Grande parte da população que colonizou a região inóspita a Noroeste do Estado veio do Sul e boa parte do município de Alegre. O distrito de Vargem Alegre, por exemplo, é em homenagem àquela cidade, de onde veio a família Barbosa.
Quem visita a região do Caparaó, no Sudoeste do Espírito Santo, faz da contemplação das belezas naturais, cheias de contrastes, a principal atividade de seu roteiro em inevitáveis deslocamentos a pé ou em qualquer tipo de veículo motorizado.
A região Sul foi a primeira a se expandir no processo de colonização do Espírito Santo. E ali está a Serra do Caparaó, designando uma microrregião, com seus picos – os mais famosos os da Bandeira e Cristal – e vales, entrecortados por rios e córregos de águas cristalinas, que despencam serra abaixo, formando lindas cachoeiras e corredeiras, por entre matas, vegetações menores nas altitudes, belas lavouras de café e descampados.
Mas, para além da contemplação da obra de arte desenhada pela natureza – ou “pelas mãos de Deus”, como gostam de dizer por lá – existem também muitas belas intervenções artísticas das mãos humanas registrando sua jornada. E isso se manifesta, principalmente, nos caminhos da fé.
Em cidades centenárias, boa parte delas surgidas no processo colonizatório interno do Brasil no século XIX, destacam-se belos templos católicos, a religião oficial até a proclamação da República (1889, só para lembrar).
Destaque aqui para a Igreja Matriz Nossa Senhora da Penha, que se ergue imponente numa colina onde pode ser vista de todos os pontos da região central de Alegre, polo educacional e universitário do Sul do Estado, onde já foi a cidade mais importante no início do século XX.
HISTÓRICO
A capela Mor de Alegre começou a ser construída em barro e madeira no ano de 1851 por iniciativa dos primeiros exploradores da região, em bandeiras vindas de Minas Gerais.
Oficialmente, as terras do Patrimônio do Alegre ficaram sob responsabilidade da Igreja com q condição de que esta “doaria as terras a Nossa Senhora da Penha”.
Em 1868, o corpo da igreja foi edificado e a Capela Mor reparada. Novas ampliações foram realizadas entre 1914 e 1916, já com a participação de imigrantes que chegaram da Europa – a cidade possui a maior colônia de descendentes de espanhóis do Estado.
Depois, a última pessoa ampliação foi feita entre 1953 e 1968, resultando no estilo barroco-gótico, com magníficos vitrais e afrescos do Indiano Diwali.
Para além da arquitetura imponente, que a destaca na paisagem bucólica de Alegre, entre as montanhas do Sul, a Igreja Matriz tem um interior digno do turismo de contemplação da arte.
O ambiente é naturalmente propício à introspecção. Nas janelas, os vitrais retratando a jornada do casal escolhido para o nascimento do Menino-Deus e também a via dolorosa do Cristo até o calvário.
No teto, espetaculares pinturas retratando Jesus e os quatro evangelistas. O bom observador perceberá a sutileza de Diwali dando traços indianos aos personagens bíblicos de origem palestina.
SAIBA MAIS QUEM É DIWALI
O artista indiano morreu há oito anos, aos 84 anos de idade, no dia 20 de setembro de 2015, em Boa Esperança, interior de Vargem Alta, nas montanhas capixabas.
Constâncio Xavier Gregório, conhecido como Diwali, se destacou na decoração de igrejas da região Sul do Estado. Seus trabalhos são conhecidos no Paquistão, Egito, Itália e Portugal. Morava no distrito de Jaciguá, em Vargem Alta. Seu corpo repousa no cemitério local.
Com um vasto histórico de muitas viagens e experiências na arte de pintar, Diwali aprendeu as técnicas com um amigo italiano, que conheceu em uma de suas viagens. Em suas produções, Diwali decorava igrejas com vitrais e pinturas em paredes e colunas.
Devido ao seu profundo conhecimento bíblico, Diwali, sempre trabalhou com pinturas de artes sacras, retratando fielmente, em suas obras, os personagens, trajes, características da religião Católica.
