Uma mansão com piscina e outras condições de luxo, na favela de Nova Holanda, no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, é para onde vão líderes do tráfico de drogas do Espírito Santo quando a Polícia capixaba está prestes a pegá-los.
O lugar é conhecido como Vila Capixaba, segundo revelou o delegado Fabrício Dutra, superintendente regional Norte da Polícia Civil, Fabrício Dutra, ao lado do delegado André Jaretta Ardison, chefe da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Aracruz, a 70 quilômetros no litoral ao norte de Vitória.
Os delegados detalharam isso durante a entrevista coletiva da Polícia Civil do Espírito Santo sobre a maior apreensão de cocaína pura da história da instituição: 550kg, escondidos numa casa em Ponta da Fruta, Vila Velha.
Dutra mandou um recado para os bandidos: “Todos estão sendo monitorados pelo CIAT. Se ficarem no Rio de Janeiro, um dia a gente alcança vocês. Se vierem para o Espírito Santo, aqui não cresce”.
COMANDO VERMELHO
O traficante Bryan Lyrio Deolindo, ligado ao Comando Vermelho, organização do Rio de Janeiro, está por trás da grande quantidade de drogas aprendida. A cocaína estava embalada para envio à Europa, informou o superintendente Dutra.
A Polícia revelou que a droga é de “altíssima qualidade”. Cada tablete teve valor estimado em 40 mil euros, totalizando a apreensão em mais de R$ 100 milhões, segundo o secretário de Estado de Segurança, Leonardo Damasceno. As autoridades comemoraram a apreensão pela descapitalização da organização criminosa.
As investigações relacionadas ao feito desta quinta-feira(17.10) começaram há cerca de quatro meses, com uma apreensão de 100kg de maconha em Mimoso do Sul, transportadas por um motorista de aplicativo, e se estenderam na apuração de mortes ocorridas no Norte do Estado, especialmente de dois índios em Aracruz, e outras execuções em Colatina.
De acordo com Dutra, havia a informação de que havia também um carregamento de armas, que havia ficado em Campos dos Goytacazes. Tudo deveria ser entregue num posto de gasolina após o pedágio de MImoso do Sul, na BR 101. Bryan é quem coordena tudo isso, já havia revelado o delegado chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa de Colatina, Deverly Pereira Júnior.
Natural de João Neiva, Bryan comanda o movimento do tráfico de drogas em Colatina, no Norte do Estado, e está refugiado em áreas controladas pelo CV no Rio de Janeiro. Foi de Bryan a ordem para as mais recentes mortes relacionadas ao tráfico em Colatina. De acordo com a Polícia, Bryan tem “negócios” também em Aracruz, João Neiva, Ibiraçu, Serra e Cariacica.
O traficante está escondido no Complexo da Maré. As autoridades capixabas revelaram que ele é um braço forte do Comando Vermelho e tem duas pessoas como seus braços no Espírito Santo.
Um desses indivíduos é Átila Gonçalves Nunes, o Taru, que foi preso há cerca de três semans em Fundão, a 40km de Vitória. Taru, diz a polícia, é o responsável pelas mortes de quem atravessa a frente da organização.
Outro é Henrique Silva Lima, o “Neguinho Mascote“, que cuida da parte do recebimento das drogas, que vêm para o Espírito Santo, parte para o mercado interno, e parte para exportação à Europa, pelo porto de Roterdã, na Holanda. Henrique está sendo procurado.

RECORDE HISTÓRICO
A casa onde foi feita a maior apreensão de cocaína da história da Polícia Civil do Espírito Santo (PCES), na Ponta da Fruta, já foi residência de “Neguinho Mascote”.
A casa é de um traficante que está no sistema prisional capixaba. Não havia ninguém morando lá, mas era o imóvel, de alto padrão, inclusive com piscina, utilizado atualmente como local de guarda da droga que estava sendo preparada, possivelmente, para envio à Europa.
Inicialmente, a Polícia divulgou 500kg de cocaína. Depois da pesagem, porém, chegou a 550kg. Na casa, estava sendo preparando um bunker – um buraco com 1,80m de profundidade por 1,5 metro de largura, que estava em fase de cimentação das paredes.
A Polícia informou que no local seria acondicionada a droga e colocado o azulejo por cima. Dali, eles retirariam a droga para exportação.
Ponta da Fruta está num ponto estratégico, entre Vila Velha e Guarapari, na Rodovia do Sol. Um balneário tranquilo, com acesso ao mar, o que poderia, inclusive, facilitar o transporte da droga para navios fundeados no mar capixaba ou mesmo levado para algum porto a fim de ser escondida dentro das embarcações, como vinha acontecendo na operação descoberta para Polícia Federal, feita por um espanhol, a serviço de uma organização paulista.
