O município de São Mateus, com a terceira maior população do interior do Estado, agora é a “Capital Estadual do Petróleo e Gás”, conforme o Projeto de Lei 31/2024, de autoria do deputado estadual Mazinho dos Anjos (PSDB), que foi aprovado pela Assembleia Legislativa e alterou o Anexo I da Lei 10.974/2019, para conferir o título à cidade da microrregião Nordeste capixaba.
O anúncio oficial foi feito pelo próprio deputado em vídeo enviado e exibido durante o Seminário de Óleo e Gás, promovido em São Mateus pela Rede Petro ES. De acordo com empresários do setor, esse título é importante “para reconhecer a relevância de São Mateus na nova fase de desenvolvimento do Espírito Santo nos últimos 50 anos, muito em função dos royalties de exploração de petróleo”.
“As perspectivas em torno do setor onshore e as oportunidades de negócios existentes no segmento tem despertado a atenção dos empresários e atraído investimentos para a região de São Mateus, focada na produção terrestre. Diante destes fatos incontestáveis, é justo que se declare São Mateus como a Capital Estadual do Petróleo e Gás”, disse o deputado Mazinho dos Anjos, presidente da Frente Parlamentar do Desenvolvimento Econômico e Social do Noroeste, Nordeste e Centro-Oeste do Espírito Santo.

NOVA FASE
Na justificativa do projeto, o parlamentar fez um relato histórico da relação de São Mateus com o setor de petróleo e gás, que está experimentando um novo impulso nos últimos anos, quando a Petrobras, que explorava sozinha o petróleo na região, mudou suas estratégias e, em dezembro de 2021, concluiu a venda de sua participação em 27 campos terrestres localizados no Espírito Santo, no município do Norte capixaba.
Juntos, esses campos formam o chamado Polo Cricaré. A nova dona dos ativos passou a ser a Karavan SPE Cricaré – formada pela Karavan O&G e Seacrest Capital Group.
A transação foi concluída com o pagamento de US$ 27 milhões para a Petrobras, já com os ajustes previstos no contrato. Esse valor se soma ao montante de US$ 11 milhões pagos à estatal na assinatura do contrato de venda, ocorrida em agosto. O acordo entre as empresas prevê ainda o desembolso de mais US$ 118 milhões em pagamentos contingentes relacionados a preços futuros do petróleo.
O Polo Cricaré é composto pelas concessões de Biguá, Cacimbas, Campo Grande, Córrego Cedro Norte, Córrego Cedro Norte Sul, Córrego Dourado, Córrego das Pedras, Fazenda Cedro, Fazenda Cedro Norte, Fazenda Queimadas, Fazenda São Jorge, Guriri, Inhambu, Jacutinga, Lagoa Bonita, Lagoa Suruaca, Mariricu, Mariricu Norte, Rio Itaúnas, Rio Preto, Rio Preto Oeste, Rio Preto Sul, Rio São Mateus, São Mateus, São Mateus Leste, Seriema e Tabuiaiá.
A produção média dessas áreas de janeiro a novembro de 2021 foi de cerca de 1,3 mil bpd de óleo e 15,4 mil m3/dia de gás. De acordo com a coordenadora do setor de petróleo e gás do Sebrae-ES, Ana Karla Macabu, o mercado tem se mostrado bem atrativo, estando em torno de 25% do PIB capixaba e tem uma grande representatividade.
O Espírito Santo ocupa a terceira posição entre os maiores produtores de óleo e gás natural no país, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP). A exploração do petróleo no estado começou em terra e hoje é o único estado brasileiro com grande produção onshore e offshore.
A onda de desinvestimentos da Petrobras levou à entrada das operadoras independentes nesse mercado, tais como Seacrest, Capixaba Energia, Mandacaru, operadoras influentes no Norte Capixaba, e a expectativa de que a produção terrestre vai triplicar nos próximos anos se confirmou, segundo Rafaele Cé, presidente da Rede Petro ES.
HISTÓRICO
A produção de Petróleo no Brasil é realizada em nove bacias petrolíferas, com destaque para quatro delas: as bacias de Campos (RJ), de Santos (SP), do Espírito Santo e do Recôncavo Baiano (BA).
A primeira cidade capixaba onde jorrou petróleo foi São Mateus, em 1967, na localidade de Nativo. Esse poço, porém, não apresentou viabilidade econômica. Em 1969, outro poço foi aberto e deu-se início à produção terrestre no Estado.
