O presidente Jair Bolsonaro, candidato pelo PL à reeleição, repetiu nesta segunda-feira, 22, em entrevista ao Jornal Nacional, suspeitas mentirosas sobre as urnas eletrônicas. Ele também disse que aceitará o resultado das eleições, “desde que sejam limpas”, e defendeu a aliança com o Centrão.
O presidente também afirmou: que usou uma “figura de linguagem” da literatura quando disse que quem tomasse vacina poderia virar “jacaré”;
que a relação com o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), “pelo que tudo indica”, está “pacificada”;
que seus apoiadores fazem uso da “liberdade de expressão” quando pedem para fechar o Congresso.
Bolsonaro foi o primeiro candidato a participar da série de entrevistas do JN. Os próximos serão Ciro Gomes (PDT), nesta terça-feira, 23; Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na quinta-feira, 25; e Simone Tebet (MDB), na sexta-feira, 26.
Foram convidados os cinco candidatos mais bem colocados na pesquisa divulgada pelo Datafolha em 28 de julho. André Janones (Avante), que estava entre os cinco, retirou a candidatura.
Um sorteio realizado em 1º de agosto com representantes dos partidos definiu as datas e a ordem das entrevistas.
Compromisso com as eleições
Questionado se assumiria em rede nacional um compromisso de respeito ao resultado das urnas, Bolsonaro disse: “Seja qual for (o resultado das urnas), eleições limpas devem e têm que ser respeitadas. Limpas e transparentes tem que ser respeitadas”.
O presidente repetiu suspeitas mentirosas sobre as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral. Os ataques de Bolsonaro já foram desmentidos por autoridades oficiais e especialistas.
“Em 2014, tivemos eleições. No segundo turno, o PSDB duvidou da lisura das eleições e contratou uma auditoria. A conclusão da auditoria do PSDB: as urnas são inauditáveis”, disse o candidato. Mas, ao contrário do que ele afirma, as urnas são auditáveis e seguras.
Bolsonaro também repetiu que um hacker atacou o sistema do TSE em 2018. A ação do hacker, de acordo com as autoridades, não afetou de nenhuma maneira a contagem dos votos ou a segurança das urnas.
“Vocês, com toda certeza, não leram o inquérito de 2018 da Polícia Federal, que inclusive está inconcluso. É aquela pergunta que eu sempre faço: se você pode colocar uma tranca a mais na sua casa para evitar que ela seja assaltada, você vai fazer ou não? Então esse é o objetivo disso que eu tenho falado sobre o Tribunal Superior Eleitoral”, argumentou o candidato.
Relação com o presidente do TSE
Bolsonaro também lembrou que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, tem uma reunião com o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, para tratar da segurança das urnas eletrônicas. As Forças Armadas, junto com o TSE e outros órgãos, compõem a comissão que fiscalizam as urnas.
“Teremos eleições. O ministro Moraes acabou de assumir. Amanhã ele tem encontro com o ministro da Defesa para tratar de transparência. Tenho certeza que vão conversar e chegar a um bom termo. Precisei provocar. Pode ficar tranquilo. Terão eleições limpas e transparentes no corrente ano”, afirmou Bolsonaro.
Ataques ao sistema eleitoral brasileiro e sobre golpe
Questionado sobre os repetidos ataques contra o sistema eleitoral e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro disse num primeiro que nunca havia xingado um ministro.
Depois, confrontado com o fato de ter chamado Alexandre de Moraes de “canalha”, afirmou que usou essa palavra porque “a temperatura subiu” em dado momento do ano passado. Segundo Bolsonaro, “pelo que tudo indica”, a relação com Moraes agora está “pacificada”.
Moraes é relator dos inquéritos das fake news, que investigam a disseminação organizada de informações falsas pelas redes sociais, e dos atos antidemocráticos, que investigam manifestações de rua que atacam as instituições do Estado de Direito. Bolsonaro é investigado no das fake news por causa dos ataques às urnas.
