
“Faz pelo menos 30 anos que não piso nesse gramado. É tão bom encontrar as pessoas animadas, motivadas, e tudo isso tão bem cuidado”. Assim reagiu o ex-craque Carlos Henrique, ponta-esquerda revelado pela Desportiva Ferroviária e negociado com o Flamengo um ano após o clube vender Geovani para o Vasco, entre os anos 1979 e 80.

O ex-ponta-esquerda ficou em silêncio, porém, quando o presidente do clube, Carlinhos Farias, contou a rápida história das últimas décadas e que a Desportiva não tem mais as divisões de base para revelar talentos como nos tempos em que revelou, além de Carlos Henrique, jogadores como Geovani, Batalha, Lucinho, o goleiro Rogério e os meias Célio e Paulistinha.
Carlos Henrique aproveitou bem a oportunidade e brilhou no time rubro-negro, chegando a barrar o ídolo da casa Júlio César Urigheler, no famoso time de Zico & Cia que foi campeão brasileiro, sul-americano e mundial em 1981. Depois, Carlos Henrique saiu para o Palmeiras, jogando também no América do Rio, Londrina, Coritiba, Cerro Porteño (Paraguai), antes de encerrar a carreira no futebol peruano.

REENCONTRO
No estádio Engenheiro Araripe, Carlos Henrique posou com o time que se prepara para estrear no Capixabão, sábado (21), contra o Vitória, e encontrou antigos companheiros daquela geração de ouro da Desportiva, formada em suas divisões de base dos anos 70: o zagueiro Lúcio Antônio, o ponta-direita Ivando e o lateral Lucinho, que foi o responsável pelo seu apelido de Calango. “Ele corria feito um calango, ninguém pegava”, disse Lucinho, entre muitas recordações de histórias do futebol grená daqueles tempos.

“Fininho”, Carlos Henrique foi recebido pelo presidente Carlinhos Faria e pelo diretor Pedro Soares, que também foi jogador na mesma época do ponta, que foi descoberto no futebol amador de Cachoeiro de Itapemirim pelo garimpador de talentos Lúcio Oliveira e trazido para Jardim América ainda para a equipe de juniores.
Morando nos Estados Unidos, em Baltimore, mas cada vez mais presente no Estado por força de uma empresa de rochas ornamentais que montou com um de seus irmãos em Marataízes, Carlos Henrique havia se desligado completamente do futebol e nunca mais reencontrou seus antigos companheiros capixabas até que em meados de 2020 foi descoberto pelo jornalista José Caldas da Costa que fez uma série de reportagens para um site de Cachoeiro de Itapemirim. Na mesma ocasião, o jornalista fez a conexão do ex-craque com antigos colegas.

Na visita desta quinta (19), uma presença marcante também foi a do jornalista-radialista Ruy Monte, por quem Carlos Henrique nutre um carinho especial em função da ajuda que na época esse profissional prestou ao jovem atleta recém-chegado do interior.
Lucinho, hoje advogado criminalista, aproveitou para recordar muitas histórias da época. Dentre elas, a aventura que foi a viagem de Carlos Henrique para se apresentar ao Flamengo, no Rio de Janeiro. “Na época eu já havia me transferido para o Fluminense e estava em Vitória a passeio. Foi quando o Ruy Monte foi levar o Carlos Henrique ao Rio para se apresentar ao Flamengo e peguei carona”, disse Lucinho.
O ex-lateral recordou-se os perrengues da viagem: “O Ruy tinha um corcelzinho vermelho e fomos nós três. Passamos em Cachoeiro e pegamos o seu Pedro, pai do Carlos Henrique. Em Rio Bonito, os guardas federais apitaram e o Ruy não parou. De repente, duas viaturas estavam nos perseguindo e nos fecharam. Os federais desceram de armas em punho e enquadraram nós quatro. Carlos Henrique tentou argumentar que estava indo para o Flamengo, mas eles não quiseram saber. Estava todo mundo deitado no capô do carro quando o Ruy conseguiu tirar a carteira de jornalista e apresentar. Foi o que nos salvou”.
No Rio, Lucinho e Carlos Henrique conviveram muito e o ex-lateral recorda-se de muitas outras histórias. Mesmo as mais complicadas hoje são divertidas. Contou, por exemplo, que Carlos Henrique tinha comprado um Passat preto, morava em Copacabana e um dia estava bem desfilando de vidro aberto quando a polícia o abordou e mandou sair de mãos para cima e deitar sobre o capô.
“Carlos Henrique naquelas alturas já era conhecido, mas os guardas não o reconheceram. Ele conseguiu tirar um documento e falar que era o Carlos Henrique do Flamengo. Para sorte dele, os guardas eram flamenguistas e falaram: Pô, é o Carlos Henrique, nosso ponta que barrou o Júlio César. Antes de ir embora, o Calango aproveitou para censurar a abordagem: é, vocês não podem ver um pretinho num carro desses que logo acham que é bandido, né?”, contou Lucinho.
CARREIRA
CARLOS HENRIQUE ROSA PARIS, veloz ponta-esquerda campeão brasileiro pelo Flamengo em 1980 e que jogou no Palmeiras em 1983 e 84. Nasceu dia 17.06.1959 em Cachoeiro de Itapemirim (ES), de onde, das escolinhas do Grêmio Santo Agostinho, clube da Vila Rica, bairro onde nasceu e cresceu, saiu para as divisões de base da Desportiva Ferroviária (ES).
Destacou-se jogando pela Seleção Capixaba no Campeonato Brasileiro Sub-20 e chamou a atenção do Flamengo, que o contratou em 1979. Depois da final do Brasileiro de 1980, foi emprestado ao Goiás e, quando retornou ao rubro-negro, jogou as primeiras rodadas do Brasileiro de 1981 como titular do time comandado por Modesto Bria.

