
Weber Andrade*
Nesta quarta-feira, 26, a Matriz de São Francisco de Assis estará celebrando seu 53º aniversário, mas, poucos francisquenses mais novos sabem a história deste que é um dos templos católicos mais bonitos do Espírito Santo. Atualmente, a Paroquia de São Francisco de Assis tem exatamente 53 comunidades espalhadas por bairros, distritos e outros sítios de Barra de São Francisco.
Inspirada no Santuário de São Gabriel de Nossa Senhora das Dores, localizado aos pés do Gran Sasso, no município de Isola del Gran Sasso, na província de Teramo, região de Abruzzo, Itália, o templo levou cinco anos para ser construído, entre 1964 e 1969.
A inspiração para o templo veio dos padres passionistas Alfredo Sabeta, Fernando Vitale e Daniel Del Bove, que mobilizaram a comunidade. No livro “Igreja Matriz de São Francisco de Assis – Um legado de Coragem”, a pedagoga Irene Simões Fonseca conta que padre Alfredo “trouxe da Itália a inspiração para realizar no humilde e singelo solo francisquense, a mais suntuosa e bonita edificação da cidade, não só pela grandiosidade da construção, mas pela teimosia em não aceitar as limitações econômicas e estruturais da época.”
Irene relata que muitos consideravam padre Alfredo um sonhador, outros achavam que o templo nunca ficaria inteiramente cheio, pois era grande demais para a pequena população. “No entanto, nada disso o impediu de levar adiante o projeto e o futuro se encarregou de adequar o tamanho da igreja ao desafio de missão de evangelizar”, comenta a autora.
Em 1950, a comunidade organizou o movimento religioso para construir a nova igreja católica, já que a primeira igrejinha já não acomodava todos os fiéis. Em busca de um local de boa visibilidade, acabaram por escolher o outeiro onde se localiza o templo atual.
“O local foi escavado na base da enxada e os entulhos puxados com juntas de boi em couros crus. Lá havia poucos moradores, que foram deslocados para outros bairros…”, relata Irene Simões.
Por volta de 1959 os padres passionistas Fulgêncio, Daniel, Mariano e Fernando já estavam na cidade. Padre Alfredo, da mesma congregação, chegou em 1962.
Em 1960 a construção do templo já estava bem adiantada, graças à colaboração da população na época, que se uniu e de uma maneira ou de outra conseguiu ajuda para que ela se tornasse realidade.
Segundo relatos do livro de Irene Simões, padre Alfredo organizou uma comissão composta por membros da igreja e o pai dela, Adão Simões da Silva eram quem fazia a contabilidade e as correspondências solicitando recursos do exterior para ajudar nos gastos da construção.
“Muitas cartas foram enviadas para a Itália, Holanda e Alemanha, algumas com sucesso, outras nem tanto”, conta Irene.

Histórico da nave e seus ornamentos
A Matriz de São Francisco de Assis conserva ainda hoje as cores de sua inauguração. Segundo relatos o azul simboliza o céu, o amarelo e detalhes em vermelho lembram o Vaticano, e o branco simboliza a paz entre os povos.
No alto da nave encontra-se a cruz frontal, ladeada por duas estátuas, que representam o Velho Testamento, os profetas Moisés à direita e Elias, à esquerda.
No primeiro patamar, outras duas estátuas, com os apóstolos Pedro à direita e Paulo, à esquerda, representando o Novo Testamento.
As estátuas, segundo Irene Simões, foram confeccionadas por uma empresa de Vitória e, para serem fixadas ao exterior da nave, tiveram que ser cortadas em três partes e reencaixadas nas ferragens, para dar maior segurança.
As três janelas frontais do alto
Abaixo da cruz frontal, encontram-se três janelas sem vitrais que, além de ajudar a fornecer iluminação ao interior da nave, significam as virtudes teologais da igreja: Esperança (esquerda), Fé (centro) e Caridade (direita).
As janelas da parte superior da nave
A parte superior da nave, que do lado de dentro tem um corredor onde se pode percorrer quase todo o interior do templo, também possuem significado espiritual.
