
José Caldas da Costa*
O prefeito Enivaldo dos Anjos, em discurso na semana passada, durante a entrega de um loteamento de grande porte em Barra de São Francisco, voltou a falar de um assunto que foi publicado com exclusivdade pelo tribunanorteleste.com.br em junho deste ano: As jazidas de lítio, um mineral muito mais valioso do que o minério de ferro, por exemplo, que foram encontradas na divisa de Minas com o Espírito Santo, na altura de Mantena (MG), Mantenópolis, Água Doce do Norte e Barra de São Francisco, no ES.
Dos Anjos falava da perspectiva de crescimento econômico da região e assegurou que o Noroeste do Espírito Santo se tornará uma região muito rica dentro dos próximos 10, 20 anos, com a implantação de ferrovias que vão interligar São Mateus a regiões produtoras de grãos e outras commodities, passando por Barra de São Francisco, onde haverá um ‘porto seco’, quando citou a exploração do lítio como uma nova frente de crescimento.
“Nossa região vai ser uma região muito rica, podem ir se acostumando” prevê Enivaldo dos Anjos
Revolução
A revolução econômica que começou há pouco mais de 30 anos, com as primeiras pesquisas sobre reservas de granito em Barra de São Francisco, elevando o município a maior produtor brasileiro de rochas ornamentais em três décadas, pode ter uma nova fase ainda mais próspera com a possível descoberta do lítio, um novo e valioso mineral, no solo do município.
Ainda não há pesquisas sendo feitas, mas Barra de São Francisco e o extremo Noroeste do Espírito Santo estão na “ponta do mapa” de lítio identificado pelo Ministério das Minas e Energia em sete sítios desse mineral, de alta demanda pela indústria do mundo, já identificados no Brasil: quatro desses locais estão em Minas Gerais, sendo que dois bem pertos da região.
O Vale do Jequitinhonha já é, comprovadamente, uma grande região produtora de lítio no Brasil e, após dez anos de intenso trabalho e um investimento de R$ 3 bilhões, a Sigma Lithium iniciou a produção do que ela denomina Lítio Verde em seu projeto Grota do Cirilo, localizado nos municípios de Araçuaí e Itinga.
O Serviço Geológico do Brasil – SGB/CPRM avança o desenvolvimento de projetos em duas áreas identificadas, uma em Solonópole, no Ceará, e outra no Leste de Minas Gerais, “beijando” as franjas do mapa do território capixaba, especialmente Mantenópolis, Barra de São Francisco e Água Doce do Norte.
LITHIUM VALLEY
Na fase 1, o empreendimento da Sigma Lithium deve produzir 270 mil toneladas/ano de concentrado de lítio grau bateria, capacidade que deve ser atingida no próximo mês de 2023.
O projeto coloca o Brasil na rota de produção de lítio para baterias e abre a possibilidade de transformar o Vale do Jequitinhonha, uma das regiões de mais baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do estado de Minas Gerais e do Brasil, em referência mundial na produção de Lítio Verde, ou seja, produzido de forma ambiental e socialmente responsável.
Atualmente, segundo Ana Cabral, CEO e co-presidente da Sigma Lithium, o Vale do Jequitinhonha já é conhecido lá fora como Lithium Valley ou Vale do Lítio. É que, além da Sigma, várias outras empresas estão realizando atividades de prospecção mineral na região visando o dimensionamento de outros depósitos de “espodumênio”, o minério descoberto pelo também mineiro (nascido em Barbacena) José Bonifácio de Andrada e Silva, em 1800, na ilha sueca de Uto e que contém lítio.
Na realidade, o lítio contido no minério espodumênio já é extraído na região do Jequitinhonha há mais de três décadas, mas de grau químico, para outras finalidades e não para uso em baterias, como é o lítio produzido agora pela Sigma Lithium. Portanto, o grande mérito da empresa é viabilizar o aproveitamento daquele minério para produção de lítio grau bateria, utilizando uma rota de processamento inédita, desenvolvida pela própria companhia e de forma ambiental e socialmente sustentável, o que atraiu para o empreendimento investidores internacionais de peso, como os fundo de investimentos BlackRock, Janus Henderson e outros.