Com a iminente chegada de Dino Sani, aceitou uma proposta de jogar por empréstimo no Londrina(PR), que comprou seu passe no final do ano. Foi campeão paranaense e artilheiro da competição pelo Londrina em 1981. Em 1982, foi o segundo principal artilheiro do time e acabou vendido para o Palmeiras, onde jogou ao lado do goleiro João Marcos, do zagueiro Luiz Pereira, do meia Batista e dos atacantes Jorginho e Enéas.
Foi contra seu ex-clube, o Flamengo, que fez um dos gols mais bonitos da carreira, em 1983, na vitória do Palmeiras por 3 a 1. Carlos Henrique fez 59 partidas pelo Palmeiras, entre 1983 e 1984 (com 19 vitórias, 32 empates e oito derrotas), e marcou 10 gols.
Estava cotado para ser convocado para a Seleção Brasileira em 1984, mas sofreu uma grave contusão no tornozelo dias antes da convocação. Mesmo contundido, foi contratado pelo Atlético Paranaense. De lá, foi para o Grêmio Maringá, onde jogou em 1985 e 1986, quando no segundo semestre esteve emprestado ao Ubiratan, de Dourados (MS). Em 1987, foi vendido ao Uberlândia, onde foi um dos destaques do time na boa campanha no Campeonato Mineiro (4º lugar) e no título do Brasileiro do Módulo Azul.
Foi vendido ao Coritiba e, de lá, para o Criciúma, e onde saiu para sua carreira internacional, levado pelo técnico Edu Antunes Coimbra, irmão de Zico, para jogar no Barcelona de Guaiaquil, em 1988. Ainda teve breve passagem no Cerro Porteño, do Paraguai, antes de se transferir para o futebol peruano, inicialmente no Alianza Lima, mas marcando época mesmo no Sport Boys, campeão peruano da segunda divisão em 1989.
Foi vice-campeão peruano da primeira divisão em 1990 pelo Sport Boys, com Cláudio Adão sendo artilheiro com 46 gols, e novamente em 1991. Disputou duas Libertadores da América, em 1991 e 1992. No Peru, não era Carlos Henrique, era conhecido como Páris.
Jogou também no Sporting Cristal, teve passagem pelo futebol europeu, e retornou ao Peru, para encerrar a carreira em 1996 e investir em restaurante e durante algum tempo como empresário de jogadores de futebol.
Em 2002, mudou-se para os Estados Unidos, onde vive atualmente como dono de uma empresa de jardinagem e de imóveis nos arredores de Baltimore, cidade portuária da costa leste americana, a mais populosa do Estado de Maryland, com cerca de 700 mil habitantes, onde ficam a Universidade Johns Hopkins e o Hospital Johns Hopkins. (Da Redação com José Caldas da Costa)
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