A Assembleia Legislativa do Espírito Santo passou por uma boa renovação nas eleições de outubro. E nela se encerra também um ciclo de poder do atual presidente Erick Musso (Republicano), o menino prodígio que viveu dentro da Casa acompanhando o avô Heraldo, aprendeu muito cedo o jogo do poder e encerra um período de seis anos anos de comando, a partir de 1º de fevereiro sem mandato – concorreu ao Senado, para cumprir missão partidária e por isso deve ser recompensado de alguma forma pelo partido.
Enquanto isso, as peças se movem no tabuleiro para a definição da futura Mesa Diretora. Vários reis já estiveram em evidência, mas, como sempre acontece, quem sai muito cedo da casinha acaba defenestrado. A bola da vez passou a ser o deputado reeleito Vandinho Leite (PSDB), porém, há que se considerar que o tucanato está muito bem representado na distribuição do poder estadual com o vice Ricardo Ferraço e seus raios de influência na Agricultura e na Saúde.
Isso pode frustrar as pretensões de Vandinho. Thiago Hoffman, quadro do PSB, eleito para seu primeiro mandato, talvez tenha chegado com arestas demais para pleitear o comando da Casa, que ficaria excessivamente chapa-branca . Se for para ser com esse perfil, talvez Dary Pagung leve alguma vantagem por não ter, ou ter poucas, arestas com seus pares.
Sempre foi notória a influência, ainda que velada, do Executivo sobre a formação da Mesa Diretora do Legislativo, mas o governador Renato Casagrande é experiente demais para deixar isso tão às claras. Tanto é que somente começou, discretamente, a cuidar da Assembleia depois de iniciado seu novo governo, no início de janeiro. Mesmo assim pelas vias da diplomacia exercida pela Casa Civil.
O já veterano deputado Marcelo Santos (Podemos) se apresenta, mas já foi assim de outras vezes e ele não parece tão mais interessado em administrar os problemas quanto em manter seu espaço de poder, como vice-presidente e comandando da estratégica Comissão de Infraestutura.
Como de outras vezes, formou-se um “blocão” com 24 deputados, dentre eles os seis que se elegeram fora do campo de aliança do governador, especialmente o pessoal do PL. Sobraram seis, que não entraram no bloco que, teoricamente, é capaz de fazer a Mesa. E há um silêncio no ar: o PT limpou os caminhos para a vitória apertada de Renato Casagrande na polarizada eleição de 2022, foi relativamente contemplado em algumas posições do Executivo, mas parece também preparado para ocupar outras.
Com a eleição de Lula, e estando o PSB de Renato no campo da aliança nacional em torno da candidatura vencedora, o PT estadual tem quadro robustos para pleitear a Mesa. Por seu perfil maleável, o deputado João Coser (ex-prefeito de Vitória) corre na raia lateral, mesmo que poucos o percebam – ou fingem não perceber.
Há quem diga que seria um ótimo abre-portas para o Estado junto ao governo federal, embora não se esperem grandes dificuldades nesse relação, seja porque o PSB é aliado do PT nacional, seja pela própria postura do presidente Lula, manifestada na reunião com os governadores no “day after” da tentativa de golpe de 8 de janeiro, de não olhar o partido do governante estadual. “A única coisa que me interessa é se você foi eleito. Isso eu vou respeitar como quero ser respeitado”, disse Lula III no encontro de Brasília.
Por fim, um exercício de matemática. Se são seis fora do blocão, e se o blocão tem 18 governistas, e se os que estão fora são também governistas, o jogo pode se definir no “VAR”. Nada difícil que 10 do blocão se desloquem numa composição aos outros seis e daí surja um nome alternativo. Afinal, experiência é o que não falta a deputados como José Esmeraldo, Marcelo Santos e Janete de Sá.
Serginho Meneguelli, Camila Valadão e Xambinho completam a lista dos seis fora do blocão. Noves fora, hoje Vandinho Leite seria o presidente da Casa. Dia 1º, não se sabe. (José Caldas/Weber Andrade)
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