*Álvaro José Silva
Faz exatos cem anos que a Alemanha enfrentou a maior hiperinflação de sua história.
Foi uma época tão dramática que quando alguém botava as mãos em dinheiro ganho tinha que correr para uma loja e comprar logo tudo o que era preciso e possível. Se demorasse em entrar nas filas os preços poderiam até dobrar (foto).
Eram os tempos da República de Weimar, nascida em 1919, após o término da Iª Guerra Mundial quando uma constituição de caráter social e parlamentar foi criada para a transição alemã pós monárquica. A constituição representava um avanço. Tinha preocupações sociais relacionadas ao trabalho, à educação e ao conforto do povo alemão que se preparava para uma democracia representativa. O que deu errado?
Quando a guerra terminou, os países vencedores impuseram à Alemanha uma rendição em termos tão draconianos relacionados a indenizações que era impossível pagar. Veio a penúria financeira e o valor do dinheiro deixou de existir.
Esse era o caldo de cultura ideal para o surgimento no horizonte alemão de um demagogo capaz de seduzir as massas. Ele chegou na figura de um austríaco, outrora cabo do Exército, usando bigodinho ridículo e discursando com muito o ódio e preconceitos raciais. Chamava-se Adolf Hitler. Acabou com a República de Weimar e a democracia em 1933.
Coisa parecida está acontecendo com a Argentina, onde domingo foi entronizado um vencedor das prévias presidenciais que em muito se assemelha a esse tipo de gente. Quer acabar com o Banco Central, com o peso, ministérios, quer poder vender órgãos, enfim, fazer uma política de terra arrasada.
Não nasceu de espólios de guerra, nem nada parecido com isso. Veio da penúria provocada por políticos incompetentes, corruptos e que levaram os argentinos e enfrentar uma crise econômica sem precedentes. Sem acreditar em mais nada, elegeram o nada.
O problema é que esse tipo de doença pega. Em menor nível, consegue ameaçar os Estados Unidos com a figura de Donald Trump, já desembarcou na Hungria, na Itália e anda cercando outros países como a Espanha e, talvez, Portugal.
Trata-se de uma pandemia de desesperança que leva povos pouco crentes nas artes da política a acreditaram naqueles que dizem ser contra ela mesmo embarcando nas caravelas dos partidos políticos e das eleições constitucionais para poderem arrotar valentia.
O Brasil tem que tomar cuidado. Um fracasso do governo federal de agora pode nos levar a surfar nessas ondas nefastas. Lutar pelo sucesso – ou ao menos pelo não fracasso – desse governo é apostar em nós mesmos. E nosso futuro.
Temos que acreditar que nossas ações não nos levarão a abrir as portas de uma democracia conquistada com tantos esforços ao longo de 21 anos à aventura louca, irresponsável de ver mais um psicopata no poder da República.
Já chocamos ovos de serpente em passado não muito remoto de nossa história. Chega disso. Todos atentos, então.
*Álvaro José Silva tem mais de 50 anos de jornalismo e é membros da Academia Espírito-Santense de Letras.
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