O produtor rural Celio Lobato (Foto acima), morador de Cedrolândia, distrito de Nova Venécia, já definiu qual será o prato principal da ceia de Natal em sua casa: Javaporco assado inteiro. Pecuarista e cafeicultor, Celio conta que conheceu a carne de javaporco há muitos anos e gostou do sabor, da textura, da suculência do bicho, mistura do selvagem javali com o porco doméstico, como o próprio nome indica.
Ele e o filho têm uma vara de javaporcos e javalis, cerca de 20 cabeças e criam para consumo próprio, mas também vendem para fora e com um preço até atraente: R$ 20 o quilo, mas só vendem porcos inteiros, leitões de cerca de 15 a 20 quilos.
“Eu passei a criar lá na propriedade, comprei um casal de javalis e comecei a fazer o cruzamento, mas tive que vender o macho, que estava me dando muito trabalho, salta cerca de quase dois metros de altura. Vendi para um amigo meu que disse que eu não sabia cerca o bicho. Levou para sua propriedade e fomos tomar uma cerveja, daí a pouco o javali estava andando livre pelo meio da estrada”, conta.
Célio revela ainda que cria os javalis soltos. Eles vão para o mato, somem um, dois dias, mas depois voltam. As fêmeas criam dois, três javalis por vez, por isso é preferível cruzar as porcas, que criam mais.
Ele conta ainda que a criação de javaporco tem crescido muito na região norte do Espírito Santo e também em Minas Gerais e não teme que haja uma ‘explosão’ da espécie, que já está sendo investigada pelo Ibama.

Invasão
No início de outubro deste ano, a secretária de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Lislei Batista, recebeu agentes do Ibama, preocupados com uma possível invasão de javalis e javaporcos nos municípios capixabas que fazem divisa com Minas Gerais.
Os agentes alertaram, principalmente, para o fato de que esses animais, por terem se tornado asselvajados e pelo costume de andar em bandos, podem facilmente machucar e até matar um ser humano.
“Não há motivo para pânico, eles podem chegar logo, daqui a um ano, mas o certo é que eles vão acabar chegando por aqui, segundo os agentes do Ibama”, destaca Lislei.
Para passar quaisquer informações os telefones são (27) 3756-7287 / (27) 99575-6838.
Trazidos para o Brasil na década de 1990 para dar início a uma criação comercial, os javalis se tornaram uma praga em boa parte do território nacional. Em Minas Gerais, segundo o Ibama, são quase 200 municípios com registro do animal, que se tornou um asselvajado. O número confere ao Estado o terceiro lugar na lista de Estados com maior incidência de javalis. Em muitas cidades, especialmente nas regiões do Sul de Minas, Alto Paranaíba e Triângulo, a situação tem causado vários prejuízos.
Sessenta e quatro delas estão classificadas com prioridade extremamente alta para a prevenção, no aspecto ambiental. Elas possuem áreas com flora e fauna mais sensíveis e espécies endêmicas ou ameaçadas de extinção. E, até bem próximo à Capital, o suíno já foi encontrado. Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), já registrou o abate de um animal.
Os animais, que estão se reproduzindo de forma descontrolada por não terem predadores naturais no País, trazem problemas relativos ao assoreamento de nascentes, pisoteamento de culturas e até ataques a outros animais e pessoas. A maior preocupação, porém, talvez seja a possibilidade de volta da Peste Suína Clássica (PSC).

Caça
O crescimento descontrolado dos javalis levou o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) a ensinar aos caçadores legalizados técnicas de coleta e encaminhamento de amostras de sangue para que seja possível monitorar problemas sanitários que tragam risco à atividade pecuária. O órgão é executor da defesa sanitária animal em Minas e realiza treinamento sobre vigilância sorológica para Peste Suína Clássica.
Segundo a coordenadora de Sanidade Suína do IMA, Júnia Mafra, além da peste suína clássica, o javali pode transmitir outras doenças, inclusive para o ser humano. “Os javalis são animais asselvajados que colocam em risco fauna, flora e seres humanos. Hoje somos uma área livre da PSC e os estados nossos vizinhos também são. Essa é uma barreira importante, mas não podemos diminuir a vigilância. Uma volta da doença não é provável, mas, se isso acontecer, teremos problemas para exportar. Minas é o quarto maior rebanho suíno do Brasil”, explica Júnia Mafra.
Desde 2015, o órgão realiza cursos junto a clubes de tiro para orientar caçadores sobre a vigilância da PSC, informando sobre as zoonoses que podem ser transmitidas e reforçando as diferenças entre os suídeos (suínos e javalis) e tayassuídeos (cateto e queixada). A caça só pode ser realizada por atiradores autorizados pelo MMA e o Exército.
“Quando damos o curso, repassamos todo o material para os caçadores para que façam uma coleta segura e de modo a preservar a amostra. Também os preparamos para verificarem sinais ou suspeitas sanitárias. Essa coleta é voluntária. É importante lembrar que a caça só é permitida para pessoas autorizadas. Um caçador sem preparo pode colocar outras espécies em risco – temos algumas nativas bem parecidas –, outras pessoas e se contaminar com diferentes doenças”, alerta a coordenadora de Sanidade Suína do IMA. (Da Redação com IMA)
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