O petróleo mudou a Geografia do Espírito Santo e São Mateus, a 202 km de Vitória, foi o principal destaque, com a instalação da Petrobras em seu território. A população de São Mateus em 1960 era de 39.706 habitantes. Em 1970, havia aumentado menos de 2 mil habitantes, passando para 41.147.
A evolução, com a chegada da Petrobras, entretanto, foi flagrante e, três décadas depois, em 2000, São Mateus mais que havia dobrado de tamanho e somava 90.460 habitantes e, no último censo, em 2022, o município já tem a terceira maior população do interior do Estado, somando, oficialmente, 123.750 moradores, atrás apenas de Cachoeiro de Itapemirim e Linhares.
A exploração e produção de óleo e gás no Estado é feita em duas bacias sedimentares: a Bacia do Espírito Santo, que se estende por terra e mar na região que vai da capital à divisa com a Bahia, e a porção norte da Bacia de Campos, que transpassa a divisa ao sul do Estado estendendo-se por mar até as proximidades de Vitória (ES).
O COMEÇO
As atividades da Petrobras em terras capixabas tiveram início em setembro de 1957, quando a equipe gravimétrica EG-10 chegou à região norte do Espírito Santo para realizar os primeiros estudos exploratórios.
Naquela época, a empresa estava por completar quatro anos de criação (foi fundada em 3 de outubro de 1954), e tudo era muito novo e experimental, sendo o primeiro poço terrestre perfurado somente dois anos mais tarde, em 1959, em Conceição da Barra (ES), mas não jorrou o óleo.
A Petrobras tinha exclusividade sobre a exploração de petróleo brasileiro e foi fundada por Getúlio Vargas em meio a uma grande campanha nacionalista “O Petróleo é Nosso”.
Em mares capixabas, outra página importante da história da Petrobras foi escrita em 1968, quando a empresa perfurou seu primeiro poço na plataforma continental, também em São Mateus (ES). Não foi encontrado óleo, mas essa experiência pioneira de perfuração marítima serviu de aprendizado e marcou o início do desenvolvimento da sua maior vocação.
O primeiro poço produtor de petróleo em mares capixabas foi descoberto em 1977, a uma distância de sete quilômetros da costa e numa lâmina d’água de apenas 19 metros. A produção marítima teve início no ano seguinte, com a plataforma de Cação, nome dado àquele campo produtor.
Com as vastas reservas de óleo e gás na Bacia de Campos, na costa do Rio de Janeiro, descobertas na década de 1970, a Petrobras concentra seus investimentos nessa região produtora e, nas duas décadas que sucederam, a exploração no Espírito Santo permaneceu voltada à produção em terra e águas rasas, mantendo uma média histórica de apenas 20 mil barris de petróleo por dia.

A ERA DO PRÉ-SAL
Esse panorama, entretanto, mudaria radicalmente com a introdução de novas tecnologias exploratórias, que permitiam escavar poços cada vez mais profundos. A perfuração, em 1999, do primeiro poço em águas profundas no sul do Estado, e as descobertas marítimas que se seguiram na região central do Espírito Santo, atraíram cada vez mais a atenção e os esforços da empresa.
Para viabilizar as atividades nos novos campos marítimos e terrestres descobertos, foi preciso mobilizar uma grande infraestrutura, composta por plataformas, gasodutos, estações de compressão, unidades para processamento de gás, estações de tratamento e escoamento de óleo, terminais aquaviários etc.
Um marco histórico fruto desse esforço veio em 2008, quando o navio-plataforma P-34 produziu, em caráter experimental, o primeiro óleo da camada pré-sal no Brasil, no litoral sul do Espírito Santo — teste esse que, dois anos após, em 2010, culminou na primeira produção comercial de óleo e gás da camada pré-sal no país, com o navio-plataforma FPSO Capixaba.
Foi o início da grande escalada da produção de petróleo e gás no Estado. A produção de óleo, que em 2008 alcançou a média de 116 mil barris diários, triplicou nos sete anos seguintes.
Em 2012, a produção de GLP (gás de botijão) superou a demanda interna e o Espírito Santo passou a exportá-lo para outros estados. Em 2014, a produção média de Gás Natural superou pela primeira vez a marca dos 10 milhões de metros cúbicos por dia. E em 2022, a empresa completou 65 anos de atuação no Estado.
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