Usiel Carneiro de Souza*
Não sei você, mas tenho a sensação de que, entre Deus e a vida, entrou a religião, no sentido institucional. A religião regulamentada e operada por sacerdotes. Digo isso sendo um desses sacerdotes ordenados. Talvez isso me ofereça um lugar privilegiado de avaliação, ou não. Um lugar de onde se pode olhar para cima, para o lado e para baixo. Para Deus, para os sacerdotes e os fiéis. Um organograma possível para o imaginário religioso padrão.
Em alguns casos me parece que os sacerdotes agem como guardiões que impedem os fiéis de acessarem tudo que poderiam sobre Deus. Assim garantem a importância de suas posições como operadores das coisas espirituais, que seriam acessíveis somente por sua prestação de serviço.
Por outro, agem como juízes que ilegalizam parte da vida, garantindo com isso limitações e culpas. Isso é útil para alimentar a dedicação dos que doam e se doam para o engrandecimento de seu projeto religioso. Quanto maior o projeto, maior o sacerdote. Mas, como se diz, é tudo para Deus!
A solução disso é simples e, por isso mesmo, vista como complexa. A lógica religiosa que estou aqui criticando lança desconfiança sobre ela, pois desacredita tudo que coloque em risco a sua própria lógica. Nela o Evangelho recebe ênfases para servir ao sistema, misturando mérito e graça, Letra e Espírito, liberdade e proibição. Tudo isso numa medida em que o fiel não consegue lidar bem, seja com um ou o outro lado da equação.
A solução está na completa rendição ao amor de Deus e suas canções, cuja mais bela é a graça. A solução está em aprendermos a viver como pecadores amados e perdoados, em lugar de alimentarmos a pretenção de uma santidade que jamais foi ensinada por Cristo. Uma pretenção que produz hipócritas e culpados!
A solução é aprender a viver na calma de quem depende de Deus e se arrisca como um ser livre. Isso estraga o sistema e exige novas abordagens e aprendizagem. Nesse novo lugar amamos, respeitamos, perdoamos, acolhemos, ouvimos, aprendemos, esperamos e… sem provas nas mãos, nutrimos a certeza de que há uma Cruz entre Deus e a vida, o Cristo de Deus. E que já não há separação: a resposta já foi dada. Antes da fundação do mundo!
* Usiel Carneiro de Souza é teólogo, administrador e pastor da Igreja Batista da Praia do Canto (Vitória – ES)
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