No Estado, o artista tem trabalhos em São José do Calçado, Vargem Alta, Alegre, Venda Nova do Imigrante e Cachoeiro de Itapemirim.
“Minhas obras foram feitas com alta precisão e graças a Deus vão ficar para a história da Igreja”, disse, certa vez, em Jaciguá.
Constâncio Xavier Gregorio Lopez Fernandes nasceu na cidade de Gôa (Sul da Índia), em 25 de maio de 1931, filho de Clementino Lopes Fernandes e Aspulqueta Dias Lopes. Seu nome de batismo é de origem portuguesa, pois, sua cidade natal era, na época, colônia de Portugal. Mais tarde, ele adotou o pseudônimo artístico “Diwali”, que significa “festival de luzes”, ficando, assim, conhecido por todos.
Em 1943, com apenas 12 anos, conheceu o grande pintor e professor de artes, o italiano Ettor Casali, que estava na Índia a serviço do governo português, com quem começou a trabalhar como ajudante e aprendiz. Com o passar dos anos, desenvolveu sua habilidade em Artes Sacras, e passou a assinar as obras junto com seu mestre.
Em 1955, o Padre Angenor Pontes, mineiro, inspetor da Congregação Salesiana no Brasil, em viajem a Portugal, conheceu Diwali e o professor de artes Ettori Casali, os quais iriam para a Alemanha, mas receberam o convite do padre para vir para o Brasil. Usando a seguinte expressão: “lugar de artista como vocês é no Brasil”.
Vieram de navio, desembarcando no Rio de Janeiro, hospedando-se no Colégio Santa Rosa em Niterói. No dia seguinte começaram a trabalhar na restauração de arquiteturas, esculturas e estátuas de pessoas.
Além de pintar, Diwali fazia fotografias e filmagem em ocasiões festivas, no Colégio Salesiano Santa Rosa, em Niterói. Seu primeiro trabalho sozinho foi a restauração da imagem de Nossa Senhora Auxiliadora toda foliada a ouro, que foi um grande desafio profissional.
Conheceu o Padre Cleto Caliman, na época diretor do Colégio Salesiano de Rocha Miranda, que lhe fez o convite de com ele conhecer Venda Nova do Imigrante (que dizia ser um verdadeiro paraíso). Nas vindas ao Estado com Padre Cleto Caliman – carinhosamente lhe chamava pelo apelido de Toyota, por se parecer com japonês – teve a oportunidade de filmar e fotografar eventos e pessoas, como a família do religioso, movimentação da cooperativa, Colégio Salesiano, abertura da BR 262.
Mais tarde, restaurou o altar da Igreja de Nossa Senhora da Penha, em Pindobas, pintou o crucifixo da Igreja de São Bento em Bela Aurora e os Vitrais da Igreja de São Valentim em Vargem Grande.
Da convivência com padres e irmãs Salesianos veio o convite para vir para o Espírito Santo decorar o Santuário de Nossa Senhora da Penha, em Boa Esperança. O convite foi feito pelo então diretor, padre Godofredo, e aceito pelo artista.
Devido ao seu profundo conhecimento bíblico, Diwali sempre trabalhou com pinturas de arte sacras, retratando fielmente, em suas obras, os personagens, trajes, características da religião Católica Apostólica Romana.
Diwali fez também retratos de personalidades, pinturas a óleo em tela, no estilo clássico, sendo especialista na execução de vitrais, azulejos, mosaicos, douração aplicada nos altares de entalhe em madeira e em imagens, técnicas que aprendeu em sua terra natal. Realizou varias obras artísticas em igrejas dos municípios do Estado do Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Em Jaciguá conheceu sua esposa, Maria Augusta Calvi, filha de descendentes italianos, Davi Calvi e Celina Agrizzi. Tiveram três filhos, adotando para eles seu pseudônimo artístico como sobrenome, são eles: Raj Alex Diwali, Sarodine Diwali e Indira Diwali. Ele morava em Jaciguá até o dia de hoje. (Da Redação com José Caldas da Costa)
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