A Polícia Federal revelou que o número de passaportes emitidos na pequena Mantenópolis, na região noroeste do Espírito Santo, com cerca de 15 mil habitantes, pode chegar a 4 mil, nos últimso dois anos.
Segundo um delegado da PF, em entrevista ao Fantástico, da Rede Globo, os 400 pedidos de passaporte identificados em um escritório de despachante não refletem a realidade. De acordo com ele, grande parte dos interessados em emigrar para os Estados Unidos costumam pedir (agendar) a retirada do passaporte por meios próprios.
No entanto, o fato do escritório do despachante ter feito tantas solicitações, o coloca como suspeito de estar agindo em conluio com os coiotes, na preparação de documentos para ‘legalizar’ a viagem aos EUA.
Cuparaque
Se Mantenópolis é a bola da vez, na questão da migração ilegal, municípios vizinhos em Minas Gerais não ficam para trás. Cuparaque (MG), que fica a pouco mais de 20 quilômetros de Mantenópolis, é responsável por boa parte dos aventureiros e aventureiras que costumam ‘investir’ cerca de US$ 30 mil (em torno de R$ 170 mil) para entrar nos Estados Unidos.
“Compensa. No Brasil não tem mais jeito de viver, a gente trabalha, trabalha e não consegue nada. Dei uma terrinha de dois alqueires para eles (coiotes) me trazerem para cá, nem quis pagar a terra não. Brasil nunca mais”, jura um aguadocense que conseguiu entrar nos EUA pelo México há pouco mais de dois meses.
Segundo ele, o ganho diário nos EUA é de US$ 80, no mínimo. “Eu trabalho 22, 23 dias por mês, dez a 12 horas por dia. faça as contas: No final do mês eu ganho quase dez mil reais sem fazer muito esforço, lavando pratos, limpando banheiros, e daí?”
Sob condição de anonimato, um morador de Mantenópolis, que já tem vários familiares nos EUA e está se preparando para viajar, disse que o esquema atual, de levar crianças, passa por muita gente em Governador Valadares, Mantena e outros municípios.
“O mais difícil é ‘arrumar’ a documentação das criança. No meu caso, sou separado e preciso da assinatura da minha ex-mulher para levar meu filho comigo e vou ter que pagar para ela assinar, além de pagar mais US$ 25 mil ao coiote”, revela ele.
Migração ilegal no Brasil
A região leste de Minas e o noroeste do Espírito Santo são protagonistas de uma série de reportagens que o Fantástico, da Rede Globo, lançou ontem, 12, sobre o tráfico de pessoas, crime que, só este ano, movimentou R$ 8 bilhões no Brasil, segundo a estimativa da Polícia Federal. A organização, nas duas últimas duas semanas, realizou operações junto com a Interpol em busca de quadrilhas que fazem da imigração ilegal um negócio.
Ao todo, 216 pessoas foram presas em 34 países, alvos de uma operação internacional da Polícia Federal e da Interpol.
Para fugir da fiscalização, os bandidos mudaram de estratégia e agora estão criando famílias de mentira para facilitar a entrada clandestina de imigrantes nos Estados Unidos.
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Em Mantena (MG), nossa reportagem conversou com várias pessoas que confirmaram ter ‘alguns’ coiotes’ atuando na cidade e na região, muitos deles, ricos hoje. “É o caso de um que chegou a ser candidato a prefeito numa cidade da região. Vários desses coiotes já foram prefeitos aqui, como o de Central de Minas (Genil da Mata), que morreu no acidente de avião”, conta um morador.
“O esquema agora, é levar crianças para passar (na fronteira do México com o EUA)”, diz ele à nossa reportagem, confirmando a matéria do Fantástico.
Ainda segundo a fonte, algumas pessoas hoje, na cidade trabalham como despachantes, buscando ‘arrumar’ os documentos necessários para que os pais, ou um deles, consiga autorização para viajar ao exterior com o filho.

https://globoplay.globo.com/v/10122201/
O Fantástico teve acesso com exclusividade a detalhes da investigação, áudios dos criminosos e escutas telefônicas autorizadas pela Justiça. A reportagem especial é de Mohamed Saigg, Raphael Nascimento e Pedro Figueiredo.
Crianças alugadas. Casamentos arranjados. Famílias de mentira. Estratégias utilizadas por traficantes de pessoas para driblar as novas regras migratórias dos Estados Unidos.
O programa conta a história de uma suposta família – formada por um casal e um filho – que decidiu tirar passaportes. Os agentes perceberam que 9 meses antes do nascimento da criança, a mãe estava nos Estados Unidos e o pai no Brasil. O menino foi registrado em Cuparaque – uma pequena cidade de cerca de 5 mil habitantes no interior de Minas Gerais. (Da Redação com g1)
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