
Há seis anos, quando as regiões Norte e Noroeste capixabas enfrentavam uma das secas mais severas de sua história, o Ministério do Meio Ambiente cravava: 36% do território capixaba, ou seja, 16.679 quilômetros quadrados, já se constituíam em solo de sertão, o que, fora do Nordeste brasileiro, somente ocorre em Minas Gerais e no Espírito Santo.
Iniciou-se um programa de construção de barragens para oferecer segurança hídrica a quase 1 milhão de pessoas que habitam a área, compreendida por 24 municípios acima do rio Doce. Um deles, Barra de São Francisco, ganhou uma dessas barragens, mas, quatro anos depois da obra concluída, o problema continua.
O Brasil está enfrentando, neste momento, a maior estiagem dos últimos quase 100 anos e o nosso sertão não está diferente. Mas resta uma esperança, que brota no município que tem na extração de rochas ornamentais, hoje, sua maior riqueza, mas tenta resgatar aquilo que o sustentou até 30 anos atrás, quando o granito começou a ser explorado.
Água do subsolo
A boa-nova não precisou de propaganda: na última sexta-feira, 8, a água jorrou com fartura, à razão de 68 mil litros por hora, na perfuração do primeiro de 15 poços artesianos contratados pela Prefeitura do município. Um investimento baixo para o tamanho do benefício: apenas R$ 90 mil em recursos próprios.
O resultado foi acompanhado pelo próprio prefeito Enivaldo dos Anjos, que passou um bom tempo no PDT, antes de desfiliar-se para ser conselheiro do Tribunal de Contas do ES e, uma vez aposentado, sem encontrar mais a mesma identidade no partido, acabou aceitando o convite de Gilberto Kassab para fundar o PSD no Estado e, pela legenda, conquistar mais dois mandatos de deputado e, agora, de novo prefeito, depois de 30 anos que governou o município pela primeira vez.
“Vamos investir esses R$ 90 mil e garantir um reforço de 250 mil litros de água por hora ao município, para abastecimento de casas na sede e em todos os distritos, e irrigação de lavouras de café, ainda nossa principal cultura agrícola e que sustenta milhares de pessoas”, disse o prefeito.
Essa medida, além de aproveitar o que o subsolo oferece, ainda evita um ambiente muito próprio à corrupção: a costumeira utilização de carros-pipa, que, principalmente, no Nordeste do País revela-se cara e um campo minado, e não é de hoje. Em 2013, um major e um sargento do Exército foram condenados, junto com um condutor de carro-pipa, por terem feito parte de um esquema de corrupção no abastecimento de água na cidade de Choró, a 155,7 km de Fortaleza. O crime ocorreu em 2008.
A solução de São Francisco pode ser um bom exemplo a ser copiado por outros municípios. Afinal, o Espírito Santo já tem mais municípios em processo de desertificação do que Estados nordestinos como Rio Grande do Norte (3), Paraíba (11), Pernambuco (6), Alagoas (7) e Sergipe (14), conforme reportagem do jornalista Patrick Camporez, em A Gazeta (2016). Ele mesmo nascido em um desses municípios capixabas, Vila Valério. Hoje, Patrick é repórter da revista Época em Brasília.
Economia e fartura
O prefeito Enivaldo dos Anjos disse que cada poço artesiano vai custar ao município R$ 15 mil e, na média, a expectativa é de que tenham uma vazão de 16 mil litros de água por hora. “O primeiro, que vai irrigar o hortão municipal e abastecer o complexo que estamos construindo na Vila Industrial, com área de eventos e curral para exposição de animais, deu 68 mil litros de água com 60 metros de profundidade. Mas nem todos são iguais”, disse o prefeito.
Para se ter uma ideia do que um poço artesiano representa de vantagem equivalente, em termos de economia e produtividade, em 2014 quando São Paulo enfrentava uma grave estiagem, com o comprometimento de seus reservatórios a níveis críticos – atualmente, o quadro está pior -, um caminhão-pipa com 20 mil litros de água era vendido por até R$ 3 mil.
“Já estamos com outro poço perfurado também na área da Cachoeira do Granito e vai garantir o abastecimento do balneário para servir às pessoas com segurança. Vamos fazer o mesmo em todos os nossos distritos e também na sede. Queremos alternativa de abastecimento para garantir segurança hídrica para a população. Ademais, já estamos visando o futuro, pois temos uma perspectiva de aumento da população por causa dos projetos de duas ferrovias e de duplicação da BR 381 e não podemos ser surpreendidos. Temos que estar prontos”, acrescentou Enivaldo. (Da Redação com José Caldas da Costa)
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