje, aos 88 anos, de causas naturais, na casa em que vivia na cidade natal do Rio de Janeiro (RJ) – imprimiu o nome na história da música brasileira pelo canto cheio de charme e bossa. Um canto sem vibratos e sem impostações, mas com suingue que ficaria mais explicitado a partir dos anos 1960.
Carioca, nascida no berço da bossa nova e de algumas matrizes do samba, Leny Andrade era outro grande nome da música brasileira.
Ausente dos cenários musicais por questões de saúde, a cantora gravou sua última música em 2022: o single gravado com o pianista Gilson Peranzzetta para festejar seus 80 anos. A música é uma composição do ano de 1957, pelos compositores Antonio Carlos Jobim e Dolores Duran. (Saiba mais sobre Leny Andrade mais abaixo).
+ Sobre Doris Monteiro
Revelada em 1949 em Papel carbono (programa da então hegemônica Rádio Nacional) e projetada nos anos 1950, década dos arroubos vocais das cantoras da era do rádio, Doris tinha tom de voz acariciante que se fez ouvir em disco a partir de 1951, ano do primeiro sucesso, Se você se importasse (Peter Pan) ao qual se seguiu, quatro anos depois, outro hit radiofônico, Dó ré mi (Fernando César, 1955).
Essa fase inicial da discografia da cantora totalizou 21 discos de 78 rotações editados pelas gravadoras Todamérica (de 1951 a 1954), Continental (de 1954 a 1957) e Columbia (de 1957 a 1960).
Contudo, o melhor estava por vir. Beneficiada pela revolução da bossa nova, gênero que abriu os ouvidos do Brasil para intérpretes de vozes menos potentes e nem por isso menos expressivas, Doris Monteiro começou a fazer discos mais modernos na gravadora Philips, na qual permaneceu de 1961 a 1965, legando álbuns como Gostoso é sambar (1963).
Mas o auge artístico da cantora veio com os 13 álbuns editados entre 1966 e 1978 por outra gravadora, a Odeon. Esses discos são o suprassumo da obra fonográfica da artista.
Nos anos 1950, Doris Monteiro seguira pelas trilhas abertas na década anterior pelos cantores Dick Farney (1921 – 1987) e Lúcio Alves (1927 – 1993) – com quem a cantora gravaria em 1978 o álbum que encerrou a áurea passagem pela gravadora Odeon – enquanto abria caminho para o canto cool de cantoras como Sylvia Telles (1935 – 1966) e Nara Leão (1942 – 1989), musas da bossa nova.
A partir da década de 1960, com os caminhos já abertos, o canto charmoso de Doris Monteiro brilhou em álbuns como Simplesmente (1966), Mudando de conversa (1969), Doris (1971) – título especialmente importante na discografia da artista – e Agora (1976). Essa fase áurea inclui quatro álbuns gravados por Doris com Miltinho (1928 – 2014), cantor também cheio de charme vocal.
A partir da década de 1980, com Doris alijada do mercado fonográfico, a discografia da cantora minguou. Desde então, a cantora lançou somente discos esporádicos, como uma antologia do samba-canção dividida em 1992 com Tito Madi (1929 – 2018) e como o recente As divas do sambalanço (2020), álbum com o registro do show apresentado por Doris com Claudette Soares e Eliana Pittman ao longo de 2019 com produção de Thiago Marques Luiz.
Doris Monteiro parte sem ter tido tempo de realizar o projeto de gravar álbum com músicas de Marcos Valle, compositor presente na discografia da artista desde os anos 1960. Mas deixa discografia que eterniza o canto suave da intérprete, um fio de voz que permanecerá como símbolo de modernidade atemporal na música brasileira.
+ Sobre Leny Andrade
A cantora Leny Andrade morreu nesta segunda-feira, 24 no Rio. A artista de 80 anos estava internada no Hospital de Clínicas de Jacarepaguá, na Zona Oeste. A informação foi confirmada pela assessoria do Retiro dos Artistas, onde Leny vivia.
O comunicado foi dado aos fãs através das redes sociais. “A diva do Jazz Brasileiro, Leny Andrade, foi improvisar no palco eterno”, diz a postagem.
Ela havia sido internada na última semana depois de ter uma piora em seu quadro clínico. A artista se recuperava de uma pneumonia desde junho, quando ficou intubada.
Desde a alta médica, ela estava de home care no Retiro dos Artistas. O estado de saúde da cantora piorou no fim de semana e ela acabou não resistindo.
A carioca vivia no local desde o fim de 2018. Em janeiro deste ano, ela havia completado 80 anos.
Carreira
Carioca, nascida no berço da bossa nova e de algumas matrizes do samba, Leny Andrade é um grande nome da música brasileira.
Ausente dos cenários musicais por questões de saúde, a cantora gravou sua última música em 2022: o single gravado com o pianista Gilson Peranzzetta para festejar seus 80 anos. A música é uma composição do ano de 1957, pelos compositores Antonio Carlos Jobim e Dolores Duran.
A artista totaliza 34 álbuns lançados entre 1961 e 2018, com destaque para títulos como A sensação (1961) e Estamos ai (1965). Leny sempre foi orgulhosa de dar vozes a composições de autores brasileiros e cantava português dentro e fora do país.
Leny era amiga do cantor americano Tony Bennet, e o cantor chegou até a desenhá-la. Ele partiu na última sexta-feira, 21.
Ela foi uma grande intérprete de compositores como Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994), Djavan, Ivan Lins e Roberto Menescal, entre outros gênios da música brasileira. Leny se formou no Conservatório Brasileiro de Música.
Ela também morou no México, Estados Unidos e vários países europeus, mas era o Rio que tinha o coração da carioca flamenguista.
Ela teve sua estreia profissional como crooner da orquestra de Permínio Gonçalves. Já o sucesso chegou em 1965, com o espetáculo Gemini V, com Pery Ribeiro e o Bossa Três. O show foi no Porão 73, onde um disco ao vivo foi gravado.
Considerada pelo New York Times como “um misto de Sarah Vaughan e Ella Fitzgerald da bossa nova”, Leny Andrade ganhou o Grammy Latino em 2007 juntamente com Cesár Camargo Mariano. (Da Redação com g1 Rio de Janeiro)
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