Usiel Carneiro de Souza*
Mesmo a mais alta montanha é formada por pequenas partículas e sua permanência depende da coesão entre elas. Não são partículas idênticas, mas estão coesas.
Somos mais de 8 bilhões de seres humanos. Impossível não haver diversidade, mas somente seremos civilização se houver um grau mínimo de coesão, de convergência. E se formos honestos, há razão bastante para praticarmos a convergência.
Somos todos incompletos, frágeis, necessitados de amor e de amar, desejosos de sermos felizes. Sejamos conservadores ou progressistas, heterossexuais ou homossexuais, árabes ou judeus, não importa. Todos somos habitados por aquelas realidades comuns. Isso deveria nos dar melhor disposição uns para com os outros.
Todavia, é importante admitir que há forças que nos orientam para a divergência e mesmo para o conflito. O orgulho, o egoísmo, os interesses particulares e as feridas que dificultam nossas relações são exemplos. Mas, se assumirmos que nós mesmos e todos seres humanos temos um valor inestimável e abandonarmos o simplismo de demonizar o outro, mudaremos o rumo da história.
Se abraçarmos a missão de sermos mais conciliadores, se amadurecermos para lidar com ideias diferentes sem odiar, com posturas diferentes e escolhas diferentes sem que isso torne o outro um inimigo, haverá esperança para nosso futuro e possiblidade de bem-estar para todos.
Precisamos amadurecer e deixarmos de ser reféns de idealizações e infantilidades que nos fazem crer que somos os certos e os donos da verdade. A vida é complexa demais e nós imperfeitos demais para que isso seja possível.
Precisamos nos comprometer insistentemente com uma ética mínima que nos imponha o compromisso de não jogar sujo, seja nas palavras ou nas posturas e de respeitar e sermos tolerantes. A fraternidade deve ser o caminho buscado por todos nós.
Quando aprendermos a encontrar um lugar de unidade sem dependermos da uniformidade, estaremos pisando o terreno da fraternidade. A fraternidade significa respeito, tolerância, possibilidade de trabalharmos juntos para o bem comum sem precisarmos concordar inteiramente. Somente na fraternidade se pode falar em bem comum verdadeiramente.
Neste momento, há muitas possibilidades de estarmos divididos. A fraternidade, porém, precisa entrar na história e pesar em nosso modo de pensar. Precisa ser compreendida como um lugar sagrado para nossa vida e futuro.
Precisamos aprender a nos ouvir, a superar nossos pré-conceitos e pré-suposições. Quando ouvimos, quando baixamos a guarda e verdadeiramente escolhemos conhecer o outro, quando partimos do lugar que declara o outro como um ser humano igual a nós, de valor inalienável, e o respeitamos, estamos com os pés no terreno da fraternidade.
Há famílias carentes de fraternidade. Nas relações trabalhistas cabe a fraternidade. A sociedade é carente de fraternidade. As Nações Unidas precisam transitar do poder para a fraternidade para que sejam unidas as nações. O poder apenas divide e diferencia.
Cada um de nós pode e deve fortalecer a fraternidade em seu lugar de convivência, em suas relações. O poder que cada um de nós tem deve servir à fraternidade. Do contrário continuaremos rumo ao inevitável colapso em nossa história. Seja ela privada, coletiva ou universal.
* Usiel Carneiro de Souza é teólogo, administrador e pastor da Igreja Batista da Praia do Canto (Vitória – ES)
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