De acordo com o livre do Irene Simões, as janelas esquerdas representam os sete dons do Espírito: Temor de Deus, Piedade, Ciência, Fortaleza, Conselho, Entendimento e Sabedoria.
As do lado direito significam os sacramentos da iniciação cristã: Justiça, fortaleza, Temperança, Caridade, Esperança e Fé.
As portas de entrada do templo
Logo após os degraus que dão acesso à parte coberta da nave, estão três portas: A maior, central e duas do
mesmo tamanho e largura, à direita e à esquerda.
Acima da porta principal um painel de azulejo pintado representa a celebração da 1ª missa no Brasil, em 26 de abril de 1.550.
No piso, antes da porta principal, outro desenho em granito, exibe o símbolo dos Passionistas, que tem um coração no centro, três hastes, abaixo dele, que representam os três cravos que foram fincados nos braços e pés de Jesus.
Interior da matriz é rico em simbolismos
O interior da Matriz de São Francisco de Assis também é rico em simbolismos católicos. O piso, feito em marmorite (granito triturado numa mistura artística e criativa foi preparado por empresa de Cariacica, de um empresário chamado Vicente Gobbi e os desenhos foram indicados e orientados pelo padre Alfredo junto ao responsável pela obra.
Logo na entrada, uma estrela de cinco pontas, representado o nascimento de Jesus – “A aparição da estrela os encheu de profunda alegria”, Mateus (2;10 – e, na sequência, o corredor central, decorado com um tapete de flores.
O corredor termina com a inscrição JHS – Jesus, Homem Salvador” – antes dos degraus do altar, erguido em pedras de granito bruto doadas pelo produtor rural Maximino Fanti.
No altar há cinco incisões alusivas às cinco chagas de Jesus, sob o altar, há, novamente, o desenho da estrela de Belém e atrás dele, o Cristo crucificado, a redenção da humanidade.
Detalhe: Em 2009 o barramento de madeira que estava corroído pela ação dos cupins foi substituído, bem como os lustres, procurando manter o mesmo aspecto dos originais, mas com a retirada de alguns degraus que davam acesso ao altar.
Vitrais que adornam o presbitério e janelas laterais
Os vitrais que adornam o presbitério, que é o espaço central do altar homenageiam uma santa e três santos: Santa Gemma Galgani e São Gabrieli, além de São Paulo da Cruz, fundador da Congregação Passionista e São Francisco de Assis, padroeiro da cidade.
Nas janelas laterais os vitrais representam a via sacra e foram organizados em sentido anti-horário, iniciando no lado esquerdo da nave e terminando do lado direito, antes da capela destinada ao Santíssimo Sacramento, instalada em 1995.
São 14 estações e cada uma delas foi montada por um vidraceiro, peça por peça, com o nome do doador de cada uma.
Coro e coral
A enfermeira Maria José dos Santos de Andrade, a Zezé, que veio para Barra de São Francisco em 1972 e o ex-servidor estadual aposentado, Cícero Heitor Pontes Pereira, que chegou no início da década de 1950, fizeram parte do coral criado pelo padre Alfredo na década de 1960.
Zezé conta que gostava muito de cantar e acabou sendo ‘descoberta’ pelo padre Alfredo graças a amigos e colegas de trabalho e acabou se unindo ao grupo. Lá ela fez amizade com Cícero, uma amizade que dura até hoje, apesar dela ter se mudado para Governador Valadares.
As apresentações eram feitas, muitas vezes, no local chamado coro, entre o pavimento superior e o inferior da nave. O próprio padre Alfredo, que tocava órgão, costumada fazer o acompanhamento musical.
Tanto Cícero quanto Zezé relatam que os membros do coral eram todos, homens e mulheres, empresários, donas de casa e trabalhadores que frequentavam a igreja.
*Com base em pesquisas próprias e dados do livro Igreja Matriz de São Francisco de Assis – Um legado de fé e coragem, da pedagoga Irene Simões Fonseca.
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