
Existem pesquisas e pesquisas. Cada vez mais os institutos aperfeiçoam seus métodos de coleta e de depuração desses dados. No passado, dois institutos eram notórios. Um deles era tão famoso que seu nome deu origem a um substantivo para designar opinião pública. As pessoas com mais de 50 anos ainda dizem que “isso vai dar ibope”, ou seja, vai dar audiência. “O ibope dele está bom”, ou seja, a popularidade da pessoa está boa.
Mas, além do IBOPE, fundado em 1942 e que dominou o mercado por muitos anos, no final do século passado, outro instituto também ganhou notoriedade, o Vox Populi, mineiro de Belo Horizonte e um dos mais antigos do Brasil, fundado em 1984 e que apareceu para o mercado ao realizar sua pesquisa de intenções de voto para Presidente da República, visando às eleições de 1989, a primeira desde o golpe civil-militar que depôs João Goulart em 1964.
Por muito tempo, o IBOPE, de Carlos Montenegro, e o Vox Populi, de João Meira, dividiram o cenário das pesquisas no Brasil. Neste século, porém, centenas de institutos surgiram, aqui e acolá. Alguns, pequenos, mas que levam a coisa a sério, outros nem tanto. Geralmente, se mede a seriedade de uma instituição quando ela se associa a outras para uma certa regulação do negócio. É o que acontece com a Associação Brasileira das Empresas de Pesquisas.
Nas eleições de 2022, surgem pesquisas de tudo que é tipo, mas, de forma geral, uns quatro ou cinco institutos são levados mais sério, conhecidos por não mascararem seus números. É possível isso? Lógico que é, principalmente se a coleta de dados for corrompida, intencionalmente ou não. Mas grandes institutos têm por prática estabelecer sistemas de controle para que isso não ocorra, pois, afinal, é o negócio deles que está em jogo.
Então, de certo modo, com o fim do IBOPE e o apagão que se deu sobre o Vox Populi, que acabou ficando associado ao governo petista (talvez injustamente), o mercado hoje tende a levar muito em conta o trabalho de dois institutos: o DataFolha, de São Paulo (apesar do ódio destilado a ele pelo bolsonarismo de carteirinha), e o IPEC, formado por executivos do extinto IBOPE.
Essa apresentação é importante para justificar o que vem a seguir: esses dois institutos têm feito, regularmente, pesquisas de intenções de voto nas eleições presidenciais e, em alguns casos, também estaduais. O IPEC tem sido contratado pelas emissoras afiliadas da Rede Globo para as pesquisas presidenciais e estaduais, mas a Rede também utiliza os serviços do DataFolha nas pesquisas presidenciais.
Com base nesses dois institutos, o Valor Econômico fez um levantamento que aponta que, em quase a metade dos Estados brasileiros, os governadores vão ganhar no primeiro turno. E entre eles está o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, caminhando para seu terceiro mandato (dois consecutivos). Na última pesquisa divulgada pelo IPEC, no dia 2 de setembro, Renato Casagrande (PSB) liderava com folga as intenções de voto, tanto no método espontâneo quanto no estimulado.
Sem contar que a rejeição de Casagrande é insignificante, sendo resultado do bolsonarismo extremo no Estado. Extremo porque o índice coincide com aquilo que se sabe do percentual de extrema direita no Estado, geralmente identificada com as candidaturas do médico e ex-deputado Humberto Manato ao Governo e do pagodeiro gospel Magno Malta ao Senado.
Nas intenções de voto espontâneas, aquelas manifestadas pelo eleitor de memória, se ser apresentado a uma lista, Casagrande tem 30%, enquanto os outros somados não chegam nem a 20%, com Manato na frente com 10%. Ou seja, de cada quatro eleitores, três declararam o voto espontâneo para Casagrande e apenas um para Manato. Guerino e Audifax aparecem lá atrás com 3%. Nesse método, porém, quase 50% dos eleitores não sabem em quem votar.
O quadro se amplia e os indecisos despencam em mais de 80% quando aos eleitores é apresentada uma lista com os nomes dos candidatos. Renato Casagrande está disparado com 56%, seguido, de longe, por Manato (PL) com apenas 19%. A soma dos adversários chega a apenas 34%. Ou seja, Casagrande vai para a reeleição dando um “capote” nos adversários, como se diz nas mesas de amigos jogando bisca.
Para os institutos, é um quadro de intenções de voto consolidado, o que colocará o governador Renato Casagrande no seleto grupo dos eleitos no primeiro turno, com liberdade para ir a campo ajudar a definir o segundo turno das eleições presidenciais, que também parecem definidas com Lula e Bolsonaro.
Aqui, uma observação: ao contrário de 2018, quando Bolsonaro, no primeiro turno, teve 55% dos votos contra 24% dados a Haddad pelos capixabas (no segundo turno foi 63% a 37%), neste ano a disputa está ponto a ponto, ora Bolsonaro, ora Lula liderando, dentro da margem de erro no Espírito Santo. Portanto, uma vez eleito, o governador Renato Casagrande vai se tornar o maior cabo eleitoral capixaba no segundo turno. (José Caldas da Costa/Weber Andrade)
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