Moradores e turistas flagraram esgoto sendo despejado em pelo menos duas praias de Guarapari, no litoral do Espírito Santo. Os vídeos, que foram gravados entre os dias 10 e 14 de janeiro, mostram a Praia do Morro e a Praia de Muquiçaba com a água turva indo em direção ao mar. Apesar do mau cheiro e dos entulhos nos locais, a prefeitura negou que seja esgoto e disse que uma equipe está apurando a ocorrência.
Um dos vídeos foi divulgado nas redes sociais no dia 10 de janeiro por um turista de Campos, no Rio de Janeiro. As imagens foram gravadas à noite e mostram o esgoto em direção ao mar da Praia do Morro.
“Aí a turma de Campos que gosta de vir pra Guarapari, né? Olha, não é só em Campos que tem valão, não! Que filé! […] Guarapari tá uma uva, tem até cascata! Pode isso?”, disse a turista.
A legenda do vídeo ainda diz: “Por isso muita gente veio de Guarapari passando mal”. O texto se refere ao aumento de casos de viroses, envolvendo sintomas de vômitos e diarreias, entre os meses de dezembro de 2023 e janeiro de 2024.
Outro vídeo, gravado pelo morador Marcelo Moryan no dia 14 de janeiro, mostra o mesmo ponto da Praia do Morro, mas durante o dia. Nas imagens, o esgoto continua em direção para ao mar.
Mesmo com a água escura correndo para a praia, é possível ver que o local estava lotado, com muita gente bem próximo e até dentro da água.
“Nesse local tem um mau cheiro horrível. À noite, eles [a prefeitura] costumam tapar sol com a peneira e, às vezes, jogam areia por cima. Aí a água escorre por baixo e fica assim. É um problema secular na cidade”, disse o morador ao site g1 Espírito Santo.
Nesta época do ano, que reúne período de férias e verão, a cidade recebe milhares de turistas, especialmente mineiros, em busca das praias de águas claras.
Marcelo contou ainda que também registrou esgoto sendo jogado na Praia de Muquiçaba (assista acima), que fica localizada ao lado da Praia do Morro. Nas imagens é possível ver não apenas a água turva, mas diversos eletrodomésticos e até pneu no local.
“Todo ano essa história se repete. É um mau cheiro insuportável. As autoridades dizem que é água da chuva. Só que esse problema é mil vezes mais frequente quando a cidade enche por causa do verão… e sem chuva”, destacou o morador.
Aumento de viroses
Os casos de viroses, envolvendo sintomas de vômitos e diarreias, quase triplicaram no mês de dezembro ao comparar 2022 com 2023, de acordo com dados da Prefeitura de Guarapari.
Ao todo, foram 126 casos no último mês de 2023, cerca de 2,7 vezes mais que o mesmo período de 2022, quando ocorreram 46 registros, segundo a administração central da região.
Ainda de acordo com os dados, somente na primeira semana de dezembro de 2023 aconteceram a maior quantidade de pessoas doentes, com 50 registros. Nas três semanas seguintes, a cidade continuou a apresentar alta dos casos com, respectivamente, 34 casos, 24 casos e 18 casos.
O outro lado: prefeitura nega que seja esgoto
A Prefeitura de Guarapari, através da Secretaria de Meio Ambiente e Agricultura (Semag), informou que no local existe uma galeria que recebe água pluvial. Quando é identificada ligação irregular na rede, o responsável é notificado e orientado para procurar a Cesan, para regularizar a situação e evitar desvio para o mar.
O município comprou duas mil galerias para fazer a nova macrodrenagem da Avenida Beira-Mar, na Praia do Morro. Depois da alta temporada, a obra será iniciada.
Questionada sobre as imagens registradas na Praia do Morro, a prefeitura informou que a água que está escorrendo na galeria não se trata de esgoto.
“A equipe segue apurando a suspeita de que seja água de esgotamento de piscina, visto as características organolépticas e físico-química da água que escorreu no sistema”, informou a nota.
A prefeitura disse ainda que, quando são identificados outros pontos da praia com a mesma situação, uma equipe da Secretaria de Meio Ambiente, em conjunto com técnicos da Cesan, realiza visita técnica na drenagem, com objetivo de identificar possíveis irregularidades e tomar as providências necessárias.
A gestão também reforçou que a fiscalização é um trabalho contínuo da equipe da Semag.
“O Programa Se Liga na Rede, em parceria com a Cesan, acontece desde 2018, no município. Várias pessoas foram notificadas, multadas e retiraram as ligações clandestinas”, finalizou.
O g1 também procurou a Central de Abastecimento do Espírito Santo (Cesan) sobre o assunto. A companhia disse que “o sistema de esgotamento sanitário que atende Guarapari está funcionado dentro da normalidade, sem nenhuma intercorrência operacional. A Cesan garante que o extravasamento não é da rede da Companhia e que possivelmente trata-se de um problema com origem na drenagem pluvial, que é de competência da administração municipal”.
Sobre a qualidade da água, a Cesan garantiu que o produto que é distribuído até o hidrômetro para todos os clientes é de qualidade. “Nas instalações internas dos imóveis, a empresa recomenda que os reservatórios de água sejam bem tampados e limpos a cada seis meses para manter a qualidade da água. A Companhia atende a rigorosos padrões de potabilidade estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Realiza coleta contínua de amostras e faz análises em laboratórios acreditados”.
Balneabilidade: praias são próprias para banho?
De acordo com o teste de balneabilidade realizada pela prefeitura no dia 5 de dezembro, todas as praias do município estão próprias para banho.
O g1 também questionou a periodicidade dos testes de balneabilidade e a gestão informou que a última coleta foi realizada no último dia 9 de janeiro, com previsão para ser divulgada até o dia 20.
Problema antigo
No dia 10 de janeiro de 2023, o g1 mostrou que o mesmo ponto da Praia do Morro citado na reportagem já recebia esgoto.
Na ocasião, o registro foi feito em um dia que choveu na cidade. Em um dos vídeos, o morador comenta sobre o mau cheiro da água. Uma mancha preta chegou a ser formada na areia após o despejo do esgoto no mar.
Na época, a Cesan informou que a água escura e de forte odor lançada no mar é esgoto que estava contido em uma galeria. Isso ocorre por causa de ligações irregulares. A prefeitura negou que era esgoto. (Da Redação com g1 Espírito Santo)
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