Weber Andrade*
Sempre imaginei como seria a minha vida se fosse uma pessoa endinheirada, cheia da bufunfa. Com esse meu gênio inquieto e crítico, talvez me desse mal com a maioria das pessoas, pois a riqueza poderia enfatizar ainda mais a minha cara de antipático.
Confesso que não gosto muito de jogar conversa fora, sentar em mesa de boteco e falar horas e horas sobre política, futebol e mulheres – assuntos que ainda são os preferidos dos homens.
Gosto de tomar uma cervejinha no final da tarde, se possível, acompanhada de uma dose da marvada e um tira gosto qualquer. É um hábito, já quase um vício.
Há uns dois anos, costumava frequentar uma barraca de churrasquinho aqui no centro de Barra de São Francisco, bem perto de casa. A ‘piriguite’ estava sempre geladíssima e o churrasquinho de carne de boi, mal passado, me agradava muito.
Pois, um belo dia, estava eu sentado na esplanada ao lado do vendedor de espetinhos, já me despedindo da segunda ‘braminha’, quando se senta ao meu lado, sem pedir licença, um senhor moreno, quase careca, mas ainda com alguns fios lisos a escorrer pelo nuca, óculos de grau, roupas sociais, limpas mas simples.
Não me lembro bem qual o assunto ele puxou. Ou melhor, lembrei agora, era sobre o calor e, depois, sobre as grandes mudanças pelas quais Barra de São Francisco passou nas últimas duas décadas, principalmente, o crescimento desordenado, vertiginoso…
Depois falamos sobre nossas origens e como começamos a ganhar a vida. Contei a ele sobre o meu primeiro emprego, no extinto Supermercado Mol, aqui em Barra de São Francisco, a minha amizade e admiração pelo senhor Josemin Mol, que era quem cuidava da área alimentar do grupo familiar mantenense, que também já trabalhava com a revenda de veículos da Volkswagen naquela altura, por volta de 1978.
Ele então me contou que seu primeiro emprego também foi com a família Mol, na extinta Mercantil de Cereais, ou seja, com o mesmo Josemin Mol que me contratara anos depois.
Riu-se muito, quando disse que arrumei minha primeira namorada, lá em Ecoporanga, fiando-me na mentira de que era filho do dono dos supermercados Mol.
E riu-se mais ainda quando contei que um amigo de lá, também de família abastada, quando me viu um dia pedalando uma bicicleta de carga pela avenida Jones dos Santos Neves, fazendo entrega de compras, espantou-se com a “crueldade” do meu pai rico, que me fazia trabalhar daquela forma.
O meu interlocutor revelou que também entregou muitas compras em bicicleta de carga para os fregueses do extinto Armazém Mol, em Mantena. “Mas na minha época, as caixas onde colocávamos as compras ainda eram de madeira”, comentou.
Depois de muitas risadas e de descobrirmos várias coisas em comum, eu resolvi perguntar o nome do simpático senhor e ele me respondeu secamente: Alair. Questionei um pouco mais e ele me revelou o sobrenome: Costa.
Foi aí que me dei conta de que estava conversando com uma das pessoas mais bem sucedidas financeira e socialmente da região. Isso mesmo, o poderoso Alair Costa, dono da rede de lojas Universal, hotel e tantos outros empreendimentos, estava ali sentado ao meu lado – até pagou-se uma piriguete – conversando despretensiosamente.
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