“As medidas que vinham sendo tomadas por esse ministro eram contestáveis. Lá atrás, inclusive, a procuradora Raquel Dodge deu um parecer para que esse inquérito deixasse de existir, e continua existindo. A temperatura subiu. Hoje em dia, pelo que tudo indica, está pacificado. Espero que seja uma página virada”, disse Bolsonaro.
Ele citou a posse de Moraes na semana passada, evento que reuniu autoridades, ex-presidentes da República e o próprio Bolsonaro.
“Até você deve ter visto, por ocasião da posse do senhor Alexandre de Moraes, um certo contato amistoso nosso lá. E pelo que tudo indica, está pacificado. E quem vai decidir essa questão de transparência ou não serão, em parte, as Forças Armadas que foram convidadas para participar da Comissão de Transparência Eleitoral”, completou.
Pandemia
Outro tema da entrevista foi a postura de Bolsonaro e do governo federal diante da pandemia de Covid.
O Brasil é o segundo país do mundo que mais registrou mortes pela doença: 682.746 vítimas até a noite desta segunda-feira.
Bolsonaro foi lembrado de declarações em que desestimulou a população a tomar vacina. Em uma delas, disse que a pessoa poderia virar “jacaré”. Na entrevista, o candidato se justificou: afirmou que usou uma “figura de linguagem”.
Ele disse também que o governo não aceitou as primeiras ofertas da farmacêutica Pfizer para vender vacinas ao Brasil porque a empresa não se responsabilizava por eventuais efeitos colaterais. Outros países compraram o imunizante e receberam remessas na frente do Brasil, que poderia ter recebido com antecedência.
“A questão da Pfizer, no contrato estava escrito ‘não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral’. Outra coisa, a Pfizer não apresentou quais seriam os possíveis efeitos colaterais. Daí eu usei uma figura de linguagem ‘jacaré'”, disse o presidente.
Questionado sobre a demora do governo federal para adquirir imunizantes contra Covid-19, Bolsonaro afirmou que não tinha vacina no mercado.
O presidente então foi relembrado que a Pfizer ficou 93 dias esperando resposta do Ministério da Saúde sobre uma oferta de doses para o governo brasileiro.
Além disso, Bolsonaro, em outubro de 2020, anunciou em vídeo ao lado do então ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que estava mandando suspender a compra da CoronaVac, outro imunizante contra a doença.
O presidente foi indagado se as declarações que fez durante a pandemia, como a ocasião em que respondeu “e daí? Não sou coveiro”, ao comentar a quantidade de mortes por Covid.
Ele também foi questionado quando imitou uma pessoa com falta de ar, simulando os sintomas da Covid.
Bolsonaro disse que os gestos poderiam ser interpretados como uma falta de compaixão com as pessoas próximas às vítimas. Ele foi questionado se tinha arrependimento por essa postura.
“A solidariedade eu me manifestei conversando com o povo nas ruas, visitando a periferia de Brasília, vendo pessoas humildes obrigadas a ficar em casa sem ter um só apoio do governador ou prefeito. E nós fizemos exatamente o que? Demos o auxílio emergencial imediatamente”, disse Bolsonaro.
Questionado novamente sobre o tema, o presidente disse que lamentava as mortes, mas insistiu em defender teses comprovadamente ineficazes para o combate à pandemia, como o chamado “tratamento precoce”.
“Lamento as mortes. Não tem quem não perdeu um parente ou um amigo. Lamento as mortes. Agora, não poderia ser tratada, a Covid, da forma como começou a ser tratada. E quando você fala em tratamento precoce, lembre-se que no protocolo do [ex-ministro da Saúde] Mandetta tinha o tratamento precoce lá, mas só em casos graves – onde eu não concordei com ele”, disse o presidente.
