O idealismo é a atitude de alguém que persistentemente insiste em, descolado da realidade, seguir afirmando um ideal que a própria realidade contradiz. É a idealização da realidade, é a busca e compromisso com uma ideia que representa a perfeição num mundo imperfeito.
Os idealistas as vezes são tidos como inocentes por alguns, mas não se trata disso. Os idealistas são importantes e necessários. Ser idealista nos livra de descer pela correnteza da mediocridade quando parece que uma multidão apenas está se deixando levar. E por que multidões se deixam levar? Por causa do pragmatismo. Neste caso, proponho aqui o pragmatismo como uma contraposição ao idealismo. Nele, importa o que dá certo, o que funciona. E não importa o que é certo. A justificativa está no fato de que “é assim que as coisas são”. Ou na afirmação de que “todo mundo” (nunca é todo mundo) pensa ou age de certa maneira.
Os idealistas, apegados a valores, seguem acreditando e alimentando a esperança no que ainda não é, mas precisa ser e acreditam que um dia será. E isso é valioso demais. O mundo retém esperança pelo coração e atitudes de idealistas. É no caminho dos idealistas que podemos nos manter humanos num mundo que se desumaniza a passos apressados, fazendo-nos pessoas que lentamente naturalizam as barbáries. São as vozes dos idealistas que nos convidam a preservarmos o caráter diante de tantos canalhas que conquistam o poder e nos tentam oferecendo-nos o mesmo percurso. À medida que a maldade se torna tão frequente ao ponto de parecer normal, são os idealistas que nos despertam do sono mortífero de nos acomodarmos ao que a vida jamais deveria ser.
Atribui-se a Voltaire (1700) a declaração que afirma: “Não concordo com uma só palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o direito de dize-la”. Esse é o tipo de pensamento dos idealistas. Diferente dos que pretendem controlar e apenas dar voz aos que afirmam suas consciências. Podemos dizer também que, tal postura, afirma um valor fundamental de uma sociedade democrática. Precisamos de idealistas pois já temos pessoas demais que, se lhes for permitido, usurparão o poder que puderem conquistar para estabelecer uma monofonia social, em que caiba apenas os seus iguais. Que marginalize os divergentes como se fossem doentes e mantenha as minorias em seus cativeiros. Precisamos de idealistas que nos lembrem que a vida é por natureza polifônica. Que nenhum de nós detém a suprema verdade sobre a existência ou sobre a vida humana. Somos todos caminhantes na jornada da vida e nela a fé e a dúvida são igualmente indispensáveis para não errarmos o caminho. Pois ai daquele que apenas crê, sem fazer perguntas, sem avaliar suas certezas, pensando já haver desvendado os mistérios da graça e bondade divinas.
Vamos lá! O mundo precisa de idealistas. Sejamos cada um de nós uma resposta a esta necessidade. Revisitemos os fundamentos que dão beleza à vida humana. O amor, a bondade, a justiça, o cuidado, o serviço ao semelhante e tantos outros. Sigamos acreditando. Sejamos os seres humanos que, se todos fossem, o mundo se tornaria um lugar mais seguro, feliz e pacífico. E verdadeiramente o Criador seria louvado.
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