
Já acostumada com a violência promovida por traficantes que subjugam, principalmente, os moradores de bairros mais pobres, a população de Sooretama, cidade a 150 km de Vitória e sob a influência regional de Linhares, passou uma semana de contraste.
Enquanto a angústia toma conta e aumenta a cada dia entre os parentes e familiares dos três adolescentes desaparecidos desde o dia 18, a comunidade vive um período de paz da qual já estava até desacostumada.
“Aqui tinha notícia de tiroteios todo dia. Comerciantes cansados de assaltos. Nessa semana nem os nóias estavam na rua. Contra a população desprotegida, todo mundo é valente, mas quando a coisa aperta todo mundo some”, comentou um morador, sob condição de anonimato. “Essa gente é covarde. Quando a polícia sair, eles querem se vingar, por isso o silêncio”.
Mas há quem não se importe. É o caso do técnico em sistemas de informação Edson Isidoro, que já foi até vereador da cidade: “A gente vê o sofrimento das famílias e não consegue ficar omisso. Eles procuram, e a gente vai fazer o quê? Virar as costas?”
Durante essa semana, em que o próprio secretário de Segurança, coronel Ramalho, ficou na cidade todos os dias coordenando a força tarefa de buscas pelos três adolescentes desaparecidos, “as ocorrências policiais zeraram na cidade, o que evidencia que nossos problemas de segurança têm solução”, disse o ex-vereador.
Com viaturas circulando o tempo inteiro e até buscas noturnas de helicóptero e cães farejadores, a população sentiu-se mais segura, apesar de angustiada pela falta de notícias sobre o paradeiro de Kauã, Carlos Henrique e Wellington, os amigos de 14 e 15 anos que foram ao bairro Sayonara de bicicleta no final da tarde do dia 18, atraídos pelas notícias de um ataque a tiros, e não foram mais vistos.

Edson salienta que a onda de violência vivida por Sooretama, o episódio dos meninos e a sensação de segurança durante esta semana devem servir de indicativo para mais atenção das autoridades com o município, que prospera economicamente, mas patina no desenvolvimento social.
“Havia uma luta da comunidade para a instalação de uma companhia da Polícia Militar aqui, mas ela foi para Jaguaré. Não que eles não precisem, mas nós também precisamos muito. Estarmos na beira da BR, muito próximos de Linhares e, devido à facilidade de entrar e sair por estrada do interior, a bandidagem vem pra cá porque sabe que não tem polícia”, enfatiza o morador.
Segundo Isidoro, os políciais civis e militares da cidade são dedicados, mas o efetivo é muito pequeno. “A Delegacia abre às 9h e fecha 16h30, policiais militares são de 2 a 4 por turno. Isso deixa a população refém de bandidos”, enfatiza Isidoro, cujo pai, que era sargento da PM, foi assassinado por marginais que perseguia, “e até hoje não foram condenados”
A mobilização de forças policiais, até com a participação do próprio secretário, deu-se após uma mobilização dos moradores, que fecharam por quatro horas, no final da tarde e início da noite de segunda-feira, 21, a pista da BR 101 exigindo atenção das autoridades.
As buscas intensas se desenvolvem desde a terça-feira, 22, e até o fechamento dessa edição resultaram infrutíferas.
Nota da Redação: Esta reportagem foi baseada em percepção de ambiente social. O tribunanorteleste.com.br demandou estatísticas do 12º Batalhão da Polícia Militar e da SESP desde sexta-feira, 25. Quando houver retorno das demandas, faremos as atualizações para confirmar ou confrontar a tese.
(José Caldas da Costa/Redação)
Veículo que pode estar relacionado ao sumiço de adolescentes em Sooretama é encontrado
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