Centrão
O presidente também comentou a sua relação com o grupo da Câmara conhecido como Centrão. O grupo reúne deputados de partidos de centro e de direita. Ao longo dos últimos anos, tem se notabilizado por apoiar os governos da vez, independente de ideologia.
Bolsonaro se elegeu com o discurso da “nova política” e com críticas às antigas práticas. Em 2018, ele se apresentou como um candidato antissistema e chegou a dizer que nunca faria parte do Centrão. Entretanto, em declarações recentes, o presidente mudou o posicionamento e passou a afirmar com frequência que sempre integrou o Centrão.
Durante seus 27 anos exercendo o cargo de deputado federal, o presidente Jair Bolsonaro foi filiado aos partidos PTB (2003-2005), PFL (2005), PP (2005-2016), que integram o bloco fisiológico, e disputa as eleições pelo PL, também integrante do Centrão.
“No meu tempo não era Centrão, não existia Centrão. No meu tempo, esses partidos que eu já integrei não eram tidos como do Centrão. Agora, o importante. Nós temos um governo sem corrupção. Eu indiquei ministros por critério técnico. Eu não aceitei pressões de lugar nenhum para calar ministros”, respondeu Bolsonaro na entrevista.
Ele também afirmou que precisa do apoio desse grupo para aprovar projetos no Congresso.
“O Centrão são mais ou menos 300 parlamentares. Se eu deixar de lado, vou governar com o quê? Não vou governar com o parlamento. Então, você está me estimulando a ser um ditador. São 513 deputados, 300 são de partidos de centro, pejorativamente chamado de centrão. O lado de lá, os 200 que sobram, o pessoal do PT, PCdoB, PSOL, Rede, não dá para você conversar com eles. Até eles não teriam números suficientes para aprovar um PL comum. Então, os partidos de centro fazem parte, grande parte, da base do governo para que possamos avançar em reformas”, afirmou o presidente.
‘Liberdade de expressão’
Durante a entrevista, Bolsonaro foi lembrado de que alguns de seus apoiadores, em manifestações de rua, pedem ações inconstitucionais, como o fechamento do Congresso e a volta da ditadura.
Para Bolsonaro, essas reivindicações ilegais são “liberdade de expressão”.
“Se você vir as manifestações nossas, sem qualquer ruído, [sem] uma lata de lixo sequer virada nas ruas, eu considero isso como liberdade de expressão”, afirmou Bolsonaro.
“Quando alguns falam em fechar o Congresso, é liberdade de expressão deles. Eu não levo para esse lado. Para mim, isso aí faz parte da democracia. Eu não posso é eu ameaçar fechar o Congresso ou o STF”, completou.
Corrupção no MEC
O candidato à reeleição pelo PL foi questionado pelo JN sobre a sequência de escândalos e substituições de ministros na Educação. A pasta teve cinco chefes em um mandato, incluindo o pastor Milton Ribeiro, que chegou a ser preso por suposto favorecimento de pastores com verbas públicas.
Bolsonaro disse que “as pessoas se revelam quando chegam” e que, na visão dele, não há “nada” que incrimine Milton Ribeiro no caso dos pastores. O presidente chegou a contestar a classificação do caso como “escândalo”.
“Por muitas vezes, depois que a pessoa chega, a gente vê que ela não leva jeito para aquilo. Não foi só o da Educação, ele teve a acusação. Ele teve uma ordem de prisão, foi preso inclusive. Agora, conseguiu habeas corpus logo em seguida. Eu fiquei sabendo depois, né, que o Ministério Público do DF foi contra a prisão dele. Por quê? Não tinha nada contra. Se tiver algo hoje em dia, é outra história. Até aquele momento, não tinha nada. A questão de ter dois pastores, um, que estava no gabinete dele, qual o problema?”, disse Bolsonaro.
