Entre os dez maiores produtores de café conilon do Espírito Santo, com lavouras altamente tecnificadas graças à topografia de tabuleiros e platôs, o município de Pinheiros, na microrregião Nordeste capixaba, é um dos mais impactados pelas variações climáticas que estão afetando a produção da rubiácea.
Uma pesquisa feita com proprietários que respondem por mais de 50% da produção no município indica que a safra 2023/2024 terá uma queda superior a 50% em Pinheiros, onde as lavouras de café nascem consorciadas com o mamão.
É costume, ao implantarem lavouras de café, os produtores plantarem, primeiro, o mamão e aproveitar seus corredores, relativamente sombreados por essas plantas de desenvolvimento rápido, para implantar as mudas de café. “O mamão paga a implantação do café”, revelou um produtor ouvido pela Tribuna Norte-Leste.

A QUEBRA
De acordo com os dados levantados pela pesquisa em Pinheiros, 57,12% dos produtores que a responderam estimam a quebra de safra entre 40% e 60%. Outros 28,57% calculam entre 30% e 40%. Somente 14,29% estimam a quebra na produção mais baixa, entre 15% e 30%.
A colheita da safra 2024-2025 está atrasada em Pinheiros em relação a outras regiões produtoras do Estado. A maioria dos produtores que responderam à pesquisa disse que colheu menos de 30% da lavoura até agora.
O presidente do Sindicato Rural de Pinheiros, Erico Orletti, disse que essa era uma avaliação que ele já imaginava: “Minha produção está a mesma coisa. A maioria vai quebrar de 40% a 60%. Estou vendo produtor que vendeu café no mercado futuro já com problema de entrega, de volume. Produtor que fez barter (uma operação financeira entre produtores rurais, fornecedores de insumos e trading, funcionando como uma garantia de venda para o produtor, uma vez que a negociação é feita com antecedência) também com problema”.
Segundo Érico, o cenário é bem nebuloso pela frente: “Já tem gente acionando seguro e o seguro deferindo por quebra de produção. Realmente é uma situação bem atípica. Considero a situação de agora idêntica à da safra 2015-2016, que foi a seca. Os produtores não conseguiram entregar. Só que agora não teve seca, mas um calor muito intenso. Teve água para irrigar, mas a planta não reagiu e a quebra é igual à de uma seca normal. Um cenário bem desafiador para o produtor”.
Érico ainda acrescentou que as pessoas estão enxergando preço melhor, mas os apanhadores de café e outros prestadores de serviços inflacionam seus preços, porque o preço do café está bom: “Mas não estão considerando a quebra na produtividade. Vi produtor falando que gastou R$ 200,00 só para colher uma saca de café pilado, pagou R$ 50,00 por cada saco em coco. E os outros custos de produção, como adubo, irrigação… então, é um cenário bem desafiador”.
O site buscou produtores também em Sooretama, que figura entre os três municípios com maior produção de conilon no Estado, atrás de Jaguaré e Vila Valério. De acordo com esses produtores, sua colheita está acima de 50% e caminhando para o final, com quebra de produção na faixa de 40%.
Um deles informou que, de uma média de 200 por ano no secador de 15 mil litros, neste ano de 2024 caiu para 130. No caso específico, faltam menos de 20% para concluir a colheita.
RECORDE DE TEMPERATURA
O Brasil bateu recorde de temperatura média entre julho e outubro, como mostra o levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Setembro foi o mês com o maior desvio de temperaturas médias desde 1961, com 1,6ºC acima da média histórica (1991 à 2020). Enquanto outubro foi o mês com a maior temperatura observada, como é possível verificar na tabela abaixo.
Os dados corroboram com as análises de pesquisadores do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da União Europeia, de que é “praticamente certo” que 2023 será o ano mais quente em 125 mil anos.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) confirmou, oficialmente, que 2023 é o ano mais quente já registrado, por uma margem enorme. A temperatura média anual global aproximou-se de 1,5° Celsius acima dos níveis pré-industriais – um valor simbólico porque o Acordo de Paris sobre as alterações climáticas visa limitar o aumento da temperatura a longo prazo (uma média para décadas e não para um ano individual como 2023) para não mais do que 1,5° Celsius acima dos níveis da era pré-industrial.
“As alterações climáticas são o maior desafio que a humanidade enfrenta. Está afetando todas as pessoas, especialmente os mais vulneráveis”, disse a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo. “Não podemos esperar mais. Já estamos tomando medidas, mas temos de fazer mais e rapidamente. Temos de fazer reduções drásticas nas emissões de gases de efeito estufa e acelerar a transição para fontes de energias renováveis”, explica. (José Caldas da Costa, da Redação)
Colheita do conilon está chegando ao fim e safra vai quebrar cerca de 50%
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