Pedro Valls Feu Rosa*
O Brasil se globalizou. Abriu suas fronteiras. Entregou à gestão de grupos estrangeiros sistemas de telefonia, de energia elétrica e até de rodovias. Nossos hotéis têm sido vendidos para grupos espanhóis e portugueses. A exploração de nossas fontes de água mineral tem sido concedida a empresas suíças e francesas. Nosso petróleo e nossos recursos minerais tem sido extraídos por empresas norte-americanas e até o leite de nossas vacas é vendido para nós mesmos por indústrias italianas e suíças.
Só entre janeiro e maio de 2007 essas empresas enviaram lucros de US$ 3,6 bilhões às suas matrizes no exterior – e no primeiro semestre de 2021 US$ 9,3 bilhões. Estamos tão globalizados que no resto do mundo a participação do capital estrangeiro nos bancos é de 5% em média – no Brasil já chegou a 22%.
Enquanto isso li, há alguns poucos anos, uma significativa notícia publicada na Inglaterra pela BBC: preocupado com o aumento das relações comerciais entre o Brasil e a China, o governo norte-americano enviou a Beijing o Secretário de Estado Assistente Thomas Shannon “para descobrir o que está havendo”.
A matéria trazia ainda que “a política protecionista de Washington para a América Latina data de 1823, quando o presidente James Monroe decretou que nenhuma potência estrangeira poderia ter maior influência nela que os próprios Estados Unidos”. “E é assim que devemos olhar a América Latina”, declarou um congressista norte-americano à BBC.
Passados alguns dias li no jornal “Channel News Asia”, de Cingapura, declarações do Embaixador chinês Zhou Wenzhong. Disse ele que “a China não será concorrente dos Estados Unidos na América Latina”.
E foi assim, ao ver em jornais estrangeiros o retrato de uma realidade tão humilhante quanto desconhecida pelo pobre povo brasileiro, que fiquei a pensar nas palavras do ex-presidente do Uruguai, Jorge Battle: “É uma ficção esse tal de mercado global. Não há globalização no comércio mundial. Os protestos anti-globalização ocorrem justamente porque não há globalização ou são poucos os que têm benefícios com esse fenômeno”.
Pois é. Ao abrir suas fronteiras e vender algumas de suas maiores riquezas a grupos estrangeiros, talvez o Brasil tenha se esquecido do sábio conselho de Benjamin Franklin: “ama teu vizinho, mas não derrubes tua cerca”.
*O desembargador Pedro Valls Feu Rosa é articulista de diversos jornais com artigos publicados em diversos Estados da Federação, além de outros países como Suíça, Rússia e Angola.
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