Interferência na Polícia Federal
Bolsonaro foi perguntado sobre as suspeitas de que tenha interferido no comando da Polícia Federal para abafar investigações de corrupção ligadas ao governo federal. Bolsonaro minimizou essa denúncia de “interferência”, mas não explicou a mudança no discurso anterior de que não havia corrupção em seu governo.
“Atualmente, temos um delegado da Polícia Federal à frente do Ministério da Justiça. Ninguém comanda a PF, Bonner. Se pudesse comandar, o Lula teria comandado, a Dilma, o Temer, seja lá quem for. Ninguém consegue comandar a Polícia Federal dessa forma como você está falando aí”, disse Bolsonaro.
O candidato foi questionado ainda sobre uma carta da Associação de Delegados da Polícia Federal que o acusa de trazer “desgaste” à imagem da corporação e jogar “desconfiança sobre a autonomia e a imparcialidade da Polícia Federal”. Bolsonaro, entretanto, creditou essa posição à luta da categoria por melhorias de salário e carreira.
“Outra coisa, eles queriam uma reestruturação de carreira agora. Eu achei até justo, mas outras categorias não concordavam com isso sem serem beneficiadas também. E daí, começou um movimento dentro, por parte de alguns delegados da PF, contrários à minha posição. O que deságua em uma nota como essa daí. Eu queria, inclusive, reestruturar a Polícia Rodoviária Federal, que era bem mais fácil e menos onerosa. Os delegados, essa mesma associação não topou fazer isso daí. Então, tem uma briga política e salarial por trás disso”, disse.
Economia
Jair Bolsonaro foi questionado sobre indicadores da economia que, atualmente, estão piores que os encontrados pelo candidato ao assumir a presidência em 2018. O candidato à reeleição creditou esses problemas à pandemia de Covid, à guerra na Ucrânia e à seca de 2021, elogiou realizações do primeiro mandato e disse que pretende manter o que vem sendo feito se for reeleito.
“O que nós pretendemos fazer? É continuar exatamente na política que vínhamos fazendo desde 2019. A grande vacina a favor da economia em 2019 foram reformas, como por exemplo a da Previdência. Foi a Lei da Liberdade Econômica, foi a modernização das Normas Regulamentadoras. […] Nós fizemos muita coisa no Brasil, atendemos realmente a todas as camadas da sociedade. Só agora na questão do IPI, a proposta do Paulo Guedes que está parada no Supremo Tribunal Federal, nós pretendemos diminuir imposto de 4 mil produtos em 35% de IPI.”
Bolsonaro citou como exemplo de boa medida o Auxílio Emergencial de R$ 600. O governo inicialmente defendia um valor menor, de R$ 300, e só aceitou elevar a cifra quando a oposição no Congresso passou a defender R$ 500 mensais.
“O próprio Auxílio Emergencial, num primeiro momento de R$ 600, fez com que a economia, em especial nos pequenos municípios, o município não colapsasse. Então essas medidas, entre outras, fizeram a gente romper 2020 e 2021”, afirmou.
O candidato à reeleição não respondeu, por fim, à pergunta inicial – o que pretende fazer para cumprir as promessas de reduzir a inflação, a taxa de juros e a cotação do dólar.
Amazônia
Outro tema da entrevista foi a preservação do meio ambiente. O governo Bolsonaro é criticado no Brasil e no exterior por políticas consideradas insuficientes para a proteção das florestas.
Questionado sobre os índices de desmatamento em seu governo, Bolsonaro alegou que a Amazônia é do tamanho de países europeus.
“Olha só, a Amazônia é do tamanho da Europa Ocidental. Ali na Amazônia cabe uma Alemanha, cabe uma França, cabe uma Itália, cabe Portugual, cabe um montão de países. Você pensa que fiscalizar, evitar de pegar fogo, [é] assim: ‘Vamos lá?'”, argumentou o candidato.
Ele também disse que há incêndios florestais em outros países.
