*José Caldas da Costa, cronista esportivo há mais de 40 anos
De repente, a crônica esportiva brasileira viu-se desfalcada de três de seus maiores ícones. Em compensação, se domingo tiver jogo de futebol no céu, a transmissão esportiva será vibrante: Silvio Luiz estará narrando de “olho no lance”, na pista o grande repórter Washington Rodrigues, o Apolinho, estará “mais feliz do que pinto no lixo”, e ao lado dos dois, na cabine de transmissão, o comentarista Antero Greco vai cair na gargalhada, tornando o ambiente celeste muito mais alegre.
Somente dando um toque de leveza para compensar a falta que esses três colegas farão aqui embaixo, entre os mortais.
Sílvio Luiz inventou um jeito novo de narrar futebol na tevê, tornando as transmissões mais divertidas. Como o que acontecia em campo todo mundo estava vendo na tela, Sílvio Luiz passou a fazer narrações “nada a ver”, falando de coisas que ninguém estava vendo, mexendo com seus colegas, e criando jargões antológicos como “pelas barbas do profeta” e “lá onde a coruja dorme”.
Foi o rompimento do estilo do rádio na TV. Ainda na Record, Silvio cunhou outras frases célebres, como “Pelo amor dos meus filhinhos”; “Olho no lance”; “Balançou o capim no fundo do gol”; “Vai mandar lá no meio do pagode”; “queimou o filme”; “agora é fechar o caixão e beijar a viúva”.
Apolinho foi tão grande radialista quanto um intenso torcedor do Flamengo, a ponto de tornar-se seu técnico, sem nenhum cacoete para isso. Sabe-se lá por que cargas d´água seu ex-colega de rádio Kleber Leite, então presidente rubro-negro, o convidou. Não deu certo, apesar do “melhor ataque do mundo”.
De Apolinho eu tenho uma lembrança do histórico jogo entre Brasil e Uruguai no Maracanã, em abril de 1976, quando Ramirez, ao final, saiu correndo atrás de Rivelino, que desceu “sentado” as escadas dos vestiários. Foi uma pancadaria louca, que envolveu até os jornalistas que estavam na “beira do gramado”. Apolinho quebrou o rádio-transmissor no rosto de um uruguaio, quando membros da delegação partiram para cima de jornalistas brasileiros.
Eram dias do início na Seleção Brasileira de Zico, um dos maiores jogadores nacionais de todos os tempos. E a confusão começou exatamente um minuto antes do final do jogo, quando Zico fez fila na defesa uruguaia a partir do meio de campo e foi parado por uma falta extremamente violenta cometida por Ramirez (que, ironicamente, alguns anos depois viria a jogar no Flamengo do Galinho de Quintino). Veja imagens finais do jogo e da confusão que se seguiu:https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=fo53UrwjqE8
Dessa turma que partiu, o mais novo, Antero Greco, 69 anos, além de competente, tinha um senso de humor refinado, que transformava o SportCenter da ESPN numa grande diversão. “Um profissional brilhante”, definiu meu antigo editor de esportes Álvaro Silva.
Pois é. Acho que eles nem combinaram de se encontrar na nova equipe esportiva celestial!!! Mas vão fazer muita falta aqui embaixo, porque está partindo uma geração que não está tendo substitutos.
Uma geração que fez a história do rádio e da televisão esportiva brasileiros.
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