Se em Vitória “o bicho está pegando”, com aumento de 71,4% no número de homicídios em função, segundo informações do ex-secretário Alexandre Ramalho, da Segurança, “da disputa interna pelo controle do tráfico de drogas”, o Nordeste capixaba é o novo território de paz do Espírito Santo, pelo menos a se considerar os índices de janeiro, conforme dados do Observatório da Segurança Pública do Estado.
A região inteira, composta de 20 municípios com uma população total de mais de 450 mil habitantes, registrou apenas cinco homicídios no mês de janeiro de 2024, no segundo menor índice da série histórica para o mês desde que esses dados estatísticos passaram a ser acompanhados em 1996. Antes, em 2003, a região havia registrado apenas quatro homicídios. O pior janeiro foi o de 2015, quando a região teve 21 homicídios.
Os números de janeiro de 2024 representam uma queda de -64,3% em relação ao mesmo período de 2023, quando foram registrados 14 homicídios. Dos cinco homicídios da região, dois ocorreram na região do 2º Batalhão da Polícia Militar – em Nova Venécia e Montanha – , um na área do 8º Batalhão – em Colatina – e dois na circunscrição do 11º Batalha, ambos em Ecoporanga, que pode ser, à luz desses números, considerado o município mais violento dentre os 20 do Noroeste, tendo dobrado o número de homicídios em relação a janeiro de 2023.
Em contrapartida, a região Norte, que, na divisão feita pela Secretaria de Segurança, pega todo o litoral, desde Aracruz até Pedro Canário, nas áreas do 5º, 12º e 13º Batalhão, a situação foi bem diferente, com aumento de 25% no número de homicídios, saltando de 16 em janeiro de 2023 para 20 no mesmo mês em 2024. A região tem aproximadamente 550 mil habitantes.
OPERACIONAL
Comandantes militares da região atribuem a redução da violência na região Noroeste à liderança do coronel Rômulo Souza Dias, que assumiu o 4º CPOR (Comando do Policiamento Ostensivo Regional) em abril de 2023 quando os homicídios haviam tido um aumento de 103% na região Noroeste, saltando de 32 no primeiro quadrimestre de 2022 para 65 no mesmo período em 2023.
“Coronel Rômulo tem uma visão clara sobre a valorização policial baseada no merecimento. Ele tem uma linha que adota gestão por resultados e policiamento orientado para o problema. Depois do salto no primeiro quadrimestre, o que se viu, de maio a dezembro de 2023, foi uma estabilidade com leve redução nos oito meses de comando dele à frente do 4º CPOR. Houve uma redução de quatro homicídios no período de maio a dezembro de 2023”, comentou um oficial da região.
Dentro das mudanças que levaram a um maior êxito, os batalhões regionais (2º, 8º e 11º BPM) trocaram os comandos operacionais também em abril de 2023. A exceção foi a 19ª Companhia Independente, sediada em Pinheiros, que mantém o mesmo comando desde julho de 2022. Os três batalhões apresentavam aumento no início de 2023 e a exceção era a 19ª Companhia, que apresentava redução.
Diante do cenário de aumento no número de homicídios na região, o comandante do 4º CPOR passou a fazer reuniões com os comandantes das unidades para saber da realidade de cada unidade e passou a pleitear junto ao Comando-Geral da Polícia Militar o aumento no aporte de Indenizações Suplementares de Escalas Operacionais, as chamadas ISEO´s, bem como passou a determinar o aumento de operações visando ao aumento dos indicadores de operacionalidade.
“Aumentando-se os indicadores de operacionalidade que são apreensão de armas de fogo, apreensão de entorpecentes, prisões, operações policiais, cumprimento de mandados de busca e apreensão e de prisão você influi nos índices criminais”, comentou o oficial. “Para os índices criminais caírem, primeiro você tem que controlar a dinâmica criminal para depois visualizar reduções para períodos posteriores”.
O risco, segundo esse mesmo oficial, é que, após resultados positivos, há uma tendência natural de relaxamento, como se a situação já estivesse dominada: “ E isso não pode acontecer, pois a estabilidade é determinada pelo controle em níveis baixos. É mais fácil controlar quando está baixo e manter baixo do que pressionar pra baixo resultados ruins”.
FORA DA CURVA
As estatísticas do primeiro mês do ano demonstram que o Espírito Santo, conforme antecipou em três dias a tribunanorteleste.com.br, reduziu em -19,8% o número de homicídios neste mês de janeiro em relação a 2023.
Além do Norte, que tem números absolutos mais relevantes, outra região que saiu da curva foi a Serrana, com aumento de 66,7% no número de homicídios: passou de três para cinco, com uma população aproximada de 350 mil habitantes nas áreas do 14º, 15º, 16º e 17º Batalhão da Polícia Militar, de Iúna (na região do Caparaó até Santa Teresa e São Roque do Canaã).
A região Sul teve redução de -41,7% nas regiões dos 3º, 9º, 18º e 19º Batalhão, caindo de 12 em 2023 para sete em 2024. Essa região inclui Cachoeiro de Itapemirim, a maior cidade do interior do Estado, com quase 200 mil habitantes e que este ano ainda teve apenas um homicídio no mês. No total, a região tem aproximadamente 580 mil habitantes.
A Região Metropolitana reduziu em -21,6% o número de homicídios, de 51 para 40 crimes em uma população de cerca de 2 milhões de habitantes. O destaque negativo é Vitória, que aumentou em 71%, saltando de sete em 2023 para 12 em 2024.
O mais positivo foi Cariacica, com redução de -73,3% caindo de 15 homicídios em janeiro de 2023 para apenas quatro em 2024. Vila Velha também teve redução de -30,7% (de 13 para nove), Serra -23% (de 13 para 10), enquanto Guarapari aumentou 50% (de dois para três) e Viana dobrou de um para dois homicídios no mesmo período.
Em 50 municípios capixabas, o ano ainda não apresentou homicídios. A maioria deles entre as regiões Sul e Noroeste. (Da Redação com informações do Observatório da Segurança Pública da SESP-ES)
Comente este post