“Agora, quando se fala em Amazônia, o que não se fala também, é na França que há mais de 30 dias está pegando fogo, a mesma coisa está pegando fogo na Espanha e Portugal, Califórnia pega fogo todo ano. No Brasil, infelizmente não é diferente, acontece, grande parte disso aí, alguma parte disso aí é criminoso, eu sei disso, outra parte não é criminoso é o Ribeirinho que toca fogo ali na sua propriedade”, afirmou Bolsonaro.
Outro ponto da entrevista foi o dado do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) que aponta que a área de floresta desmatada da Amazônia Legal em 2022 foi a maior dos últimos 15 anos. Bolsonaro disse que 30 milhões de pessoas moram na região e que “a primeira preocupação é essa”.
“Olha, você tem que pensar que na Amazônia você tem quase 30 milhões de habitantes lá, tem 30 milhões de brasileiros na Amazônia, primeira preocupação é essa. Outra, qualquer propriedade lá tem que preservar 80% e pode usufruir de 20%. Eu tentei nos primeiros dois anos de mandato fazer a regularização fundiária, para saber, por exemplo, qualquer lugar desmatado ou com foco de calor de quem é o CPF daquela propriedade. O presidente da Câmara não colaborou para botar essa propriedade adiante”.
Considerações finais
Em suas considerações finais, que tem o tempo de um minuto para todos os entrevistados, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que assumiu o governo do Brasil em “situação crítica na questão ética, moral e econômica” e que fez reformas e realizações em seu mandato antes da pandemia e da invasão da Ucrânia pela Rússia.
“Isso nós fizemos. Hoje, você nota que os preços dos combustíveis caíram assustadoramente. Nada de canetada. Com o trabalho nosso junto ao parlamento brasileiro, conseguimos R$ 600 de Auxílio Brasil para 20 milhões de pessoas mais pobres. Conseguimos transposição do São Francisco, que estava parada desde 2012, levando água para o nordeste. Nós pacificamos o MST titulando terras pelo Brasil, e 90% dessas titulações foram para as mulheres. Criamos o PIX, tirei dinheiro de banqueiros fazendo com que a população pudesse se transformar, muitos, em pequenos empresários. O PIX: sem qualquer taxação em cima do PIX. Anistiamos 99% da dívida de um milhão de jovens junto ao FIES”, afirmou Bolsonaro.
Fato ou fake na entrevista
A equipe do Fato ou Fake checou as principais declarações de Jair Bolsonaro. Leia:
“Você não está falando a verdade quando diz ‘xingar ministro’. Isso é um fake news da sua parte.”
A declaração é #FAKE. Veja por quê: Em julho de 2021, Bolsonaro chamou o ministro Luis Roberto Barros de idiota e imbecil: “Só um idiota para fazer isso aí. É um imbecil. Não pode um homem querer decidir o futuro do Brasil na fraude.”
No mês seguinte, em agosto, Barroso foi chamado de “filho da puta” por Bolsonaro, em Joinville. “Aquele filho da puta (…) está atrás de mim. Aquele filho da puta do Barroso.”
Em setembro de 2021, durante as manifestações do dia 7, o presidente chamou Moraes de “canalha”: “Sai, Alexandre de Moraes, deixe de ser canalha, deixe de oprimir o povo brasileiro.”
“Em menos de 48 horas cilindros (de oxigênio) começaram a chegar em Manaus.”
A declaração é #FAKE. Veja por quê: A principal fornecedora de oxigênio para o Amazonas, a empresa White Martins, comunicou ao Ministério da Saúde a dificuldade de produção do insumo em 8 de janeiro de 2021, segundo a Procuradoria Geral da República (PGR).
A crise da falta do insumo, que resultou em pelo menos 30 mortos, eclodiu quase uma semana depois, nos dias 14 e 15. A capacidade de três fornecedores da região era de 28,2 mil metros cúbicos diários. Mas a demanda chegou a 76,5 mil metros cúbicos em 14 de janeiro.
