Uma organização criminosa com atuação estruturada, nos mesmos moldes das milícias que controlam comunidades no Rio de Janeiro, foi o alvo na manhã desta sexta-feira (09.05) da “Operação Selati”, coordenada pela Polícia Federal no âmbito de atuação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado do Espírito Santo (Ficco/ES), nos municípios de Cariacica e Viana, na Região Metropolitana da Grande Vitória.
As medidas foram autorizadas com base em investigação que revelou a existência de um grupo criminoso com atuação no tráfico de drogas, comércio ilegal de armas, lavagem de dinheiro e atuação clandestina no ramo da segurança privada armada.
A operação foi deflagrada após a 3ª Vara Criminal de Viana/ES expedir um conjunto de medidas cautelares, incluindo sete mandados de prisão temporária, sete mandados de busca e apreensão domiciliar, além de sequestros de bens móveis e imóveis. Também foi determinado o bloqueio de contas bancárias, aplicações financeiras e ativos patrimoniais, com valor total estimado em R$ 2,6 milhões.
As investigações foram desencadeadas a partir da prisão em flagrante por posse ilegal de armas de um dos integrantes, momento em que surgiram elementos indicando a existência de uma estrutura criminosa articulada. Mesmo após sua detenção, verificou-se a manutenção das atividades ilícitas, que passaram a ser geridas de dentro do sistema prisional.

ADVOGADOS
Durante a investigação, foi identificada a existência de núcleos, cada um com funções específicas. No núcleo gerencial, verificou-se que, após a prisão em flagrante realizada, a coordenação operacional passou a ser exercida por outros integrantes, com o apoio de subordinados responsáveis pela logística e transporte dos entorpecentes.
No núcleo técnico, foram identificados advogados que, de forma consciente e reiterada, atuavam como intermediários para o repasse de ordens criminosas entre o líder preso e os demais membros. Já o núcleo financeiro era responsável pela sustentação econômica da organização, ao movimentar e produzir recursos financeiros por meio dos negócios ilícitos.
O nome da operação, “Selati”, faz referência a uma coalizão de leões do Parque Nacional Kruger, na África do Sul, conhecida por encerrar o domínio do grupo rival chamado “Mapogos” — codinome adotado por um dos principais alvos da investigação.
A Força Integrada de Combate ao Crime Organizado do Espírito Santo (FICCO/ES), coordenada pela Polícia Federal (PF), é composta pelas Polícias Militar (PMES), Civil (PCES), Penal (PPES), pela Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN), e pelas Guardas Municipais de Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica e Viana.
A Polícia Federal não estabeleceu correlação entre os fatos, mas no meio da semana fiscalizou, no Espírito Santo, cinco empresas de curso de formação de Vigilantes, sendo duas no município de Cariacica/ES, uma no município da Serra/ES, uma no município de Cachoeiro de Itapemirim e uma no Município de São Mateus. Foram lavrados dois autos de constatação de infração com fixação de multa.
MILICIANO NO SUL
Há pelo menos duas décadas há registro da atuação miliciana no Sul do Espírito Santo. O assunto veio à tona com a descoberta de que o miliciano Gilbert Wagner Antunes Lopes, o “Batman”, que foi policial no Estado do Rio de Janeiro, mandou matar um vereador da região, que “atravessou” seu caminho e tem ascendência sobre administradores públicos.
O vereador Marcos Augusto Costalonga (PL), de 49 anos, conhecido como Marquinhos da Cooperativa, foi assassinado no dia 27 de maio de 2021, na localidade de Alegria, interior do município.
Mais recentemente, estourou um escândalo na cúpula da Polícia Civil do Espírito Santo, que resultou na exoneração do delegado João Francisco Filho, Superintendente de Inteligência da Polícia Civil (em síntese, responsável pelas investigações feitas pelos CIAT – Centro de Inteligência e Análise Telemática, que tem sido a principal ferramenta da Polícia Civil do Espírito Santo na prisão “qualificada” de líderes de organizações criminosas no Estado.
Um despacho do promotor Adelcion Caliman nos autos de investigação contra o comportamento do delegado apontam que o ex-superintendente estaria “ajudando na fuga de Gilbert Wagner Antunes Lopes: “(…) Por várias vezes as autoridades foram informadas de que João Francisco foi pessoalmente até o Promotor de Justiça de Presidente Kennedy, Elion Vargas, para pedir que a prisão de Waguinho fosse revogada e sugerir delação premiada para ele”.
Para agravar a situação, cita o promotor: “Mas agora, o próprio Waguinho Batman afirmou em interrogatório, colhido no processo de Pronúncia n° 50005114820248080041, que o Superintendente de Inteligência foi à Comarca interceder por ele. Todas as vezes que a Polícia Civi chega perto de prender esse Miliciano Foragido, João Francisco Filho o avisa para que ele fuja (…)”. (Da Redação com SPF/ES)
Miliciano foi secretário em Marataízes mesmo depois de ter sido preso por comandar quadrilha
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