*José Caldas da Costa
José Salvador Simonetti Foloni (foto) é pesquisador da Embrapa Soja, sediada no Paraná, desde 2010. Formando em Agronomia pela Universidade de Viçosa, mestre e doutor pela Faculdade de Agronomia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Botucatu, é especialista em Produção Vegetal (Fitotecnia de Grandes Culturas).
Trabalhou como Pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR (Atual IDR-PR), na Área de Fitotecnia da Soja e Culturas Oleaginosas Alternativas para Produção de Biodiesel (2008 a 2010).
Na Embrapa Soja, é pesquisador na Área de Ecofisiologia, com Ênfase nas Culturas da Soja e Trigo. Tem Experiência em Sistemas de Produção de Culturas de Grãos, Fitotecnia, Manejo de Adubação, Ecofisiologia Aplicada, Uso de Fitorreguladores, Fisiologia da Soja com Ênfase em Estresse por Déficit Hídrico, Desenvolvimento de Linhagens de Soja para Tolerância à Seca e Posicionamento Fitotécnico de Cultivares de Soja e Trigo nos Programas de Melhoramento da Embrapa com Foco em Recomendações Agronômicas para Lavouras Comerciais.
Salvador Foloni esteve no Norte do Estado como convidado dos organizadores da Pinheiros Agroshow para palestrar sobre o tema de sua especializada, a soja. Antes, falou com a reportagem da tribunanorteleste.com.br e manifestou muito otimismo sobre o futuro da cultura de grãos na região, não esquecendo dos desafios a serem superados.
– Salvador, você já conhecia a nossa região antes dessa visita para falar na Pinheiros Agroshow?
– Estive nessa região em 1995 e hoje tive a oportunidade de presencial uma região totalmente diferente em ternos do agro. Era região de pastagem, de pecuária extensiva, que hoje ainda existe, mas dentro de uma outra realidade. Hoje é uma região referência na cultura do café e do mamão e viemos nessa feira de negócios para falar sobre a cultura da soja e sistemas de rotação, que também vem sendo trabalhado, principalmente no sistema irrigado, com produtores muito motivados, investindo em tecnologia com a perspectiva futura de excelentes resultados.
– Como começou a história da soja no Brasil?
– A soja, num primeiro momento, em meados da primeira metade do século passado, foi introduzida no Brasil com a colônia japonesa, porque ela faz parte dos pratos típicos do Japão e dos asiáticos em geral. Principalmente, a colônia japonesa, que é muito forte nos Estados do Paraná e de São Paulo. Ela foi introduzida no Rio Grande do Sul como cultura forrageira, para tratar de vaca leiteira. Então, era uma cultura praticada no Brasil somente em pequenas áreas, mais para atender à demanda das famílias que viviam no campo.
– Quando começou a se expandir até o ponto em que está hoje e qual a importância da cultura?
– A partir dos anos 70, a soja passou a ser um grande ativo econômico mundial e brasileiro, porque é a principal fonte de proteína do mundo, proteína vegetal, e atende a toda a cadeia de alimentação animal para produção de leite, de carne, de ovos, de peixes, frango, bovinos e peixes, que o Brasil vem se destacando como um grande produtor, além das outras cadeias de proteína animal muito consolidadas. E o Brasil é um dos principais produtores e exportadores de soja do mundo. Então, isso é motivo de orgulho para a ciência agronômica e para os produtores brasileiros. A soja, em 50 anos, se transformou no principal produto de exportação da economia brasileira, gerando muita riqueza para o povo brasileiro e melhorando muito a qualidade da alimentação das pessoas. É importante frisar isso, que a soja, além de gerar riqueza, contribui para a qualidade dos alimentos.
– Pelo que você conhece de nossa região – precipitação, clima, umidade do ar, qualidade do solo – quais são as perspectivas da soja, e agora também do trigo?