De fato, na madrugada do dia 15, aviões carregados com cilindros de oxigênio chegaram ao Estado. Mas eles não foram encaminhados pelo governo federal e, sim, por São Paulo e por uma empresa fornecedora. O então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou, naquele dia, que o governo não tinha capacidade para transportar cilindros por conta própria.
Ainda segundo a PGR, desde 6 de janeiro havia a recomendação de transferência dos pacientes graves para outros estados, o que só ocorreu dez dias mais tarde. A operação, responsável pela transferência de mais de 500 pacientes, se estendeu até 10 de fevereiro.
À época, artistas fizeram campanha para mandar cilindros de oxigênio aos hospitais do Amazonas. O governo da Venezuela também doou oxigênio a Manaus. Os mais de 100 mil metros cúbicos chegaram quatro dias depois de a crise eclodir.
Na ocasião, o presidente Jair Bolsonaro se defendeu e disse que “não é competência” e “nem atribuição” do governo federal levar oxigênio para o Amazonas, e que não houve omissão diante da crise.
“Nós estamos num governo sem corrupção.”
A declaração é #FAKE. Veja por quê: Ministros do governo de Jair Bolsonaro são alvos de diversas investigações por suspeita de corrupção que estão em andamento. Em 2021, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi acusado de participar de um grupo de exportação ilegal de madeira. As investigações da Polícia Federal apontaram para a existência de um “esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais”, que teria o envolvimento de Salles e de gestores do ministério e do Ibama.
Também em 2021, o então diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, foi acusado de pedir um dólar de propina por cada dose adquirida de vacina contra a Covid-19.
Em 2022, entre os casos que ganharam repercussão está o do ex-ministro da educação, Milton Ribeiro, que chegou a ser preso pela Polícia Federal. Ele é investigado por corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência por suposto envolvimento em um esquema para liberação de verbas do MEC. Ribeiro é suspeito de favorecer cidades que possuíam o intermédio de pastores aliados do ministro. Prefeitos denunciaram ainda pedidos de propina em troca da liberação de recursos para os municípios.
“O lockdown durou mais de um ano.”
A declaração é #FAKE. Veja por quê: O Brasil nunca adotou um “lockdown” rígido como o aplicado em países europeus ou na China, por exemplo, em que houve o fechamento total de bairros, ruas, fábricas e paralisação da construção civil.
O Supremo Tribunal Federal decidiu, em 15 de abril de 2020, que os governos estaduais e municipais teriam o poder para determinar regras de isolamento, quarentena e restrição de transporte e trânsito em rodovias devido à pandemia.
A partir dessa decisão, cada governo passou a tomar medidas de forma diversa. Em junho de 2020 ano, por exemplo, o estado do Rio de Janeiro já havia liberado a circulação de pessoas em qualquer ambiente público desde que utilizando máscaras. Já no estado de São Paulo, foi adotado o fechamento faseado de apenas de alguns setores do comércio, por regiões.
Mesmo as fases com medidas mais restritivas duraram apenas alguns meses.
“Nós começamos a investigar o caso dos pastores. Não foi a Polícia Federal. Nós começamos a investigar com a CGU.”
#NÃOÉBEMASSIM: Veja por quê: De fato, a Controladoria-Geral da União (CGU) abriu uma investigação em agosto de 2021 para apurar o caso, mas encerrou a investigação seis meses depois, após não encontrar nenhuma irregularidade.
A nova investigação foi aberta depois que a imprensa divulgou denúncias sobre o suposto esquema de cobrança de propina em troca da liberação de verbas do MEC para prefeituras.
Essa segunda apuração ajudou a embasar a operação da Polícia Federal que levou à prisão do ex-ministro Milton Ribeiro, em junho deste ano, de maneira preventiva. Ele foi solto no dia seguinte e segue respondendo em liberdade. O caso foi enviado ao Supremo, a pedido do Ministério Público Federal, que enxergou indício de que o presidente Jair Bolsonaro pode ter interferido na investigação.