Com seu projeto, a Sigma Lithium fez grandes captações de recursos financeiros na bolsa canadense TSX e na americana Nasdaq e teve seu valor de mercado aumentado exponencialmente. Ela começou valendo US$ 200 milhões e atualmente o valor de mercado da empresa é superior a US$ 3,6 bilhões.
ÁREAS DE PRODUÇÃO
De acordo com informações do Ministério das Minas e Energia, no Brasil o lítio está hospedado em rochas ígneas, chamadas de pegmatitos, diferentemente das salmouras evaporíticas, onde é encontrado na forma de sais.
Nos pegmatitos o lítio está presente na estrutura cristalina de alguns minerais, a partir dos quais é concentrado na forma de hidróxido de lítio (LiOH) e carbonato de lítio (Li2CO3).
Os pegmatitos que contêm minerais de lítio apresentam comumente diferentes quantidades e tipos de minerais-minério, e são encontrados nas seguintes áreas:
- I) Subprovíncia de Solonópole – CE
II) Província Pegmatítica da Borborema – RN / PB
III) Sul de Tocantins, Nordeste de Goiás – TO / GO
IV) Região de Itambé – BA
V) Área do médio Jequitinhonha – MG
VI) Região Leste de Minas Gerais – MG
VII) Província Pegmatítica de São João del Rei – MG
PROSPERIDADE
A nova fase de prosperidade para o Vale do Jequitinhonha já está despertando publicações na grande imprensa, como recentes registros da Folha de São Paulo e de O Estado de Minas.
Em reportagem do site Brasil Mineral, a CEO da Sigma diz que, até que começasse a produzir, o empreendimento demandou muito esforço e empenho.
“O que as pessoas não se dão conta é que foram dez anos de muito trabalho. E o pior é que, por ser um trabalho embaixo da terra, não é visto. As pessoas iam lá e viam apenas a planta de demonstração, construída em 2018 e que enviava amostras para testes de mercado lá fora. E não davam muita importância para o projeto. Agora, quando alguém vê a planta, fica impressionado”, diz Ana.
NASDAQ
O Brasil quer abrir as portas para alavancar a produção de lítio, divulgar os potenciais do País e ampliar os investimentos internacionais. Nessa direção, em cerimônia que ocorreu no dia 8 de maio na Nasdaq – uma das maiores bolsas de valores do mundo – o secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia (MME), Vitor Saback, representando o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, anunciou o lançamento do projeto “Lithium Valley”, em Minas Gerais.
O projeto Vale do Lítio busca, por meio da mineração e da cadeia produtiva do Lítio, o desenvolvimento de cidades do Vale do Jequitinhonha, além do nordeste e do norte de Minas Gerais.
A iniciativa trará inúmeros benefícios gerando emprego e renda, melhorando a qualidade de vida da população da região e consolidando o abastecimento do Brasil e do mundo com esse precioso mineral. O lítio é um mineral utilizado em diversas aplicações, com destaque para a fabricação de baterias de longa duração que equipam veículos elétricos e aparelhos eletroeletrônicos.
Para o ministro Alexandre Silveira, o impacto social é primordial. “Nós, ministros do governo do presidente Lula, temos o foco bem determinado de conciliar o desenvolvimento econômico com a questão da sustentabilidade, sempre voltado para resultados efetivos na vida da população, a fim de melhorar o social e combater a desigualdade. E o Vale do Jequitinhonha, região pela qual temos tanto carinho e na qual o presidente Lula está sempre presente, vive agora um momento de virada neste governo em prol das brasileiras e dos brasileiros”, afirmou Alexandre Silveira.
Em Nova Iorque, Saback garantiu que o governo do presidente Lula, representado pelo MME, mostrará ao mundo o potencial do Vale do Jequitinhonha, agora Vale do Lítio, do estado de Minas Gerais, e o que a região pode representar para o Brasil e para o mundo.
Segundo o secretário, esses investimentos visam não somente suprir a demanda crescente, mas, também, promover a diversificação da oferta em nível global, atualmente bastante concentrada em poucos países. “O protagonismo do lítio no mundo, é o protagonismo de Minas e do Brasil”, observou Saback. “Os olhos do mundo estão voltados para o Vale do Jequitinhonha. Se antes havia baixa oferta de serviços públicos e empregos na região, agora vai se tornar o Vale das oportunidades”, destacou o secretário.
*Jornalista e géografo, diretor da Tribuna Norte-Leste
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