– O primeiro ponto que precisamos entender é que estamos numa região de agricultores profissionais, de competência técnica-agronômica de alta performance. Aqui não tem amador. Aqui só tem profissionais de altíssima qualidade tecnológica e muita competência nas práticas das lavouras e das rotinas do dia a dia. São profissionais muito capacitados porque desenvolveram essa cultura no dia a dia do café e do mamão, culturas em que investem em muita tecnologia. Quando a gente vem para uma região que já tem uma tradição de uma agricultura de alta performance, não há barreira cultural. É diferente quando você chega em algumas regiões do Brasil em que as pessoas nunca trabalharam com agricultura, ou trabalham em outros campos. Então, nesses casos, há uma barreira cultura a ser vencida, o que não é o caso do Norte do Espírito Santo.
– Isso ajuda muito a dar velocidade ao setor…
– Isso já motiva muito para introduzir outras culturas. Por exemplo, a soja está numa fase inicial aqui na região, assim como o trigo. Então, os sistemas de produção de cultura de grãos estão sendo consolidados, diferente do café e do mamão, que já são culturas tradicionais e de muita capacidade de produção e rentabilidade na região. Partindo desse princípio, de que são produtores que já têm essa tradição agrícola, agora vamos trabalhar a questão do ambiente: quais são as janelas de cultivo, os meses mais chuvosos, os mais secos, qual o regime fotoperíodo, de temperaturas, de distribuição de chuvas, qual o comportamento do solo, as classes de solo na região, todo o planejamento agronômico. Quais são os investimentos necessários em mecanização, em irrigação, qual a genética que tem adaptação ecofisiológica para essa região, quais são os desafios fitossanitários. Estamos falando de trigo: quais são as limitações, os desafios, assim como de qualquer outra cultura.
– É só transpor a experiência para outras culturas agrícolas?
– Sim, essas práticas agronômicas vêm sendo ajustadas para a realidade do Norte do Espírito Santo, mas estamos lidando com profissionais de larga experiência no campo, com o café, o mamão e outras culturas. Então, os conceitos agronômicos já são muito consolidados, agora o pessoal do café também vai trabalhar com soja, com milho, com trigo, e vai trazer toda a experiência para essas novas culturas. Novas para a região, porque o Brasil já tem larga experiência com soja, com milho e trigo. O futuro é muito promissor, e é um futuro de curto prazo, mas não uma coisa para daqui a 20 ou 30 anos, ela já está acontecendo. As tecnologias agronômicas já estão sendo aplicadas no campo, nas lavouras. Então, quando a gente trabalha com agricultores de larga experiência, como aqui, no curto prazo eles já vão para a alta performance. Então, essa é a realidade de outras regiões do Brasil e não vai ser diferente aqui no Norte do Espírito Santo.
– O que trabalhar a partir daí?
– A capacidade agronômica já existe na região. E é muito promissor, porque nós temos áreas muito boas, o clima é favorável para a cultura de grãos, uma capacidade para investimentos em condições muito boas para a cultura irrigada, que é muito importante falar disso. Na região nós temos esse lado positivo, isso já instalado. Temos de tratar é dos desafios, como em qualquer atividade econômica. Temos as potencialidades, com pontos positivos a explorar, e os desafios fitossanitários, temos sempre que estar muito atento; a questão mercadológica, como será a cadeia produtiva da soja, porque o produtor faz uma parte da cadeia, produz matéria-prima, mas como será a comercialização, a industrialização, a comercialização e industrialização do trigo, do milho… quais são os componentes de toda essa cadeia agroindustrial. Isso tudo vai sendo construído ao longo dos anos, tal como aconteceu com a cultura do café e do mamão. Temos excelentes exemplos que já são realidade na região.
– É um ambiente de otimismo…
– Eu afirmo: o futuro é muito promissor e a curto prazo. Já está acontecendo e os resultados virão de uma maneira muito forte, contribuindo para o desenvolvimento regional aqui do Norte do Espírito Santo. Em nome da Embrapa, eu agradeço a todos os agricultores e profissionais de assistência técnica e venho reforçar que a Embrapa é parceira e está sempre disponível para atender a todas as regiões do Brasil.
(*) Texto e fotos de José Caldas da Costa, jornalista veterano, diretor deste Portal
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