“Os partidos de esquerda votavam contra o parcelamento dos precatórios que era condição pra gente dar lá atrás quatrocentos reais de Auxílio Brasil para esses mais necessitados.”
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: a Proposta de Emenda Constitucional 23/21, que alterou as regras de pagamento dos precatórios, foi votada em novembro de 2021 na Câmara dos Deputados. Por ser uma proposta de alteração da Constituição, a PEC depende de aprovação em dois turnos. E as votações foram diferentes.
No primeiro turno, em 3 de novembro, 21 deputados do PDT, um partido de esquerda e de oposição ao governo, participaram da votação. Quinze deles cumpriram a orientação do partido favorável ao texto e votaram pela proposta. Também houve deserções em outros partidos de oposição: nove dos deputados do PSB que participaram da votação apoiaram o texto. Os 24 votos foram fundamentais para aprovar o texto, já que propostas de emenda constitucional precisam de três quintos dos votos para serem aprovadas, ou seja, 308 deputados. Como o texto foi aprovado por 312 votos a favor, sem estes 24 votos a proposta teria sido rejeitada.
Já no segundo turno, em 9 de novembro, o PDT mudou de orientação e passou a acompanhar o PSB e o PT na oposição ao texto. Mesmo assim, cinco deputados do PDT e 9 do PSB descumpriram as determinações das legendas e votaram pela aprovação. Sem estas deserções, os votos a favor teriam caído de 323 para 309, praticamente no limite para aprovação do texto.
“Até hoje é desconhecido ainda os efeitos possíveis, efeitos colaterais da vacina.”
A declaração é #FAKE. Veja por quê: Os efeitos colaterais são conhecidos e citados nas bulas dos imunizantes registradas e aprovadas pela Anvisa. Os próprios laboratórios disponibilizam as bulas com todas essas informações online das vacinas aplicadas no Brasil: AstraZeneca, Pfizer, Coronavac e Janssen. Os documentos também informam sobre as condições de saúde nas quais a aplicação da vacina não é recomendada.
A Organização Mundial da Saúde informa que os efeitos colaterais relatados das vacinas Covid-19 têm sido, em sua maioria, leves a moderados e não duraram mais do que alguns dias. Efeitos colaterais típicos incluem dor no local da injeção, febre, fadiga, dor de cabeça, dor muscular, calafrios e diarreia. E as chances de que ocorra qualquer um desses efeitos colaterais após a vacinação variam de acordo com a vacina. Os efeitos colaterais menos comuns já relatados incluíram reações alérgicas graves como anafilaxia; no entanto, segundo a OMS, essa reação é extremamente rara.
“Eu não errei nada do que eu falei (sobre a pandemia).”
A declaração é #FAKE. Veja por quê: Bolsonaro cometeu uma série de erros, ao falar sobre a pandemia da Covid-19. Veja exemplos:
Bolsonaro disse que a eficácia de máscaras é “quase nenhuma” — Há consenso na comunidade científica que máscaras protegem as pessoas do vírus da Covid-19. Nesta reportagem, o g1 reuniu quatro estudos que mostram a importância do equipamento de segurança.
Bolsonaro orientou uso de cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina contra a Covid-19 — Os remédios são comprovadamente ineficazes contra o novo coronavírus, segundo diversos estudos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também orientou que a hidroxicloroquina não deve ser usada como prevenção à doença.
Bolsonaro cita IgG alto para não tomar vacina — O g1 listou uma série de motivos, apontados por médicos e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que mostram o porquê é um erro considerar o IgG isoladamente como sinal de imunidade contra a Covid.
Bolsonaro afirmou que um suposto relatório do TCU lançaria dúvidas sobre parte dos óbitos registrados em decorrência da pandemia — O Tribunal de Contas da União, no entanto, negou que emitiria relatório questionando o número de mortes por Covid-190.
