“A Terra está repleta de céu e todo arbusto comum em chamas com Deus. Mas só aquele que vê tira os sapatos; o outros se sentam ao redor e colhem amoras.” (Elizabeth B. Brownning)
O Natal chegou outra vez. Com que olhos o vemos? Com que olhos nos vemos? As duas perguntas são íntimas. Uma não costuma contradizer a outra.
Se o vemos de forma superficial e materialista, sem fé e sem encantamento, é também assim que nos vemos. Se pudermos ver melhor o Natal, é provável que passaremos a nos ver também de forma melhor, mais humana e saudável.
O nascimento de Jesus é a expressão concreta, na história, do amor de Deus. Somos amados por Deus. Todos nós! Não seremos a partir do momento em que alcançarmos certo padrão de santidade ou certo grau de fé ou devoção.
Saber-se amado assim incondicionalmente por Deus, muda o modo como nos olhamos. E, se isso mudar, mudam também muitas outras coisas entre nós. Mas somente acontece com quem crê e assim vê.
O nascimento de Jesus anuncia um Deus que se mistura com as pessoas. O Natal declara a encarnação de Deus! Ele entrou na vida, na história, no calendário, e foi viver entre os mais pobres e desprezados.
A maior parte do ministério terreno de Jesus foi vivido na Galileia, um lugar de pessoas sem posses, sem poder, sem direitos ou prestígio.
Se entendermos isso, lideraremos com as posses e o poder de forma diferente. Entenderemos o dever que temos de promover a vida, de repartir bondades e de sermos generosos.
Desceremos a escada do orgulho e rejeitaremos a presunção.
Praticaremos o hábito de nos vermos iguais e de repreender em nós mesmos todo preconceito, racismo, sexismo e tudo que desqualifica, diminui e justifica abusos.
Rejeitaremos a maldade que virou recreação ou disfarçou-se no costume. E, se assim agirmos, o mundo ao nosso redor se tornará um lugar saudável e seguro.
O nascimento de Jesus anuncia que todo dia e todo lugar é apropriado para a adoração, e não apenas o templo aos domingos. Jesus raramente esteve no templo e todo dia era dia santo, por onde Ele passava.
Aos olhos de Jesus, a vida não passava despercebida. Ele via valor onde as pessoas não viam. As crianças, os leprosos, as mulheres, os cegos, surdos e aleijados receberam seu cuidado amoroso.
A vida se empobrece diariamente porque faltam milagres entre nós. Milagres realizados por palavras de bondade, atos de generosidade e respeito. Jesus manifestou o amor divino e podemos fazer o mesmo. Não podemos curar cegos, mas podemos alimentar famintos.
O amor possível a nós cura a alma, restaura a esperança, anima o cansado. E tudo começa com um jeito novo de olharmos uns para os outros. Cada pessoa é um mundo e todo mundo importa. Acreditar assim muda nosso olhar e transforma nossa vida.
Elizabeth Barret Brownning, que citei ao abrir esse texto, foi uma poetisa inglesa. Ela viveu apenas 55 anos. O amor era sua inspiração para viver e escrever. O que ela disse tem tudo a ver com o Natal. Ele anuncia que a distância entre Deus e as pessoas foi vencida.
O Céu inundou a Terra. Assim como Moisés percebeu Deus no arbusto em chamas e tirou as sandálias, o Natal deve nos ajudar a ver a vida de forma nova, a ponto de tirarmos as sandálias em lugar de apenas enchermos nossos estômagos.
Quem compreende o Natal, anda descalço, pois percebe arbustos em chamas divinas com uma frequência transformadora. Deslumbra-se com o Deus que inaugurou-se como humano num curral, vindo ao mundo pela casa dos vizinhos de alguém, sem pompa ou circunstância.
Se entendermos isso perderemos a pressa de acumular, conquistar e vencer. E encontraremos mais tempo para refletir, teremos mais coração para dividir e nossos braços se abrirão mais para acolher.
Feliz Natal!
Que ele dê novas perspectivas aos seus olhos, novos rumos aos seus pés e novas obras para as suas mãos!
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