Usiel Carneiro de Souza*
Creio que minha sina aqui neste “meu” espaço seja oscilar entre fé e cidadania. Definitivamente os últimos anos me fizeram entender a importância de uma para a outra. Minha fé se revela em minha cidadania e minha cidadania o faz também sobre minha fé. Elas precisam andar de mãos dadas e se revelam, irresistivelmente. Quero seguir robustecendo minha fé e minha cidadania e estou empolgado com o diálogo entre as duas.
Neste primeiro quarto de século, as estruturas de quase tudo têm sido abaladas. Vivemos tempos de muita produção, tecnologia e inovação. A fluidez e diversidade presentes na vida estremecem nossos genes herdados, amantes da permanência e conformados com alternâncias, mas sempre resistentes e incomodados com mudanças. Além de nos inquietarem, mudanças já levaram seus proponentes à morte. E hoje acontecem a velocidades e alcances antes não cridos. Isso exige mais diálogo e mais aprendizado e não menos!
Precisamos aprender a ler o presente para discernir para onde estamos indo, pois podemos ser criadores de nossas tragédias! Agarrar-se ao ontem não é o remédio. Tornar-se amargo e agressivo é infantilidade. Precisamos procurar conhecer e entender. Especialmente pessoas. Especialmente pessoas diferentes. As parecidas já têm nossa posição.
Precisamos melhorar nosso discernimento sobre os atos e as atitudes dos atores políticos. Eles receberam muito poder e isso é nossa responsabilidade. Não devemos ficar na paixão quando o assunto é nosso apoio ou resistência. Precisamos de perspectivas que nos possibilitem superar imediatismos e nos protejam de ilusionistas.
Como sabem, diferente de muitos de meus amigos (alguns dos quais continuam meus amigos), a eleição de Lula me trouxe alívio, enquanto a eles, insatisfação e decepção. E, agora, o que anseio não é defender o candidato em que votei, mas crescer na possibilidade de discernir os caminhos do governo que ele fará.
Tenho esperanças e medos. Quero depura-los. Quero melhorar meu olhar. Pois uma coisa a mim ficou clara nestes últimos anos: é possível usar a democracia para matar a democracia. E isso exige muito mais de minha cidadania.
* Usiel Carneiro de Souza é teólogo, administrador e pastor da Igreja Batista da Praia do Canto (Vitória – ES)
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