Pedro Valls Feu Rosa*
Dia desses recordava uma pitoresca frase de um conceituado empresário capixaba, segundo quem “dinheiro é que nem mulher, não agüenta desaforo”. Estas palavras me fizeram refletir sobre o quanto perde o Brasil por não observar um mandamento tão simples!
Consideremos, por exemplo, o comércio. Só o do Rio de Janeiro tem gasto uns R$ 2,8 bilhões por ano em função da violência. Já os bancos brasileiros gastam US$ 1 bilhão em sistemas de segurança. As administradoras de cartões de crédito perdem anualmente US$ 100 milhões devido a fraudes. As empresas de transportes, que há alguns anos gastavam 3% de seu faturamento com segurança, hoje já amargam pesados 12%. Só em Vitória quase 16% da receita mensal delas some por esse ralo.
A conseqüência: como “dinheiro não suporta desaforo”, 52,2% das 1.642 empresas consultadas pelo Banco Mundial em recente pesquisa declararam que reduzem e impõem restrições a novos investimentos no Brasil.
Aliás, por falar em desenvolvimento, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), levando em conta prejuízos materiais, tratamentos e horas de trabalho perdidas, calculou que o crime “rouba” cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Só para fins de comparação, nos Estados Unidos da América as perdas são de 4% (menos da metade, pois).
Parece muito? Fiquemos apenas com o caso das emergências médicas: o Brasil gasta incríveis R$ 21 bilhões por ano, ou cerca de 40% dos gastos totais com a saúde, apenas nos atendimentos às vítimas da violência. A propósito, li que cerca de 50% das cirurgias plásticas realizadas no não tão distante ano de 2001 tiveram ‘caráter reparador’, reflexo da violência. Não custa lembrar que de lá para cá o problema só tem piorado.
E por último, como a vida também não suporta desaforos, só por causa dos assassinatos o brasileiro médio vive um ano e três meses a menos. Se ele morar no Rio de Janeiro terá escandalosos três anos a menos de existência.
Diante desta situação é surpreendente o silêncio de nossa sociedade! A cada dia nos trancamos mais em nossas próprias casas, oprimidos pela ineficiência do Estado no combate ao crime. Já transformamos vítimas em culpados – ‘deram bobeira’, coitadas! Talvez fosse o caso de lembrarmos a frase de Dante Alighieri: “quem aceita a opressão nela consente”.
*O desembargador Pedro Valls Feu Rosa é articulista de diversos jornais com artigos publicados em diversos Estados da Federação, além de outros países como Suíça, Rússia e Angola.
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