“O mais novo disse ao seu pai: ‘Pai, quero a minha parte da herança’. Assim, ele repartiu sua propriedade entre eles.”
(Lucas 15.12)
Imagino que saiba de que contexto é esse verso. É da parábola do Filho Pródigo. A narrativa de Jesus é espetacular e, a um leitor em amadurecimento e sedento por aprender sobre a vida e o Reino de Deus, cada nova leitura oferece uma nova lição.
Às vezes seguimos sempre lendo e vendo do mesmo jeito. Não porque já tenhamos nos apropriado de tudo, mas porque não buscamos amadurecimento.
Amadurecimento requer que façamos perguntas e nos deixemos indagar pelo que difere de nós, pelo que contradiga nossas certezas. Seguir sendo o mesmo, neste caso, não é sinal de integridade, mas de imaturidade.
O filho mais novo agiu de uma forma completamente reprovável ao pedir sua parte da herança. Ele se sentia dono de parte do que pertencia ao pai, que até poderia vir a ser dele, quando seu pai morresse. Mas ele não estava disposto a esperar.
O pai da parábola, certamente em contradição à esmagadora maioria dos pais da época e possivelmente também de hoje, atendeu ao pedido.
Jesus está procurando realçar algo aqui. A ideia não é ensinar sobre filhos e heranças. Jesus está expondo o coração de um pai e revelando do que um pai, segundo o coração de Deus, é feito!
Pai é sinônimo de provisão e autoridade na maioria das culturas. Muitos de nós somos do tempo em que nossos pais não precisavam dizer nada. Bastava um olhar. E talvez tenhamos sido formados com a ideia de que a constituição ideal de um pai tem a ver com isso: autoridade, disciplina e até mesmo poder.
Habitados por essa crença, facilmente nos tornamos pessoas que se iram facilmente quando nossa autoridade é colocada em dúvida. Ou nossa disciplina não surte o efeito. Ou ferem nosso ego inflado pela ideia de que temos poder. E aí filhos e mesmo cônjuges podem ser facilmente feridos.
O pai da parábola de Jesus é diferente. Ele é feito de amor. Seus bens não são mais importantes que seus filhos. Ele não precisa se sentir o senhor da situação e ter seu filho mais novo seguindo estritamente suas regras.
Jesus poderia ter desenhado um pai autoritário e disciplinador mas, por alguma razão, o pai descrito por Ele é marcado pela paciência e pelo amor.
Entendemos muito pouco sobre como as pessoas são formadas e costumamos aplicar aos outros os métodos que aplicaram em nós. Se sofremos, os outros precisam sofrer. Se nos humilharam, humilhamos.
Destaco esses aspectos negativos porque eles são muito recorrentes e os que assim agem nem sempre refletem a respeito.
Pessoas são especialmente bem formadas pelo amor, pelo respeito e pelo acolhimento. Por isso Deus sempre age assim conosco. Ele sabe como nos transformar! Ele tem toda autoridade, tem todo poder e sabe muito bem como usar. Mas escolheu ser gracioso e amoroso conosco.
Nada contribui tanto para um ser humano saudável quanto um pai amoroso! O pai da parábola reparte a herança. O restante da história sabemos.
Sermos pais amorosos não significa que nossos filhos responderão bem de imediato. Não significa que vamos sempre ser atendidos e eles serão um orgulho. Mas significa que estaremos dando o melhor aos nossos filhos e filhas.
Pais verdadeiros são feitos de amor e de tudo que o amor inspira.
Sei que é popular a ideia de que disciplinar também é amar. E muitos do que dizem isso costumam chamar punição de disciplina. E sim, dizer “não” e estabelecer limites também se pode fazer com amor. Mas o amor não se define por essas coisas.
O amor pode e deve ser a razão do “não” e da disciplina. E deve determinar o modo como diremos o não e a forma de disciplinarmos. Mas a ênfase da paternidade deve ser outra. Repito: pais que abençoam seus filhos são feitos de amor e de tudo que o amor inspira.
A verdade é que nem todos sabemos amar. A verdade é que a maioria não sabe. E há pessoas, infelizmente, que sequer conhecem o amor. O Evangelho de Cristo é amor em sua forma mais pura ofertado a nós. Deixemos o Evangelho fazer o seu trabalho. Amadureçamos para ver com novos olhos. Aceitemos questionamentos sobre “aquela velha opinião formada sobre tudo”.
O amor sempre nos renova para a vida. Sejamos pais ou não, a verdade é que, verdadeiros seres humanos, verdadeiros cristãos, verdadeiros seguidores de Jesus, são feitos de amor. O resto depende apenas de amadurecermos!
Comente este post