Faz tanto tempo que as pessoas nem se lembram mais quem foi a vítima ou o suspeito. O último homicídio em Apiacá, no extremo Sul do Espírito Santo, a 210 quilômetros de Vitória, bem na divisa como Estado do Rio de Janeiro, demarcada pelo curso do rio Itapaboana, ocorreu no dia 29 de maio de 2020, qiando as preocupações estavam mais voltadas para algo invisível, mas letal: o vírus da Covid-19.
A pandemia estava começando e fazia suas primeiras vítimas no Brasil quando alguém matou alguém pela última vez em Apiacá, que tem uma das menores populações do Espírito Santo, pouco mais de 7 mil habitantes, e uma vida bem pacata, onde todo mundo se conhece. Estranhos normalmente estão apenas de passagem entre a BR 101 e as vizinhas Bom Jesus (do Norte, no ES, e do Itabapoana, no RJ, separadas por uma ponte de 100 metros).
Apiacá está, portanto, há 1.587 dias sem homicídios e foi mais notada mesmo pela destruição causada pelas enchentes do final de março, quando praticamente todos os moradores ficaram desabrigados durante dias. Foi a maios destruição por chuvas tanto em Apiacá quanto em Mimoso do Sul nos últimos 50 anos, embora isso tenha sido causado por rios diferentes, mas pela mesma origem de chuvas.
A segunda melhor marca sem homicídios não está muito longe dali, em Muqui, a menos de 60 quilômetros de distância, coisa de mais ou menos uma hora de viagem. Com casarios que remontam aos tempos áureos do café, no final do século XIX e início do século XX, quando a linha de trem da Leopoldina trazia os barões do Rio de Janeiro para a cidade, Muqui, com pouco mais de 13 mil habitantes, está há 1.176 dias sem homicídios. O último foi em 14 de julho de 2021. Quem matou quem, pouco importa. A cidade respira paz.
O painel de homicídios do Observatório da Secretaria de Estado de Segurança Pública mostra que o Espírito Santo, em geral, está em queda no número de homicídios nos últimos cinco anos, ano após anos, e, se mantiver a tendência verificada nos nove primeiros meses, vai fechar o ano com o menor número absoluto da série histórica de 28 anos – algo em torno de 841 homicídios.
Até 30 de setembro, o Estado registrou 630 homicídios, 87 a menos do que em igual período de 2023, que já havia sido o menor da série histórica. O índice de redução é de -12,1%. A média diária é de 2,3 homicídios/dia.
Para uma população estimada pelo IBGE em 2024 de 4.102.129 habitantes, o Espírito Santo apresenta um índice de 20,5 homicídios por grupos de 100 mil habitantes. A taxa do Brasil em 2023 foi de 22,8 homicídios por 100 mil habitantes. A taxa global foi de 5,8 homicídios por 100 mil habitantes.
O Amapá é o Estado mais perigoso para se viver: 69,9 homicídios por 100 mil habitantes. Mais do que a Jamaica, que é o país mais perigoso do mundo, com uma taxa de homicídios de 53,34 por 100 mil habitantes. O Estado de São Paulo apresenta a menor taxa por 100 mil habitantes: 7,8 homicídios, seguido por Santa Catarina com 8,9 e Distrito Federal com 11,1.
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