Sem dúvidas que podemos ser melhores! E podemos fazer do mundo um lugar melhor! Podemos contribuir para que não haja tanta miséria para tornar o noticiário tão atraente. É possível nos anteciparmos à tragédia e evitar a perda. E assim evitar tantas notícias más seguidas de exclamação! E o melhor é que isso não exigiria investimentos tecnológicos ou grandes sacrifícios de nenhum de nós. E digo mais: nem mesmo longas explicações ou justificativas. No fundo todos nós, exceto os adoecidos, sabemos o que fazer.
O que nos separa de um País melhor, de um Estado melhor, de uma cidade melhor, de um bairro, condomínio, escola e vizinhança melhores é bastante simples: nos importar!
Pararmos de olhar de maneira tão fria ou distante uns para os outros. Parar de ignorar os que nos parecem diferentes ao ponto de não os reconhecermos como semelhantes.
Precisamos parar de avaliar como desimportante um ser humano, seja ele quem for, independente de sua aparência ou condição. Precisamos, indistintamente, nos importar com o semblante triste do outro, com o pneu furado que não é nosso, com a compra que se espalhou pelo chão e não caiu de nossa sacola.
Uma procura nervosa por algo nos bolsos ou na bolsa não deveria passar despercebida. Nossa sensibilidade precisa ser mais praticada, pois isso cooperaria com o que pode nos salvar: o hábito de nos importar com o que importa ao outro.
Quantas vezes a morte de uma jovem enfermeira, grávida, por seu namorado, precisará acontecer? Novos casos virão. Precisamos mudar como pessoas e sociedade.
Claro que as questões são complexas, mas o começo da solução é bastante simples: nos importarmos de forma prática e não apenas nos sentirmos mal com as tragédias. A falta de nos importarmos tem matado pessoas nos hospitais, nas escolas e até nas igrejas!
A morte tem muitas faces. A vida se perde de muitas maneiras e nem é preciso morrer para que percamos a vida. E isso acontece mesmo dentro de casa, com quem dorme no quarto ao lado ou até na mesma cama.
Vivemos ocupados demais, com pressa demais, impacientes demais, irritados demais. Olhamos demais as telas e de menos os rostos. Parece que falta espaço em nós para nós mesmos. Nessas condições o outro tem muito poucas chances. Mas é interessante: é achando lugar para o outro em nossa vida que encontraremos a vida que nos falta.
Precisamos da cura que somente o amor pode nos dar! Deixe-me colocar de outra forma: a cura de que precisamos nos virá de nossa decisão de amar. A fé cristã nos propõe exatamente isso, mas mesmo ela está afetada. Muitos a tem transformado num caminho de conquistas pessoais, num jeito de ver a vida que mais adoece que cura, mais ensina a excluir que incluir. Que vê o amor como menos que o necessário, enquanto Jesus ensinou que é começando por ele que tudo mais se torna possível.
E com tudo isso só cresce nossa insensibilidade. E ainda que nos sintamos seguros agora, inevitavelmente um dia seremos vítimas do que estamos ajudando a estabelecer. E que produz tantas vítimas. Um dia, a perda será nossa, a dor estará em nossa casa. Pode ser apenas uma questão de tempo!
Mas podemos sim ser melhores. Podemos nos importar. Podemos salvar alguém. Podemos valorizar a dor que transborda num semblante abatido e mostrar acolhimento, oferecer ajuda. Podemos nos unir a quem, solitariamente e irritado, troca um pneu. Podemos ajudar o estranho a recolher os itens e recolocar na sacola. E por um instante já não será um estranho. Podemos pegar no chão a chave que o outro inutilmente procura nos bolsos ou na sacola.
Podemos dar ao outro um pouco de nossa energia, atenção, cuidado, calma, esperança, alento, carinho, amor. E assim, de gesto em gesto, olhar a olhar, palavra a palavra, tudo ficará melhor. E o melhor: nós mesmos seremos melhores.
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