*Álvaro José Silva
É incrível um intelectual brilhante como o ex-ministro Sílvio de Almeida, dono de trabalhos de grande relevância no terreno dos direitos humanos e igualdade racial, se envolver como autor num escândalo da magnitude do que foi vivido em Brasília semana última.
O estrago para ele é de tal dimensão que seria até uma questão de misericórdia o governo Lula deixá-lo em paz agora para lamber suas feridas e tentar ao menos manter o casamento.
A ministra Anielle Franco poderia ter sido poupada de envolvimento no caso, já que foi vítima e, ao que parece, não a única. Assédio sexual como o praticado não pode ter perdão.
Mas esse escândalo não é único de Brasília, ao menos em gênero. Durante o governo de Fernando Collor de Mello a ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Mello, e o da Justiça, Bernardo Cabral, tiveram um tórrido romance classificado pelo presidente da época como “nitroglicerina pura”.
Na festa de aniversário de 37 anos dela, os dois foram flagrados dançando, rostinhos colados e cantarolando “como se fuera esta noche. La última vez”. E foi! Tiveram que se separar e ele até deixou o cargo para “preservar o casamento”. Meses depois, Zélia, prima do chefe do Executivo, fez o mesmo.
A diferença abissal entre os dois fatos é que no primeiro, houve um romance real, consentido! No segundo, o de agora, um tresloucado ministro, agora ex, achou que seria de bom tom colocar as mãos entre as pernas de mulheres sem o consentimento delas. Coisa maluca!
Quem poderia imaginar, antes de tal fato acontecer, que um professor, pesquisador e estudioso de tal envergadura se poria numa situação como essa, arrastando consigo ministra de área vizinha? Ninguém, creio. Nem outra vítima, a esposa do ministro e mãe de um filho de um ano.
Sob todos os aspectos que se olhe, esse fato é extremamente lamentável. E difícil de ser explicado, embora o desmentido de Sílvio seja sua tentativa desesperada de sair do caso com danos controlados. Tentativa vã, creio.
Infelizmente, isso aconteceu. Triste é vermos que, na cauda de cometa desse drama, uma ex-ministra medíocre e que costuma ver Jesus no pé de goiaba, tente tirar proveito da situação em beneficio próprio, rasteiro.
Pobre Sílvio de Almeida, em que buraco você foi se meter!
Talvez por burrice, talvez por não saber controlar seus impulsos, acabou entrando numa caverna escura “como si fuera esta noche. Lá última vez”. E também foi, só que muito mais dolorosa. Será marca, cicatriz moral em sua vida pelo resto de seus dias, depois de ter traumatizado mulheres que confiavam em você.
Alvaro José Silva é jornalista, escritor, membro da Academia Espírito-Santense de Letras
Foto: BandNews/ Reprodução Luana Neiva
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