Após três tentativas mal sucedidas, a BR-381, conhecida como “Rodovia da Morte”, enfim será repassada para a iniciativa privada. A gestora 4UM arrematou a concessão do trecho entre Governador Valadares e Belo Horizonte (MG) em leilão promovido na sede da B3 (Bolsa do Brasil), em São Paulo, nesta quinta-feira (29). A estreante em certames rodoviários apresentou a proposta vencedora, que representa um desconto de 0,94% em relação à tarifa básica de pedágio. Para a pista simples, o valor base era de R$ 16,04 por 100 km e para a pista dupla, R$ 22,46 por 100 km.
A concessão contempla um trecho de cerca de 300 quilômetros da rodovia mineira, ligando Belo Horizonte, mais propriamente o município de Caetés, na Grande BH, a Governador Valadares. O contrato de 30 anos prevê cerca de R$ 9 bilhões em investimentos, incluindo capex e opex (investimento e custo operacional). Deste montante, R$ 5,6 bilhões serão em investimentos e R$ 3,7 bilhões para despesas operacionais.
A BR-381 começa em São Mateus, no Espírito Santo, e vai até São Paulo. Com essa privatização, todo o trecho sob gestão federal deverá estar duplicado nos próximos anos. Dois trechos estão sob gestão dos Estados: 145 quilômetros em Minas Gerais, de Governador Valadares até Mantena (divisa com o ES); e 146 quilômetros entre Barra de São Francisco (divisa com MG) e São Mateus.
O diretor do Departamento de Edificações e Rodovias (DER-ES), José Eustáquio Freitas, já manifestou que é desejo do Governo do Espírito Santo desenvolver estudos para duplicar o trecho capixaba, principalmente em função das demandas que deverão surgir com o desenvolvimento do agronegócio e de logística no Norte do Estado, com a construção de um porto em São Mateus.

DESAFIO DE ENGENHARIA
Para o ministro dos Transportes, Renan Filho, mais importante do que o tamanho do desconto é garantir a entrega das melhorias no trecho conhecido como “Rodovia da Morte”. “Não adiante ter um desconto grande e obras não serem entregues”, afirmou o ministro. Ele também viu com bons olhos a distância pequena entre as duas propostas apresentadas.
Enquanto a 4UM ofertou 0,94%, a outra proponente, Opportunity, ofereceu um desconto de 0,10%. Para o ministro, este é um indício de que o projeto foi bem estruturado. “Este é o maior desafio de engenharia rodoviária do Brasil. Por isso, ter dois interessados é uma grandiosa vitória”, afirmou Renan Filho.
Renan filho também destacou o fato das duas participantes serem estreantes em leilões rodoviários. O ministro reforçou que o objetivo é continuar atraindo novos players para os certames. “A parceria público-privada é o caminho para resolver os problemas de infraestrutura do País”, complementou.
A vitória da BR-381 marca a estreia da 4UM, gestora de recursos com mais de R$ 7 bilhões sob gestão, no setor de infraestrutura. A administradora, sediada em Curitiba (PR), concluiu no mês de agosto a estruturação de um fundo de investimento em participações para atuar nos próximos leilões de rodovias.
Entre os cotistas do 4UM FIP-IE I, estão as famílias Malucelli, Salazar, Federmann e Backheuser, acionistas das empresas MLC, Aterpa, Senpar e Carioca Engenharia.
Com 30 anos de trajetória e R$ 60 bilhões em ativos sob gestão, a Opportunity também participou pela primeira vez de um leilão rodoviário. A gestora independente de renda variável ofereceu um desconto de 0,10% em relação à tarifa básica. Com duas propostas válidas, a disputa foi à viva-voz. Contudo, a Opportunity não teve interesse em participar desta etapa, consagrando a 4UM como vencedora.
O projeto passou por aprimoramentos desde o final de 2023, quando ocorreu a última tentativa frustrada de leiloar o ativo. No entanto, a estreante 4UM ainda deve encontrar desafios. A BR-381 foi considerada a sexta rodovia mais perigosa do País em número de acidentes e mortes, segundo levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT) divulgado no ano passado.
Conforme mostrou o Estadão/Broadcast, o interesse de entrantes deve ser tendência na “maratona” de leilões de rodovias federais previstas até o final do ano. A agenda inclui oito certames nos próximos meses, incluindo o de hoje.
No total, o governo deverá licitar nos oito leilões até o fim do ano 3,5 mil km de rodovias entre Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná. Entre investimentos e despesas operacionais para a manutenção das vias, as empresas terão de injetar mais de R$ 70 bilhões nas estradas ao longo do contrato, normalmente de 30 anos.
GRUPO PRÓ-VIDA
O êxito da privatização da rodovia foi comemorado pelo coordenador do Movimento Pró-Vidas BR 381, Clésio Gonçalves, que nos últimos anos travou uma luta quase quixotesca para que houvesse esse leilão para que a rodovia possa passar por melhorias.
“No lugar certo, na hora certa, com as pessoas certas. Há 30 anos estamos lutando por isso e, finalmente, vamos ver realizado o sonho de, se não o fim, para pelo menos se reduzir drasticamente a carnificina dos acidentes nessa rodovia”, disse Clésio, que já foi vereador em João Monlevade, cidade onde as BR 381 se desmembra da BR 262, que faz a ligação com Vitória, e segue no sentido Ipatinga, Governador Valadares e litoral Norte do Espírito Santo. (Da Redação com Estadão)
Comente este post