Por mais que a Polícia apresente suas versões, que são contraditas pelas das testemunhas, a morte de Priscila Daniel, 34 anos, em meio a um tiroteio entre policiais militares e um suspeito de tráfico na região da Ilha do Príncipe, em Vitória, no último domingo (18), coloca em xeque a política do confronto adotado pela Polícia Militar do Espírito Santo e que já provocou um número recorde de mortes este ano no Estado.
É uma “estratégia” que se acentuou na gestão do coronel Alexandre Ramalho na Secretaria de Segurança e é defendida pelo comandante da PM, coronel Douglas Caus (no cargo desde 2020), mas que é condenada por todos os especialistas em segurança pública do País.
Uma política meio da base “entre morrer o polícia e o bandido, morre o bandido”. E isso cai como mel na boca da radicalização política dos últimos anos no Brasil, mas o próprio Espírito Santo já ofereceu soluções mais inteligentes em décadas recentes e que acabaram abandonadas.
Enquanto era possível ter acesso aos números, que não são divulgados pela instituição, a Tribuna Norte-Leste constatou um aumento significativo no número de mortes em confronto no Estado no primeiro trimestre deste ano, em contraste com a redução mês a mês nos homicídios. Uma vez divulgada a informação, não mais foi possível acessar os dados e não se sabe o que está acontecendo.
Não se está defendendo aqui a cessão de território público para organizações criminosas, mas sim que é preciso usar outras ferramentas no combate ao crime. Na semana passada mesmo, este mesmo jornal noticiou o êxito do controle da criminalidade em uma das grandes cidades do Estado, Colatina, na região Noroeste, com o uso da inteligência policial e da cooperação entre as Polícias Civil e Militar.
O Brasil sabe bem em sua história o preço de se dar “licença para matar” (na ditadura militar, a licença para torturar e matar gerou monstros que o regime não conseguia mais controlar). Essa não é uma conversa que agrada os ouvidos radicalizados, mas o radicalismo é insano.
Enquanto isso, ficamos com o benefício da dúvida: Priscila Daniel apenas passava na hora com o namorado e correu quando viu todo mundo correr, e por isso foi alvejada, como disseram as testemunhas, ou tinha envolvimento com o tráfico, como “justificou” a Polícia?
De qualquer forma, qualquer pessoa de bom senso há de concordar que a polícia existe para cumprir a lei, e a lei não é a de Talião (olho por olho, dente por dente). Todo mundo tem direito ao devido processo legal no regime democrático.
O Espírito Santo possui uma Polícia Científica recém-criada e bem equipada. Que ela trabalhe rápido e dê as respostas necessárias. Até para a credibilidade da própria Polícia Militar.
Parafraseando Sérgio Porto, instauremos logo a legalidade ou voltemos todos à guerra de todos contra todos, do homem pré-social do “Leviatã“, de Thomas Hobbes.
Do Editor
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