A apreensão foi fruto da Operação Magnum Damnum (Grande Dano, eu alusão ao prejuízo provocado à organização cxriminosa), que envolveu a Superintendência de Polícia Regional Norte (SPRN), sediada em Aracruz, o Centro de Inteligência e Análise Telemática (Ciat) Norte e com apoio da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Aracruz e da Delegacia Especializada de Investigação Criminal (Deic) de Aracruz.
Já houve apreensões maiores em passado recente, mas pela Polícia Federal, numa operação que atacou um esquema de envio de drogas pelo PCC, organização criminosa de origem paulista, por meio dos portos capixabas. Na época, foi apreendida 1,5 tonelada de cocaína que era guardada em Interlagos, bairro próximo à Ponta da Fruta.
O superintendente regional Norte da Polícia Civil, Fabrício Dutra, fez questão de ressaltar os investimentos que o Governo do Estado fez na instalação de CIATs em todas as superintendências regionais e em Vitória, possibilitando à Polícia desenvolver investigações telemáticas que levam à maior eficácia na produção de provas e na prisão de criminosos.
VILA CAPIXABA
Bryan Lyrio Deolindo é um dos dez bandidos mais procurados pela Polícia do Espírito Santo e possui pelo menos dez mandados de prisão expedidos pela Justiça. Ele já havia sido preso anteriormente pelo Nuroc, fugiu da prisão e saiu do Estado, indo abrigar-se no Complexo da Maré, mais precisamente em Nova Holanda, no Rio de Janeiro.
O delegado Fabrício Dutra disse que no ano passado foi feita uma operação da Polícia Civil do Espírito Santo na Vila Capixabal, com apoio do Bope, na tentativa de prender Bryan, que estava lá com mais quatro elementos.
“Temos o endereço dele, sabemos onde é a casa onde ele está morando lá na Maré, é uma mansão apelidada de Vila Capixaba. É para lá que vão os bandidos aqui do Estado associados à organização criminosa carioca”, disse o delegado Jareta.
Segundo o delegado, a Polícia chegou perto de alcançar Bryan, com a participação do delegado José Lopes, que é carioca, mas salientou as dificuldades.
“Tem lugar que nem o Bope consegue andar, na Maré e na Rocinha. Para avançar cinco metros se leva duas horas debaixo de tiros de fuzil”, disse.
A Polícia considera que não está lidando com um bandido qualquer, mas com alguém com inteligência acima da média e que Bryan é elemento importante no Comando Vermelho. E informou que em seus deslocamentos para a academia está sempre escoltado por homem fortemente armados de fuzis.
De acordo com o superintendente regional norte da PC, o Rio de Janeiro se tornou num hotel de bandidos de todo o Brasil, dentre eles vários capixabas.
Como não está conseguindo prender Bryan, que foi quem teria enviado, para Henrique, os 100kg de maconha apreendidos em Mimoso do Sul, a estratégia de Polícia está sendo de descapitalizar o grupo. Henrique já esteve perto de ser preso, em Anchieta, mas ele escapou para uma mata, mas deixou para trás sua companheira e uma arma. A prisão de Taru, há três semanas, foi fundamental para avançar neste sentido.
ASSASSINATO DE ÍNDIOS
Em julho de 2023, dois indígenas foram assassinados na localidade de Pedrinhas, na reserva indígena Pau Brasil, em Aracruz: Gregori Vieira Felipe Cezarino, Silas Elon Nunes Vicente.
Átila Gonçalves Nunes, o Taru, foi identificado como um dos responsáveis pelo crime e preso em setembro de 2024. Ele estava foragido desde 2023 e se refugiou no Rio de Janeiro, onde teria se ligado ao Comando Vermelho (CV). Outros envolvidos no caso já foram presos e respondem judicialmente. Eles foram responsáveis por levar os índios para o local onde foram assassinados.
Os índios foram assassinados depois de provocarem uma confusão em Barra do Riacho, litoral Norte capixaba, no município de Aracruz. Na ocasião, eles atiraram numa pessoa. Essa pessoa alvejada por eles era pai do traficante de drogas da área. Foi, então, que Átila foi chamado para vingar o pai do traficante.
Veja a entrevista do secretário de Segurança, Leonardo Damasceno, sobre a operação.
Comando Vermelho assume controle do tráfico de drogas em Colatina, diz delegado
Comente este post