Usiel Carneiro de Souza*
Uma das coisas observáveis destes últimos anos, nas dinâmicas sociais brasileiras, é a qualidade de nossa civilidade e espiritualidade. A civilidade aponta para a aptidão que alguém revela para lidar com o social, com a coletividade, com as alteridades. A ideia é que sejamos capazes de ocupar nosso espaço e respeitar o espaço alheio, conforme normas de convivência e leis, sobretudo.
A espiritualidade diz respeito ao significado que damos à vida, tendo em vista o que nos é sagrado. Conquanto se fale numa perspectiva isenta para o tema “espiritualidade”, o fato é que ele carrega fortemente os contornos da religiosidade. Talvez seja melhor então falarmos de espiritualidade religiosa, em lugar de apenas espiritualidade.
Estes dois temas merecem nossa atenção e avaliação. Fomos todos impactados por eles e deles fizemos parte de alguma maneira. Esqueçamos um pouco a política em si e, ainda que sob os efeitos das eleições, especialmente sob o peso do contexto criado por ela (bem x mal, comunismo, esquerdismo, extrema direita, etc…), será importante tentarmos refletir. Abracemos a utopia de um lugar comum e pensemos. Pois a civilidade e a espiritualidade religiosa estão desfilando nas ruas e redefinindo nossas relações sociais. Superar alguns problemas exigirá (re)considerarmos esses temas.
A civilidade é necessidade fundamental de toda sociedade. Sob justificativa alguma se deve admitir a quebra do pressuposto de que entre nós, seres humanos, o respeito, a tolerância e o direito terão lugar em nossas relações. Disso depende uma nação que se pretende democrática.
Experimentamos nestes tempos a intervenção vigorosa da espiritualidade religiosa, no âmbito social, público e político. Para além da redenção de almas, ela flertou com o domínio das normas morais da sociedade, certa de ser essa a vontade de Deus. A espiritualidade religiosa na história protagonizou avanços e retrocessos, defendeu e tirou vidas. Ao contrário das previsões da pós-modernidade, ela está de volta e com feições assustadoramente pretéritas.
Tudo ainda está muito quente entre nós. Mas, pensar faz bem. “Bora” refletir!
* Usiel Carneiro de Souza é teólogo, administrador e pastor da Igreja Batista da Praia do Canto (Vitória – ES)
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