Em fevereiro de 2020, Bolsonaro disse que “pequena crise” do coronavírus é “mais fantasia” e não “isso tudo” que a mídia propaga — A doença paralisou os mercados globais, com o registro de uma recessão global, além de ter provocado a morte de mais de 6,6 milhões de pessoas, entre elas 682 mil brasileiros.
“Nós somos o sétimo país mais digitalizado do mundo.”
A declaração é #FATO. Veja por quê: Relatório produzido pelo Banco Mundial elencou o Brasil como sétimo melhor país no quesito digitalização dos sistemas do governo. O “GovTech Maturity Index 2020” mediu a maturidade dos governos quanto ao uso de tecnologias para prestação de serviços. A plataforma “gov.br” foi bem avaliada pela instituição dentro deste levantamento.
“Nova Iorque mostra isso aí (mais pessoas se contaminaram com Covid-19 por ficar dentro de casa).”
A declaração é #FAKE. Veja por quê: Desde o início da pandemia circulam informações falsas sobre uma fala atribuída ao então governador de Nova York, Andrew Cuomo, sobre a contaminação dentro de casa. Mensagens nas redes sociais diziam, erroneamente, que ele havia usado um levantamento com pacientes de Covid-19 do Departamento de Saúde do estado para provar a ineficácia do isolamento social como forma de conter o avanço da doença.
Na ocasião, um levantamento realizado em maio de 2020 sobre pacientes hospitalizados por Covid-19 mostrava que 66% estavam isolados em casa. No entanto, Cuomo em nenhum momento usou essa informação para desacreditar o isolamento social, mas, sim, para pedir que as pessoas reforçassem os cuidados pessoais necessários, como a higienização das mãos e o uso de máscaras, e que evitassem visitar outras pessoas.
Procurada pelo g1, a equipe de Cuomo disse que ele não disse ser contra o isolamento social nem afirmou que ele se mostrou ineficiente, pelo contrário, e enviou o trecho de uma entrevista dada por ele a um programa de televisão no dia seguinte à divulgação desses dados. “Agora, chegamos a um nível em que é puramente comportamento pessoal”, afirmou o então governador de Nova York.
Ou seja, as pessoas que estavam em casa foram contaminadas porque tiveram contato com alguém infectado que não seguiu as regras do isolamento, conforme mostram estudos realizados ao longo da pandemia, como uma pesquisa dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças da Coreia (KCDC), de 20 de janeiro de 2020 a 27 de março daquele ano. Este estudo apontou que as pessoas tinham cinco vezes mais chances de pegar o coronavírus por meio da própria família do que de contatos externos. Além disso, as taxas de infecção dentro de casa eram mais altas quando os primeiros casos confirmados eram em adolescentes. Em conclusão, isso reforçava os conselhos de cientistas para manter o ensino remoto, pois a reabertura das escolas podia desencadear novos surtos.
“Conseguimos a transposição do São Francisco, que estava parada desde 2012.”
A declaração é #FAKE. Veja por quê: A obra de transposição do Rio São Francisco foi iniciada em 2007, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e estava prevista inicialmente para ser finalizada até 2012. Desde então, o projeto foi alterado em extensão e passou por quatro gestões federais, tendo trechos entregues por todos os presidentes seguintes.
Em 2015, por exemplo, Dilma Rousseff (PT) entregou a estação de bombeamento do Eixo Norte. Já em 2017, Michel Temer (MDB) inaugurou o Eixo Leste. Em junho de 2020, Bolsonaro inaugurou um dos trechos finais do Eixo Norte. A obra, no entanto, ainda não está concluída. Segundo o site do Ministério do Desenvolvimento Regional, o Eixo Norte ainda não está completamente finalizado, restando a execução de “serviços complementares”. (Da Redação com g1 Eleições 2022)
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