Durante a apuração para meu livro sobre a resistência, entre militares expurgados em 1964, ao regime autoritário que se impôs ao País por 21 anos, um dos personagens me contou por que rasgou em 24 horas a ficha de filiação ao Partido Comunista.
Isso me veio à mente quando li a mais recente pesquisa da Quest revelando quem são os 19% de brasileiros que apoiam o tarifaço imposto por Donald Trump ao Brasil: homens, de todas as classes sociais, eleitores de Jair Bolsonaro e que se identificam como de direita.
Voltando às minhas pesquisas, Araken Vaz Galvão, que morreu há pouco mais de um ano, contou que estava num “aparelho” na Penha, no Rio de Janeiro, em 1966, a caminho do Caparaó, quando estava torcendo pela Seleção Brasileira contra a Hungria comunista e um “companheiro” o censurou.
“Rasguei na hora minha ficha de filiação. Não estava naquilo contra o Brasil, mas a favor do Brasil”, disse-me Araken, que terminou seus dias como Capitão da reserva do Exército Brasileiro, do qual foi expulso como sargento.
O golpe de 1964, embora apoiado pelos Estados Unidos, que chegaram a deslocar frotas em direção ao continente sul-americano (Operação Brother Sam), a pedido de empresas americanas com negócios no Brasil, foi feito por nacionalistas.
Aliás, o choque em 1964 era de ideologias nacionalistas: de um lado, nacional-desenvolvimentismo, que pensava a economia na frente do social; do outro, o nacional-progressismo, que pensava o social na frente da economia.
Por isso, soa extremamente estranho um movimento “patriota” que defende o prejuízo para o Brasil e os brasileiros, em defesa de interessses imperialistas norte-americanos.
Político que almeje conquistar os votos dos brasileiros precisa, antes de tudo, defender os interesses do Brasil.
José Caldas da Costa, Da Redação
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