Pelo menos uma autoridade da segurança pública estadual admitiu, após publicação da reportagem da Tribuna Norte-Leste sobre as evidências da presença de facções no Norte e Noroeste do Espírito Santo, que existe, sim, controle de movimento do tráfico de drogas por delinquentes faccionados na região.
O superintendente regional Norte da Polícia Civil, delegado Fabrício Dutra, não apenas confirmou como mapeou a atuação dessas facções em sua jurisdição, que vai de Fundão a Pedro Canário, na faixa mais leste do Espírito Santo, incluindo todos os municípios litorâneos, Vila Valério e Rio Bananal.

“Temos problema de efetivo reduzido, que o governador está tentando resolver, o exército das organizações criminosas é muito maior do que nosso contingente, mas estamos do lado da lei e duvido que eles tenham mais garra do que nós”, disse Dutra, que monitora a movimentação de criminosos que atuam no Sul da Bahia e sua incursão no Espírito Santo.
As informações colhidas indicam a presença de facções criminosas em diversos municípios da SPRN, sendo em atuação direta, ou como fornecedores de Grupos de Criminosos Locais.
Em ambos os casos, elas acabam por influenciar nos conflitos por disputa de território, informa o supeirntendente.
INTELIGÊNCIA
Desde que foram implantados os CIATs (Centros de Inteligência e Análise Telemática), o trabalho de inteligência policial se aperfeiçoou e tem possibilitado ações mais assertivas.
Para mapear a atuação das facções, o CIAT Norte faz uma meticulosa análise das ocorrências.
“A gente olha ocorrência por ocorrência da Polícia Militar, investigações da Polícia Civil, faz entrevistas, cruza dados, um trabalho sigiloso, delicado e desgastante, porque tem que entender e montar o quadro para mostrar onde, efetivamente, eles atuam”, disse Dutra.
De acordo com o superintendente, o PCV atua junto com o Comando Vermelho, então, onde tem PCV tem a organização carioca.
“O PCV é muito forte em Vitória, mas está enfrentando cisão interna, porque há um grupo que não aceita as novas lideranças, depois da prisão de Fernando Marujo e outras lideranças antigas. Chega no interior, é a mesma coisa”, observou.
De acordo com o supeirntendente, em alguns lugares o Comando Vermelho entra direto:
“Em São Mateus, o PCC (Primeiro Comando da Capital) está muito forte, assim como o BDM (Bonde dos Malucos) em Salvador, mas no Suil da Bahia já há outras facções entrando. Monitoramos a movimentação deles e no ano passado prendemos um a liderança grande do BDM em Guriri, São Mateus”.
A prisão desse “peixe grande” em Guriri ocorreu no dia 10 de abril do ano passado, na “Operação Arktos”, deflagrada pela Polícia Civil do Espírito Santo, com apoio da PM e da Polícia Federal, é participação de policiais baianos.
O indivíduos de 39 anos era procurado pelas autoridades baianas por liderança do BDM e envolvimento em diversos homicídios qualificados, um deles contra um policial federal.
A investigação coordenada pelo Departamento de Investigação Criminal (Deic) da Polícia Civil do Estado da Bahia (PCBA) e pela Força Integrada de Combate à Corrupção e Organização Criminosa (FICCO/BA) da Polícia Federal apontou para uma possível localização do criminoso na cidade de São Mateus.
O homem preso era Daniel dos Santos Silva, também conhecido como Wolverine ou Vovô Urso.
E não foi por acaso. Os levantamentos da Polícia Civil apontam que o BDM já está presente no Espírito Santo, ocupando território em Linhares, onde disputa áreas com grupos locais e com o PCV/CV.
Na conversa com policiais capixabas, o indivíduo preso em Guriri revelou que já estava no Espírito Santo há mais de um ano, inclusive sob proteção de gente conhecida na região. “Aproveitou” para estabelecer uma base em Linhares, onde ficou durante esse tempo (veja mapa acima).
VIOLÊNCIA NO CARNAVAL
O BDM é uma organização que se utiliza de muita violência para controlar o tráfico de drogas em Salvador. A recente onda de violência que resultou em 12 mortes em Fazenda Coutos, bairro de Salvador (BA), na terça-feira de Carnaval (04/03), é consequênica da disputa territorial de facções, entre elas, o Comando Vermelho (CV) e o Bonde do Maluco (BDM) — duas das principais organizações criminosas da Bahia.
Segundo as investigações, três integrantes do BDM se aliaram com o CV e com A Tropa, outra facção dominante na área. Essa traição interna acabou enfraquecendo o domínio do BDM em áreas estratégicas, o que facilitou a invasão de territórios que antes estavam sob seu controle. Segundo testemunhas, os invasores chegaram a pichar muros com a sigla do CV para marcar território.
A Polícia Militar da Bahia foi acionada e, ao chegar ao local, confrontou os suspeitos, que estavam fortemente armados. O embate resultou na morte de 12 integrantes do CV na madrugada da terça-feira de carnaval (04/03). (Da Redação)
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