A certidão de óbito de Rubens Paiva, cuja história é contada no filme “Ainda Estou Aqui“, foi retificada nesta quinta-feira (23) para constar que o ex-deputado teve morte violenta e causada pelo Estado brasileiro durante a ditadura militar.
A informação foi revelada pela TV Globo e confirmada pela Folha.
A nova versão do documento indica que a causa da morte foi “não natural; violenta; causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial instaurado em 1964”.
A mudança atende a uma determinação do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) de dezembro do ano passado para que cartórios de registro civil lavrem ou corrijam os documentos de pessoas mortas e desaparecidas políticas.

“É um acerto de contas legítimo com o passado“, afirmou na ocasião o presidente do conselho e presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Luís Roberto Barroso. A iniciativa foi do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
De acordo com o CNJ, levantamento realizado pelo ONRCPN (Operador Nacional do Registro Civil de Pessoas Naturais) mostrou que há 202 casos de retificação de certidões de óbito e 232 novos registros de óbito a serem produzidos.
A história de Rubens Beyrodt Paiva, engenheiro, empresário e político brasileiro, é contada no longa de 2024 “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles e protagonizado por Fernanda Torres, Selton Mello e Fernanda Montenegro.
A obra é a adaptação para o cinema do livro homônimo do escritor Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado perseguido e desaparecido durante a ditadura militar no Brasil, e conta a história da mãe, Eunice Paiva.
Também na última quinta-feira, Fernanda Torres foi indicada ao Oscar de melhor atriz pelo desempenho no filme. A obra, por sua vez, foi indicada a melhor filme e melhor filme internacional, sendo o primeiro longa do país a disputar o prêmio principal.
Exilou-se na embaixada da Iugoslávia, no Rio de Janeiro e, em junho de 1964, deixou o Brasil, partindo para a França e depois para a Inglaterra. Retornou ao país natal no início de 1965 onde se instalou com a família inicialmente em São Paulo, e, depois, no Rio de Janeiro.
Em 1971, agentes da repressão invadiram a casa do deputado cassado, que tinha 41 anos, e o levaram em seu próprio carro para prestar depoimento. Desde o sequestro as torturas já teriam sido iniciadas. Enquanto isso, a família permanecia incomunicável e detida em casa.
Informações colhidas pela CNV (Comissão Nacional da Verdade) apontam para a permanência de Rubens Paiva em unidade do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna), onde teria sido torturado e executado.
Eunice Paiva se tornou símbolo de luta contra ditadura militar pelo papel de busca ativa por informações sobre o paradeiro do marido. Ela chegou a ser detida e, depois da libertação, passou a exigir a verdade sobre Rubens.
Eunice Paiva morreu aos 89 anos, em 2018, em São Paulo. (Da Redação com Folha de São Paulo)
CAPA: Eunice Paiva com a certidão de óbito de Rubens Paiva. Foto: Eduardo Knaap/FolhaPreess
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